"A UEFA respeita o arco-íris". Depois da polémica, organismo de futebol partilha cores LGBT nas redes sociais

por Inês Moreira Santos - RTP
DR/UEFA

Após a polémica recusa, baseada nos seus estatutos de "organização política e religiosamente neutra", a UEFA reafirmou, esta quarta-feira, o "empenho" na luta contra a discriminação, colocando as cores do arco-íris no símbolo. A instituição reagiu à onda de críticas de que tem sido alvo e reiterou que não se trata de uma posição política quando rejeitou o pedido para iluminar o Allianz Arena com as cores que representam o movimento LGBT.

"A UEFA respeita o arco-íris", anunciou o organismo de futebol europeu esta quarta-feira.

Num comunidado divulgado no site oficial, a instituição afirmou que, "hoje, a UEFA orgulha-se de vestir as cores do arco-íris", um símbolo que "promove tudo aquilo em que acreditamos – uma sociedade mais justa e igualitária, tolerante com todos, independentemente de sua origem, crença, género ou orientação sexual".



Na nota, o organismo que gere o futebol europeu refere que "algumas pessoas interpretaram a decisão da UEFA de recusar o pedido da cidade de Munique para iluminar o estádio de Munique com as cores do arco-íris para um jogo do EURO 2020 como 'política'". Contudo, esclarece que, pelo contrário, "o pedido em si era político, ligado à presença da selecção húngara no estádio para o jogo desta noite com a Alemanha".

"Para a UEFA, o arco-íris não é um símbolo político, mas um sinal do nosso firme compromisso com uma sociedade mais diversificada e inclusiva".

Durante o jogo desta quarta-feira do Euro2020 entre a Alemanha e a Hungria, vários estádios alemães vão estar iluminados com as cores do arco-íris, como prova de solidariedade com a comunidade LGBTI+ na Hungria (Estado-membro da União Europeia que aprovou recentemente uma lei que proíbe a divulgação de conteúdos sobre orientação sexual a menores de 18 anos). Esperava-se que também que o estádio de Munique, o Allianz Arena, ficasse iluminado com as cores da bandeira LGBTI+, mas a UEFA, organizadora da competição, recusou o pedido.

Após a recusa, baseada nos seus estatutos de "organização política e religiosamente neutra", a UEFA foi criticada por várias organizações ligadas à comunidade LGBT e por vários responsáveis europeus.

"De acordo com seus estatutos, a UEFA é uma organização politicamente e religiosamente neutra. Dado o contexto político, a UEFA rejeitou o pedido", lia-se numa nota do organismo de futebol, emitido na terça-feira.

A entidade europeia, que afirma "compreender que a intenção é enviar uma mensagem para promover a diversidade e a inclusão", até aceita a ideia da iluminação arco-íris, mas em datas alternativas.

"Pode ser a 28 de junho - o Christopher Street Liberation Day (Dia do Orgulho) -, pode acontecer entre 3 e 9 de julho, que corresponde à semana do Christopher Street Day em Munique", completa a UEFA num comunicado.

Mas esta quarta-feira, no meio da polémica, a UEFA acrescentou ao seu logótipo nas redes sociais as cores do arco-íris.
"Fica a perceção que o UEFA Euro 2020 não é inclusivo"
Uma das vozes críticas à decisão da UEFA foi a do vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, que considerou que a posição da instituição de não permitir a iluminação do estádio de Munique com as cores associadas ao movimento LGBT não tem "qualquer desculpa razoável".

"Tenho muita dificuldade em compreender o que a UEFA está a tentar fazer ao ir contra esta iniciativa da autarquia de Munique. Francamente, eu não encontro qualquer desculpa razoável", sublinhou o comissário com a pasta da Promoção do Modo de Vida Europeu, numa conferência de imprensa esta quarta-feira.

Schinas recordou, todavia, que a UEFA tem estado sempre "na vanguarda das campanhas de inclusão e de antirracismo", tendo inclusive ajudado a Comissão Europeia na promoção do processo de vacinação.

"Apoiaram todas as causas boas e, de repente, fazem disto um problema. Francamente, eu rendo-me. Não tenho nada a dizer em nome deles. Sobretudo porque recordo que, quando o Euro foi anunciado, o arco-íris também foi mostrado pela UEFA como um símbolo de inclusão", salientou.

Também o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, considerou que a UEFA "enviou o sinal errado" e o secretário de Estado francês para os Assuntos Europeus, Clément Beaune, frisou que se trata de uma "decisão política".

Ana Aresta, presidente da ILGA Portugal, em entrevista à SIC Notícias, esta quarta-feira, condenou e lamentou a decisão da UEFA na inclusão de um "gesto simbólico" para a proteção dos direitos LGBT. Para a responsável da ILGA Portugal, a instituição demonstrou que o Europeu é uma competição não inclusiva.

"Colocar esta decisão sob um chapéu político é negar que os direitos LGBTI são direitos humanos. Nota-se há vários anos um silêncio da UEFA em torno desta matéria. É ridículo que se questione o uso de um símbolo tão significativo e importante".

A ILGA Portugal pediu ainda que a UEFA repensasse a decisão, lembrando que os eventos desportivos ocorrem "muitas vezes em países onde a vida das pessoas LGBTI corre perigo", cabendo a estas organizações adotar políticas reforçadas em torno da inclusão e proteção desta comunidade.

Uma recusa da UEFA mereceu também resposta por parte de vários clubes como o Bayern Munique, o dono do estádio onde se vai realizar esta quarta-feira o encontro entre Alemanha e Hungria.

"Ter uma mente aberta e tolerância é fundamental e são valores cruciais na nossa sociedade, valores que o Bayern defende", afirmou Herbert Hainer, presidente do Bayern Munique, através de um comunicado.

Além do Bayern, o Wolfsburgo e o Schalke 04 também responderam à UEFA e ligaram as luzes dos seus estádios.

"Não se trata de fazer nenhuma provocação. Trata-se de fazer a coisa certa", escreveu o Schalke 04 nas redes sociais.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Peter Szijjarto, apoiou a decisão da UEFA.

"Graças a Deus, nos círculos da liderança do futebol europeu o bom senso ainda prevalece e eles não acompanharam esta provocação política. A UEFA tomou a decisão certa", escreveu Szijjarto nas redes sociais.
FPF junta-se à inicitiva
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) associou-se também, esta quarta-feira, à luta contra a discriminação, utilizando as cores do arco-íris, associadas à comunidade LGBT, no perfil das suas páginas oficiais nas redes sociais.

A decisão da FPF foi já saudada pela ILGA Portugal (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo), que a classificou como "um passo histórico a nível nacional (...) fundamental no desporto profissional em Portugal, que tanto (tanto!) precisa de mudar para garantir o direito à dignidade, inclusão, segurança e visibilidade das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo".



O organismo regulador do futebol em Portugal utilizou as cores associadas à comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero) nas contas oficiais destinadas à equipa principal – que está a disputar o Euro2020 – nas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram.

A iniciativa, proposta pelo município de Munique, visava manifestar apoio à comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero) na Hungria.
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