"A Rússia tem de se mexer" adverte Trump. "Demasiadas pessoas morrem na Ucrânia"

por Graça Andrade Ramos - RTP
Vladimir Putin e Donald Trump Kevin Lamarque - Reuters

O presidente norte-americano deu sinais de impaciência esta sexta-feira, face à estratégia russa de não se comprometer com a aplicação de um cessar-fogo acordado com Washington há semanas e que previa tréguas de 30 dias.

Kiev aceitou os termos do seu acordo, Moscovo arrastou os pés com exigências e não cumpriu.
"A Rússia tem de se mexer" exigiu Donald Trump na sua rede Truth Social, lamentando que "demasiadas pessoas morram, milhares por semana, numa guerra terrível e insensata" na Ucrânia.
Apesar das negociações diretas com o Kremlin, iniciadas há dois meses, para alcançar um acordo de cessar-fogo, os resultados da Administração Trump no terreno têm sido praticamente nulos.

O emissário do presidente norte-americano, Steve Witkoff, reuniu-se esta sexta-feira com o presidente Vladimir Putin, para insistir na "resolução" do conflito.

Steve Witkoff reúne-se no Kremlin com Vladimir Putin a 11 de abril de 2025 - Foto Kremlin/Reuters

Putin tem arrastado a diplomacia sem se comprometer realmente com a suspensão de ataques na Ucrânia. Pelo contrário, a estratégia russa tem sido aumentar os bombardeamentos e as vítimas mortais.
A visita desta sexta-feira é a terceira para Witkoff, desde que Trump rompeu o isolamento de Moscovo imposto pelo Ocidente após a invasão russa, em fevereiro de 2022. A Administração tenta, desde então, negociar separadamente com o Kremlin e com Kiev, para obter um cessar-fogo.

"Putin vai ouvi-lo. A conversa irá incidir sobre diversos aspetos da resolução ucraniana. Há muitos aspetos, a temática é muito complexa", declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, citado pela agência Ria Novosti.
Avanços e recuos
Apesar do aparente otimismo, Peskov advertiu de imediato contra expetativas de que saiam da reunião "avanços" diplomáticos.

"Está a decorrer um processo de normalização de relações e prossegue a procura por uma base de entendimento com vista a uma resolução", declarou. "Continuamos a trabalhar com afinco. Naturalmente, Witkoff irá trazer a Putin alguma coisa do seu presidente".

Na quinta-feira, Trump mostrou-se confiante, até porque tem mais tensões a preocupá-lo.
Mas a sua publicação desta sexta-feira parece indicar que os recados que Witkoff traz consigo para o senhor do Kremlin são de advertência, para Putin mostrar alguma boa vontade para solucionar o conflito.
O presidente norte-americano garantiu em campanha eleitoral que, se ele estivesse na casa Branca, a guerra nunca teria começado. Prometeu ainda resolver rapidamente com o conflito e abandonou por isso a estratégia seguida pelo seu antecessor a par dos aliados ocidentais, de pressão sobre a Rússia apoiando a Ucrânia militarmente e financeiramente.

A estratégia de Trump tem sido a de obrigar Kiev a cedências profundas a nível das suas riquezas, ameaçando ainda cortar o auxílio militar. Ao contatar diretamente Vladimir Putin, abriu contudo a porta a compromissos com as exigências russas, que não se alteraram uma vírgula nos últimos três anos.

Como pressão sobre o Kremlin, Trump ameaça com movas sanções se a Rússia não consentir na paz. 

No fim de março, o presidente norte-americano admitiu à televisão NBC estar "muito enervado" e "furioso" com Vladimir Putin, depois deste ter falado na possibilidade de uma "administração transitória" na Ucrânia, implicando a partida do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Zelensky tem multiplicado desde o início avisos de impossibilidade de negociar de boa fé com o Kremlin.
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