A Aliança de Vacinas lançou hoje, numa cimeira em Paris, o Acelerador Africano de Fabricação de Vacinas (AVMA), um fundo criado para este continente ser autossuficiente em vacinas, após evidências da desigualdade perante a pandemia da covid-19.
"África tem de encontrar soluções para si própria. De facto, a segurança sanitária e as vacinas e a soberania têm de ser conquistadas", disse o Presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, salientando que "a independência dos povos africanos está profundamente ameaçada" se não forem atingidos os objetivos da agenda 2026-2030.
Salientando que o continente africano "importa 99% das vacinas, a preços muito elevados", Mahamat afirmou que, com a aposta no AVMA, "3 mil milhões de dólares [2,8 mil milhões de euros] podem ser poupados ao produzir vacinas a nível local".
No Fórum Mundial sobre Inovação e Soberania das Vacinas, organizado pela França, União Africana, Aliança Global para as Vacinas e Imunização (Gavi) e Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África), foram apresentadas novas parcerias e novas vacinas.
A União Africana estabeleceu o objetivo de cobrir 60% das necessidades de vacinas através da produção local até 2040, com base no plano estratégico que os membros e doadores se comprometem a cumprir, o qual prevê introduzir vacinas contra 20 doenças e a reforçar a soberania sanitária do continente.
Para isso, a Aliança para as Vacinas "vai precisar de 9 mil milhões de dólares [8,4 mil milhões de euros]" para a nova campanha de financiamento dos programas de vacinação de 2026 a 2030, que têm como objetivo vacinar mais mil milhões de crianças, de acordo com a diretora da Gavi, Sania Nishtar.
José Manuel Durão Barroso, presidente do conselho de administração da Gavi, em entrevista à Lusa, na quarta-feira, revelou que mil milhões de dólares (930 milhões de euros) que sobraram da luta contra a covid-19 serão aplicados no AVMA, num importante passo para a autossuficiência do continente nesta matéria.
Durante a sua intervenção no fórum, Durão Barroso referiu que "uma criança nascida hoje tem mais hipóteses de celebrar o seu 5.º aniversário do que alguma vez na história", mas "ainda há milhões de crianças que nunca foram vacinadas contra uma única doença", enquanto "centenas de milhões de outras precisam de ter acesso a mais vacinas".
O Presidente francês, Emmanuel Macron, declarou, na abertura do evento, que o AVMA será "um elemento essencial para a criação de um verdadeiro mercado africano de vacinas".
"Há um longo caminho a percorrer", afirmou Macron, instando os países africanos a criarem estratégias nacionais, "uma das lições da pandemia" da covid-19, pois, "se não existir uma estratégia nacional forte, as estratégias internacionais não são eficazes".
Para Macron, a epidemia global de cólera, que atingiu metade do continente africano, é "a ilustração mais nítida" da necessidade de continuar com a Aliança.
Assim, anunciou que o fundo lançado hoje, que conta com 100 milhões de euros doados por França, irá apoiar investimentos numa "cadeia de fabrico de vacinas contra a cólera" em África, através do parceiro BioVac.
Na cimeira estiveram presentes quatro líderes africanos (Botswana, Ruanda, Senegal e Gana), ministros e representantes de organizações internacionais, empresas farmacêuticas, institutos de investigação e bancos.
Durante o evento, várias figuras da política internacional anunciaram os seus compromissos para com a iniciativa através de vídeos, como aconteceu com o Chanceler alemão, Olaf Scholz, que declarou que a Alemanha se compromete com "318 milhões de dólares" para este mecanismo.
Jill Biden, primeira-dama dos EUA, anunciou que Joe Biden, Presidente dos EUA, juntamente com o Congresso norte-americano, entregará 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) nos próximos cinco anos para apoiar os esforços da Gavi.
Por seu turno, David Cameron, secretário de Estado do Reino Unido para os Assuntos Externos e a Commonwealth britânica anunciou um apoio de 60 milhões de dólares (56 milhões de euros), salientando que o AVMA "faz sentido, pois é essencial construir a capacidade de produzir vacinas em todos os mercados e em todos os continentes".
Existem outros financiadores como o Canadá, a Noruega, o Japão e a Fundação Bill Gates, que fará uma doação adicional de 30 milhões de dólares (28 milhões de euros).
Também a União Europeia anunciou hoje uma contribuição de mais de 750 milhões de euros para a produção de vacinas em África, em que quase 220 milhões de euros são provenientes do orçamento do bloco europeu e a restante verba de Estados-membros participantes: Alemanha, França, Irlanda, Itália e Luxemburgo.