Abu Mohammed al-Jolani, o radical pragmático. Quem é o líder dos rebeldes sírios?
Depois de os rebeldes sírios anunciarem que tomaram o domínio da capital Síria, Abu Mohammed al-Jolani, extremista que tem tentado adotar uma postura mais moderada, discursou na famosa mesquita dos Omíadas em Damasco. Mas quem é o líder da aliança rebelde que pôs fim ao regime de Bashar al-Assad?
Durante anos, o líder rebelde evitou expor-se. Mas agora posiciona-se frente dos holofotes, dá entrevistas a meios internacionais e mostra-se na segunda maior cidade da Síria, Aleppo, depois de a tomar ao governo pela primeira vez desde a guerra civil, que eclodiu em 2011.
Líder do grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que conquistou este domingo Damasco, nasceu em Riade, na Arábia Saudita, em 1982 com o nome de Ahmed Hussein al-Sharaa e foi com o nome verdadeiro que terá assinado uma das primeiras decisões após a vitória: proibir os homens de disparar tiros para o ar e de se aproximarem de organismos públicos, criando uma ideia de ordem. Em 2021, explicou à emissora norte-americana PBS que o nome de guerra evocava as raízes familiares nos montes Golan, de onde o avô teve que fugir após a anexação israelita da região, em 1967.
Jolani cresceu em Mezzeh, um distrito abastado de Damasco, numa família rica e foi sempre um bom aluno, chegando a estudar Medicina. Viveu os primeiros anos na Arábia Saudita, onde o pai trabalhava como engenheiro petrolífero e acabou por ser marcado pelos diversos conflitos que atravessaram a região. Aos sete anos foi para Damasco, cidade para onde o avô se tinha mudado após a ocupação dos montes Golan.
Com uma imagem mais moderada, alto e com barba preta, Jolani foi deixando o turbante que usava no início da guerra, em 2011, substituindo-o por um uniforme militar ou por um fato civil. Desde que se afastou da Al-Qaeda em 2016, o líder islamita tem procurado amenizar a própria imagem e apresentar-se como um elemento moderado. Mas ainda causa bastantes suspeitas entre analistas e governos ocidentais.
Jolani começou a aproximar-se da retórica jihadista depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, quando começou a "assistir a sermões e debates clandestinos em subúrbios marginais de Damasco", segundo a imprensa local. Depois da invasão dos EUA ao Iraque, o agora líder rebelde deixou a Síria para participar nos combates. Uniu-se à Al Qaeda no Iraque, liderada por Abu Musab al Zarqawi, e passou cinco anos preso, o que o impediu de subir posições na organização jihadista.
Em março de 2011, quando explodiu a revolta contra Bashar al-Assad, voltou para casa e fundou a Frente Al-Nusra, braço sírio da Al-Qaeda. Dois anos depois, negou-se a jurar fidelidade a Abu Bakr al-Baghdadi, que se tornaria o emir do grupo Estado Islâmico, e favoreceu o líder da Al-Qaeda, Ayman al Zawahiri.
Também proclamou que, se derrotasse Assad, não executaria ataques de vingança contra a minoria alauita, da qual faz parte o clã presidencial, e rompeu laços com a Al-Qaeda para não dar motivos para o Ocidente atacar a organização.
Declarou em 2015 que, ao contrário do Estado Islâmico, não tinha intenção de lançar ataques contra o Ocidente. Foi um dos argumentos utilizados no rompimento com a Al-Qaeda, quando disse que o fez para "eliminar os pretextos apresentados pela comunidade internacional" para atacar a sua organização. Desde então, e segundo analistas, tem "estado na corda bamba como um estadista em formação".
Em 2017, obrigou os rebeldes radicais do norte da Síria a fundirem-se com o HTS, criou uma administração civil e intensificou as ações para com os cristãos na província de Idlib, no noroeste, que o grupo controlava há dois anos - o HTS tem sido acusado por habitantes locais, familiares de detidos e ativistas dos Direitos Humanos de abusos que, segundo as Nações Unidas, podem ser considerados crimes de guerra, provocando manifestações desde há alguns meses.