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Guerra no Médio Oriente. A escalada do conflito ao minuto

Ação "defensiva". Estados Unidos e Reino Unido bombardeiam posições dos Houthis no Iémen

por Rachel Mestre Mesquita, Carlos Santos Neves - RTP
Os Houthis, que controlam a maior parte do território iemenita, têm visado as rotas do Mar Vermelho “em solidariedade” com os palestinianos US Central Command via Reuters

Forças norte-americanas e britânicas desencadearam, na última noite, uma vaga de bombardeamentos contra alvos conotados com os rebeldes Houthis em território do Iémen. Washington e Londres descrevem estes ataques como uma resposta às ações do grupo apoiado pelo Irão contra o transporte marítimo internacional, desde o final do ano passado, no Mar Vermelho. A Rússia solicitou já uma reunião, com caráter de urgência, do Conselho de Segurança das Nações Unidas e o Irão condenou Estados Unidos e Reino Unido, acusando-os de promover “a insegurança e a instabilidade”.

Depois do aviso deixado pela Casa Branca e pelo Número 10 de Downing Street, as forças norte-americanas e britânicas deram início ao bombardeamento de várias posições associadas aos rebeldes Houthis do Iémen.

Os Houthis, que controlam a maior parte do território iemenita, têm visado as rotas do Mar Vermelho para mostrar o seu apoio ao movimento radical palestiniano Hamas na guerra na Faixa de Gaza.O grupo rebelde prometeu atacar navios ligados a Israel ou com destino a portos do Estado hebraico, embora muitos dos navios visados não tenham ligações a interesses israelitas.


Os ataques no Mar Vermelho têm perturbado o comércio internacional, naquela que é a principal rota entre a Europa e a Ásia, representando cerca de 15 por cento do tráfego marítimo mundial.

Estes serão os primeiros ataques protagonizados pela máquina de guerra norte-americana contra os Houthis, no Iémen, desde 2016. Na quinta-feira, o líder dos Houthis afirmava que qualquer ataque ao grupo teria resposta.
Os alvos designados por norte-americanos e britânicos, cujas marinhas de guerra patrulham, desde dezembro, as águas do Mar Vermelho, incluíram locais na capital iemenita, Sanaa, e na cidade portuária de Hodeida, assim como nas cidades de Taez e Saada.

A operação, confirmou a Casa Branca, foi levada a cabo “com sucesso” e constituiu uma resposta “direta aos ataques sem precedentes dos Houthis contra navios internacionais no Mar Vermelho”. O gabinete do presidente norte-americano, Joe Biden, sublinhou tratar-se de uma ação “defensiva” destinada a proteger o comércio internacional.

“Estes ataques são uma mensagem clara de que os Estados Unidos e os nossos parceiros não vão tolerar ataques contra as nossas tropas, não permitirão que atores hostis coloquem em perigo a liberdade de navegação através de uma das rotas comerciais mais importantes do mundo”, reforçou Biden.

Também do gabinete do primeiro-ministro britânico saiu uma nota a procurar justificar os bombardeamentos. No texto, lê-se que "os Houthis têm realizado dezenas de ataques sem precedentes a navios no Mar Vermelho, durante um período prolongado". Segundo o porta-voz militar dos Houthis, Yahya Sarea, Estados Unidos e Reino Unido lançaram 73 ataques contra diferentes províncias iemenitas, causando as mortes de pelo menos cinco combatentes e ferimentos a outros seis.

"Os navios de bandeira britânica, bem como os navios de muitos outros Estados, têm sido alvo desses ataques. A 9 de janeiro um ataque contra o HMS Diamond envolveu vários drones. O Governo avaliou que os ataques terão continuidade. a menos que sejam tomadas medidas para dissuadi-los", prossegue o Número 10.

"A intervenção militar para atacar alvos cuidadosamente identificados, a fim de reduzir eficazmente as capacidades dos Houthi e impedir novos ataques, foi legalmente tomada. Era necessário e proporcionado responder aos ataques dos Houthis e este era o único meio viável disponível para lidar com tais ataques".


"O Reino Unido está autorizado, ao abrigo do Direito internacional, a usar a força quando a legítima defesa é o único meio viável de lidar com um ataque armado real ou iminente e onde a força utilizada seja necessária e proporcional. Foi o que aconteceu", afirma ainda o gabinete de Rishi Sunak, para concluir: "O Governo notificará o Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre as medidas que tomou ao abrigo do Artigo 51.º da Carta das Nações Unidas".
Drones e mísseis. Houthis respondem

Na passada terça-feira, três contratorpedeiros norte-americanos, um vaso britânico e caças do porta-aviões dos Estados Unidos Dwight D. Eisenhower haviam abatido pelo menos 18 drones e três mísseis lançados pelos Houthis a partir do Iémen.

No périplo que protagonizou esta semana no Médio Oriente, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, deixou um aviso aos rebeldes pró-iraniano. Em simultâneo, o Conselho de Segurança da ONU exigia um travão “imediato” a aos ataques contra o tráfego marítimo.

Ainda assim, os Houthis lançaram, na quinta-feira, mais um míssil no Mar Vermelho, precipitando os rumores de uma intervenção iminente da aliança naval encabeçada pelos Estados Unidos.


Já esta madrugada os rebeldes terão lançado mísseis de cruzeiro e balísticos contra vasos de guerra dos Estados Unidos e do Reino Unido no Mar Vermelho, em retaliação pelos bombardeamentos. Este dado foi adiantado por fonte dos Houthis à agência espanhola Efe.

"O nosso país tem sido alvo de agressões massivas por parte de navios, submarinos e aviões de guerra norte-americanos e britânicos e não há dúvida de que os Estados Unidos e o Reino unido terão que estar preparados para pagar um preço alto", acentuou na rede social X o vice-ministro dos Negócios Estrangeiro Houthi, Hussein al Ezzi.
Rússia pede reunião do Conselho de Segurança
Moscovo pôs entretanto em marcha os procedimentos, em Nova Iorque, para suscitar uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas dedicada aos últimos acontecimentos no Iémen. Diligências anunciadas pela missão permanente da Rússia junto da organização.
Rita Fernandes - Antena 1

Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão veio “condenar fortemente” os bombardeamentos sobre posições dos Houthis. “Estes ataques”, reagiu Nasser Kannani, porta-voz da diplomacia iraniana, “são uma clara violação da soberania e integridade territorial do Iémen e uma quebra das leis internacionais”.

Da Arábia saudita saiu um apelo à “contenção”, sem quaisquer declarações expressas de apoio ou repúdio.

c/ agências internacionais
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