A Ucrânia continua insubmissa após um ano de guerra. O testemunho dos enviados especiais da RTP
Percorreram várias cidades ucranianas, conheceram o antes e o depois. A 24 de fevereiro de 2022, Cândida Pinto e David Araújo estavam em Kiev e foram apanhados de surpresa com o início de uma invasão de larga escala. "Ucrânia Insubmissa" é o livro onde partilham as memórias das reportagens sobre um país em guerra e do seu povo que continua de cabeça erguida, apesar do horror e das dificuldades.
Depois de várias deslocações à Ucrânia ao longo dos últimos meses, os dois repórteres falaram à RTP - por videochamada, a partir da Ucrânia - sobre o que viram e ouviram, e também sobre o livro "Ucrânia Insubmissa", editado pela D. Quixote este mês de fevereiro, quando se assinala um ano desde o início da guerra.
Em pouco mais de 300 páginas, os dois jornalistas traçam com palavras e imagens a dura realidade de um conflito que julgavam pouco provável no continente europeu, em pleno século XXI.
Revelam também o medo inicial sobre se Kiev conseguiria resistir a uma investida russa, sendo que a capital ucraniana era o principal alvo do ataque inicial, ou a dor de perder um colega repórter de imagem que estava hospedado no mesmo hotel em que se encontravam, ou até as estratégias que adotaram para tranquilizar aqueles que os esperam a mais de quatro mil quilómetros de distância, em Portugal.
Revelam também o medo inicial sobre se Kiev conseguiria resistir a uma investida russa, sendo que a capital ucraniana era o principal alvo do ataque inicial, ou a dor de perder um colega repórter de imagem que estava hospedado no mesmo hotel em que se encontravam, ou até as estratégias que adotaram para tranquilizar aqueles que os esperam a mais de quatro mil quilómetros de distância, em Portugal.
Mesmo com a sombra que paira sobre o país, apesar da invasão, das mortes, dos traumas e destruição, Cândida Pinto e David Araújo recolheram vários exemplos de ucranianos que resistem e insistem na vontade de seguir em frente.
Exemplos como o de Vova, o menino que perdeu parte da família, ficou ferido e continua a fazer tratamentos na Polónia. Como Nadya, a mãe de Borodyanka que perdeu o filho nos combates e agora cuida do neto de 12 anos. Como a família de Valery, que passou quase dois meses em fuga de Mariupol rumo à Alemanha. Como Ilya, o fixer que não hesitou em juntar-se às fileiras de guerra logo nas primeiras horas da invasão. Como Tamara, de 72 anos, que apesar do caos à sua volta agradece a presença dos repórteres portugueses em Kiev.
"Todos temos medo, não é verdade? Mas tento ser forte e sorrir para
vocês, e agradeço-vos por tudo. Obrigada em nome da Ucrânia por
revelarem o que se anda a passar aqui" - Mísseis
sobre Kiev, p. 77
Pergunta: Estão de regresso à Ucrânia. Há um ano percorreram várias cidades do país mesmo antes do início da invasão. Conheceram bem a Ucrânia imediatamente antes de se iniciar a guerra. Como está a ser este regresso e como estão a encontrar a Ucrânia um ano após o início da guerra?
Pergunta: Estão de regresso à Ucrânia. Há um ano percorreram várias cidades do país mesmo antes do início da invasão. Conheceram bem a Ucrânia imediatamente antes de se iniciar a guerra. Como está a ser este regresso e como estão a encontrar a Ucrânia um ano após o início da guerra?
Cândida Pinto: A Ucrânia está diferente, obviamente, porque leva com um ano de guerra, com o sofrimento e o desgaste que isso provoca do ponto de vista físico, com as pessoas que têm sido atingidas diretamente pela guerra, com mortos e feridos, mas também com um impacto psicológico bastante forte nas pessoas que estão a viver aqui.
Kiev tem duas faces, digamos assim. Tem, nesta altura, uma face que eu diria mais mascarada, a tentar continuar uma vida normal. Mas depois tem esse peso de as pessoas a saberem que estão em vulnerabilidade com qualquer tipo de ataque possa acontecer à capital da Ucrânia.
David Araújo: Eu falaria da energia que se sente, que é uma energia de união, porque é de vida ou morte que se trata. É essa a grande diferença, acho eu, desde a primeira vez que chegámos a Kiev, até aos dias de hoje.
Cândida Pinto: Eu acho que há algumas semelhanças com o antes da invasão, no sentido em que as pessoas tentam levar uma vida normal. Só que já houve uma invasão. Se antes de 24 de fevereiro de 2022 muita gente não acreditava que Kiev, por exemplo, pudesse vir a ser atingida, hoje é diferente. As pessoas têm esse receio, embora muitas delas tentem fazer a sua vida normal.
Mas há muitas zonas da cidade, por exemplo, às escuras, sem energia elétrica. Portanto, é verdade que as pessoas têm energia como há pouco referi, isso é um fator muito importante, mas em termos por exemplo de energia elétrica, há muitas zonas que estão afetadas. E estamos na capital, em Kiev. Há zonas do país que estão em muito piores condições.
"Decidimos comprar bilhetes de comboio para a capital ucraniana da província de Donetsk, a cidade de Kramatorsk, no Donbass. O plano é partir na madrugada do dia seguinte, 24 de fevereiro, no comboio das 6h10". - Kiev: os dias da invasão, p. 15
Dizem no livro que não esperavam que esta guerra fosse eclodir, que não era possível uma invasão como esta em 2022. Até tinham bilhetes comprados para ir até Kramatorsk na madrugada em que se iniciou a guerra. Como é que foi o momento em que souberam que a invasão estava em marcha? Como é que foram aquelas primeiras horas de dia 24 de fevereiro de 2022?
David Araújo: As primeiras horas foram fechadas no bunker a tentarmos perceber como é que as coisas estavam a funcionar, a movimentação das pessoas. No próprio hotel… estávamos e não estávamos preparados. Era uma adivinhação de todos perante aquilo que estava a acontecer. Mas basicamente fechados no bunker, atentos a tudo e mais alguma coisa, sem muito a fazer.
Cândida Pinto: Tentámos obviamente de vir à rua e viemos à rua. Passámos de certo modo a viver de dentro do hotel para o abrigo subterrâneo, para o tal bunker, e vínhamos de vez em quando à rua para tentar perceber o que estava a acontecer e também para fazer os diretos, para tentar acompanhar com grandes dificuldade, também porque perdemos logo nessa madrugada o fixer, o tradutor que estava connosco. Passou no hotel muito cedo para nos dizer que ia juntar-se à resistência e oferecer-se para combater. Nós ficámos bastante limitados naquelas primeiras horas do conflito. Teve um impacto muito grande em todos nós que estávamos aqui em Kiev.
Cândida Pinto: Já estivemos na rua do hotel onde estávamos há um ano. Esse hotel depois fechou e esteve fechado muito tempo. Na rua, muitos dos locais, os cafés e os restaurantes que existiam ali naquela zona, reabriram. Mas por exemplo, havia uma coisa que eu acho que é uma diferença muito grande entre Kiev de 23 de fevereiro de 2022 e Kiev atual: a música que existia na rua, que havia muita gente a tocar, as flores à venda, isso hoje não existe.
David Araújo: O hotel em que nós estávamos acabou por ser abrigo também da vizinhança ali daquela rua. Albergava imensas pessoas que viviam nos prédios em frente.
Os ucranianos tentam viver a vida mais normalmente possível, mesmo no meio da guerra. Vocês falam por exemplo daquele casamento entre militares que surge na capa do vosso livro. Assistiram a outros momentos como este, em que se espantassem pela persistência em viver uma vida o mais normal possível?
Cândida Pinto: Eu acho que é essa essa energia de que falava o David há pouco, e essa vontade de seguir com a vida em frente, é uma característica muito própria dos ucranianos. Nós encontrámos pessoas que, 48 horas após os apartamentos onde viviam terem sido atingidos por explosões e terem ido parar ao hospital, 48 horas depois já estavam a voltar a casa para tentar retomar a vida de onde ela tinha ficado.
Nós vimos muitas vezes pessoas, nos prédios atingidos, que tentavam reparar imediatamente os danos possíveis de reparar. Essa resiliência e essa força de tentar levar a vida para a frente, quase como a querer apagar as marcas da guerra, é algo muito forte que nós temos visto nos ucranianos desde os primeiros dias de conflito.
David Araújo: Eu julgo que não, de todo. As pessoas continuam com a certeza de que vão ganhar, que a Ucrânia vai ter uma vitória. Por exemplo: há um funeral, as pessoas vão ao funeral, mas aquilo encerra ali. Saem do funeral, pegam na arma e vamos lá. Nós temos que ganhar, a vitória é nossa.
Cândida Pinto: Acho que eventualmente, as pessoas têm essa força, mas estão talvez um pouco mais sombrias por aquilo que têm passado, as dificuldades. Os preços subiram imenso. A Ucrânia está com uma inflação de quase 30 por cento.
A vida é difícil, está difícil. A questão dos ataques às centrais elétricas deixa muitas zonas sem energia elétrica e isso torna a vida toda muito difícil, nomeadamente, por exemplo, no que diz respeito ao aquecimento. E sem aquecimento… Estamos a falar de temperaturas negativas de 10 graus que se fazem sentir. Portanto, é muito difícil sobreviver. Mas que as pessoas continuam com essa força, continuam.
Nesta guerra falamos de dois povos que são muito próximos historicamente. Como é que têm visto as divisões familiares e culturais que têm assolado a Ucrânia desde o início da guerra?
Cândida Pinto: Essa é uma questão muito delicada e que eu acho que vai deixar marcas profundas aqui. A Ucrânia até há 30 anos fazia parte da Rússia, fazia parte da União Soviética. Toda a gente fala russo na Ucrânia, o russo é a língua mãe da Ucrânia. O ucraniano, como língua, é uma língua recente.
As pessoas têm famílias de um lado e do outro. O que me parece que está a acontecer é que, dado o corte de relações entre os dois países, o corte físico e também o corte no entendimento das circunstâncias… As pessoas que têm família dos dois lados passaram a evitar contactar uns com os outros porque as narrativas de um lado e do outro são opostas. Há muitas famílias que falam muito pouco ou que não falam. Ou então falam os mínimos para saber da saúde uns dos outros, e passaram a evitar questões que têm a ver com a guerra, com a política, porque senão vão começar a discutir.
É uma questão que pesa no relacionamento entre estes dois povos e que poderá deixar marcas muito grandes, porque a base da cultura ucraniana é a cultura russa. Em 30 anos não se muda toda a cultura do país.“Antes de 24 de fevereiro, a vida de Olga Pelipenko decorria dentro de alguma normalidade numa região perto da fronteira com a Rússia. Aliás, a mãe dela nasceu do outro lado, é russa da província de Belgorod, mas vivia em Kharkiv. O marido de Olga atravessava a fronteira todos os dias para ir trabalhar na Rússia” - No metro de Kharkiv, p. 283
Da vossa experiência nos últimos meses, o que mais marcou na cobertura deste conflito? Quando estão em Portugal e pensam na Ucrânia há alguma pessoa que nos vem à cabeça?
Por um lado, eu sou pai. À medida que vamos exercendo a profissão e os anos de serviço, vamos criando um colete balístico e o distanciamento necessário. Mas para mim, foi o dia em que fui à guerra. O miúdo que perdeu o seu pai e um primo que iam em direção à estação de comboio para sair do país, logo no início, e foi apanhado no meio do fogo cruzado. Quando fomos fazer essa reportagem ao hospital foi marcante. Muito, muito marcante.
Mais tarde acabámos por ir ter com ele à Polónia e fizemos o trabalho e as marcas estavam todas lá naquela criança. E no fundo, essa criança representa todas as crianças que se viram envolvidas neste conflito. As marcas psicológicas e físicas estão todas lá.
Reportagem do Jornal da Tarde, 16 de fevereiro de 2023
Mantêm contacto com ele? Sabem se continua na Polónia?
David Araújo: Sabemos que ele está na Polónia, que continua a fazer um tratamento mais delicado no pé. Até ver as coisas têm corrido bem. Continua com o cão, o Jura, que perdeu uma pata.
Cândida Pinto: É uma coisa curiosa porque nós, no ano passado, estivemos cá muito tempo e em várias fases. Acompanhámos o que se passou durante muito tempo. Foi um conflito que teve um grau de intensidade tal nas nossas vidas que nos deixou uma sensação… quase como se voltássemos a uma casa onde vivemos momentos muito fortes.
Isso significa que nada disto nos é indiferente, que nada nos foi indiferente. Tudo aquilo que passámos aqui. Pela forma que fomos tratados pelos ucranianos, os civis fundamentalmente. Não é normal que neste tipo de situações, quando as pessoas estão a viver situações extremamente delicadas, darem-nos um abraço, a agradecer pelo facto de nós estarmos aqui. Isso aconteceu muitas vezes no ano passado e este ano também. Esse agradecimento por nós estarmos aqui, por estarmos a dar o testemunho do que se está a passar, isso obviamente que nos toca muito."O que se leu sobre a história, o enquadramento, a evolução dos
acontecimentos, é importante. Mas quando se pisa um território em
convulsão faz falta um guia, um carro, um motorista, um tradutor, de
preferência tudo reunido na mesma pessoa: o fixer. É a ele que, em
parte, vamos confiar as nossas vidas durante aqueles dias." - Ilya foi para a guerra, p. 235
Há uma pessoa, que foi o nosso primeiro fixer, que era civil e passou a militar e que tem estado a combater. Obviamente é uma pessoa da qual eu me lembro sempre e já contactámos desde que cá estamos. Continua bem na sua vida militar. Foi uma opção que ele fez tal como muitos jovens ucranianos.
Estiveram em algumas cidades à volta de Kiev pouco tempo depois de se saber dos massacres que tinham ocorrido. Como é que foi visitar esses locais ainda com marcas tão visíveis do que tinha acontecido?
David Araújo: É inevitável falar de Bucha. Fomos lá por dois dias. Uma atrocidade. Nós vimos as valas, nós fomos a casas de pessoas em que os russos chegaram, mataram e os vizinhos vieram enterrar os corpos no quintal. A estrada com os tanques daquela cor ferrugem, os pertences dos militares que perderam a vida, os cantis, as botas, os coletes. Foi muito, muito complicado, porque foi uma batalha dura, devastadora e que acabou por bloquear o acesso dos russos a capital.
Cândida Pinto: Borodyanka também foi uma cidade muito atingida. Fica um pouco mais longe de Kiev do que Bucha, mas foi violentamente atacada. Fazia imensa impressão entrar em Borodyanka e ver a quantidade de prédios completamente destruídos, ver corpos ainda no meio dos escombros que não tinham sido resgatados, e ver a forma como as pessoas ainda estavam perdidas, em choque e sem perceber muito bem se já estavam a pisar terra firme ou não.
De facto, em Borodyanka, não se percebe muito bem qual era o objetivo militar. Borodyanka não tinha nada que fosse objetivo militar identificado, mas até o hospital foi atacado. O vigilante do hospital foi morto a tiro. Foi uma barbárie muito grande e as pessoas contavam que os russos entravam nas casas e roubavam tudo, ameaçavam. As pessoas deixaram de argumentar, deixavam que levassem as coisas com medo do que lhes pudesse acontecer.
Quando chegámos havia muitos explosivos ainda a rebentar nas ruas, zonas minadas e muito lixo de guerra. Muita pedra, muito betão, muitas fachadas de edifícios que mostravam como é que era uma sala, ainda com estantes e com livros, por exemplo. Vários edifícios despidos e uma fachada em que se via o resto do interior de apartamentos perfeitamente normais, sem gente. Quando fomos a Borodyanka muito poucas pessoas estavam lá nessa altura. As batalhas foram muito difíceis. Era um sítio que causava um impacto tremendo.
Quem terá lido aqueles livros? Que família vivia naquela sala?
— Cândida Pinto (@CandidaPinto__) February 18, 2023
Há quase um ano que aqueles livros estão naquela estante daquela sala vazia e esventrada daquele 1 andar.
Em Borodyanka as ruínas estão intactas. Com @info_ara pic.twitter.com/B9h62AkaEx
Voltaram lá entretanto?
David Araújo: Sim, voltámos a Bucha. Irreconhecível, aquela rua de que falávamos. Tínhamos também referência a uma reportagem que tínhamos feito numa casa e entretanto voltámos lá, mas está completamente diferente, uma rua perfeitamente normal com tudo em construção. As casas, algumas já estavam completamente erguidas, outras em reconstrução. No lugar das valas comuns…foi tudo limpo. Está diferente. Não é como se não tivesse acontecido, mas está muito diferente.
Com o vosso conhecimento, estando a acompanhar este conflito de forma tão próxima, o que acham que vai acontecer na Ucrânia nos próximos meses?
Cândida Pinto: Creio que a palavra imprevisível continua a aplicar-se. Eventualmente vai ser um conflito mais duro porque sobe a escala do armamento que vai estar no palco da guerra. Mas daquilo que vimos… o conflito está num impasse. A Rússia está a fazer avanços pequenos, está numa política de pequenos passos de consolidação das áreas que detém ou que consegue controlar no Donbass e no sul.
A Ucrânia está numa fase difícil, daí que haja todos estes apelos por parte do presidente Zelensky e de outros membros do governo ucraniano para a entrega de mais armamento, porque não está numa fase em que consiga fazer uma contraofensiva. Creio que os próximos meses poderão ser mais difíceis, mas não sabemos. Não fazemos ideia do que vai acontecer.
Para terminar, queria perguntar: David, continuas a enviar fotografias do teu pequeno-almoço à tua filha?
David Araújo: Sim, vou fazendo isso. Há duas coisas que, quando venho para este tipo de situação, me preocupam muito. Primeiro as pessoas que lá ficam, principalmente a minha filha, porque é pequenota mas já não é assim tão pequena quanto isso. Já percebe muito bem, aguenta mais ou menos bem, mas isto é diferente. A pergunta é: então mas se aquilo está em guerra, porque é que tu vais para lá quando as pessoas estão a fugir? É isso que leva a este cuidado com as pessoas que ficam lá.
Depois, naturalmente, é o cuidado com a pessoa que está comigo, para criarmos o mood ideal e podermos trabalhar com máxima segurança, confiança e à vontade. Mas sim, continuo a fazer os meus bonequinhos.
Depois, naturalmente, é o cuidado com a pessoa que está comigo, para criarmos o mood ideal e podermos trabalhar com máxima segurança, confiança e à vontade. Mas sim, continuo a fazer os meus bonequinhos.
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