Abelhas. Cientistas alertam para extinção em massa

por RTP
Os cientistas usaram informações de 66 espécies de abelhas da América do Norte e da Europa, que foram adquiridas durante 115 anos, de 1900 a 2015 Rodrigo Garrido - Reuters

Uma investigação mostrou que a probabilidade de se encontrar uma abelha na Europa ou na América do Norte diminuiu um terço desde a década de 70. Os cientistas alertam que as emissões de gases de efeito de estufa podem destruir as populações de abelhas.

Uma investigação da Universidade de Ottawa, no Canadá, e da University College London, publicado na revista Science, descobriu que, no decorrer de “uma única geração humana”, a probabilidade de uma população de abelhas sobreviver diminuiu 30 por cento.

Peter Soroye, um dos coordenadores do estudo, afirma que “as extinções causadas pelo caos climático começaram há muitas décadas, embora só se tenha começado a pensar sobre isso recentemente”.

Os cientistas decidiram estudar o padrão de redução de abelhas na América do Norte e na Europa, para tentar perceber de que forma esse desaparecimento está ligado às alterações climáticas.
Sexto evento de extinção em massa
“Descobrimos que as extinções de espécies nos dois continentes são causadas pelas temperaturas extremas. Sabemos há algum tempo que as alterações climáticas estão ligadas ao desaparecimento das várias espécies de animais. Agora, estamos a entrar no sexto evento mundial de extinção em massa. A maior e mais rápida crise global da biodiversidade, desde que um meteoro acabou com a era dos dinossauros”, afirmou Soroye, citado por The Washington Post.

A investigação refere a importância das abelhas na vida selvagem e em terras agrícolas, uma vez que são os principais polinizadores de plantas.

“O resultado do estudo aponta para um futuro com muito menos populações deste inseto e, consequentemente, menos variedade na oferta de alimentos”, declarou Soroye. De acordo com a investigação, a taxa de desaparecimento desta espécie pode ser ligada com grandes eventos de extinção em massa.

“Se o declínio continuar neste ritmo, muitas espécies podem desparecer para sempre, dentro de algumas décadas”, garantiu o investigador.

Os cientistas responsáveis pela investigação apontam para uma “crise impulsionada por atividades humanas” e explicam que o principal objetivo do estudo não foi apenas constatar o índice de mortalidade da espécie, mas também encontrar meios que possam reverter esta tendência.
Prever as extinções
A investigação analisou dados consolidados, relativos às alterações climáticas e de que forma essas mudanças aumentaram a frequência de eventos extremos, como ondas de calor e secas, criando um caos climático, que pode ser perigoso para os animais.

Uma vez que as espécies têm diferentes tipos de tolerância à temperatura, os investigadores desenvolveram uma nova forma de medição. “Criamos uma nova maneira de prever extinções locais que nos dizem, para cada espécie, se as mudanças climáticas estão a provocar temperaturas que excedem o que as abelhas podem suportar”, explicou Tim Newbold, coautor do estudo.

Os cientistas usaram informações de 66 espécies de abelhas da América do Norte e da Europa, que foram adquiridas durante 115 anos, de 1900 a 2015, para poder testar a hipótese de existir uma extinção em massa.

“Descobrimos que as populações estavam a desaparecer em zonas onde as temperaturas ficaram mais quentes. Ao usar a nossa nova medida, fomos capazes de prever as mudanças tanto para as espécies individuais, como para comunidades inteiras”, afirmou Newbold.

As informações sobre a existência de abelhas na América do Norte e na Europa, juntamente com os dados sobre as ondas de calor ou frio, registados nos últimos 115 anos, mostraram aquilo que os cientistas consideraram como “dados alarmantes”.

Os cientistas alertam para a diminuição da probabilidade de uma comunidade de abelhas se fixar na América do Norte – apenas 46 por cento. No continente europeu, a probabilidade foi ainda menor, com 17 por cento.

Contudo, os especialistas acreditam que ainda há tempo para agir.

“Este trabalho também oferece esperança, ao sugerir formas pelas quais podemos aliviar as alterações climáticas, preservando os habitats que oferecem abrigo, como árvores, arbustos ou encostas, que podem permitir que as abelhas saiam do calor”, disse Soroye, citado pela BBC.

“Em última análise, devemos abordar as alterações climáticas e todas as ações que tomamos para reduzir as emissões podem ajudar. Quanto mais cedo, melhor. É do nosso interesse fazê-lo, bem como do interesse das espécies com as quais compartilhamos o mundo”.

Existem cerca de 250 espécies de abelhas no mundo. Os dados da União Internacional para a Conservação da Natureza, mostra que a diminuição da espécie está também relacionada com o uso de pesticidas e a degradação dos seus habitats.
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