À porta fechada. Há dois meses Europa subestimava crise do coronavírus

por RTP
Europa pode ter subestimado impacto da pandemia de covid-19 Reuters

Documentos a que a Reuters teve acesso mostram que um mês antes de a epidemia de Covid-19 ter causado inúmeros problemas no continente europeu, a resposta dos países a esta crise pode ter sido nivelada por baixo. Os Estados europeus diziam estar preparados para a epidemia, algo que um mês depois se mostra falso, com a Europa a registar mais de 400 mil infetados e milhares de vítimas mortais.

A falta de material médico como máscaras e ventiladores na Europa é dez vezes mais alto do que aquilo que normalmente seria normal e documentos analisados pela Reuters mostram que os Estados-membros da União Europeia subestimaram os impactos da pandemia.

“Tudo está sob controlo”, palavras de um comissário europeu numa reunião à porta fechada com diplomatas pertencentes aos Estados-membros. Aconteceu no dia 5 de fevereiro, duas semanas depois de a China ter começado a colocar várias cidades de quarentena, num total de 60 milhões de pessoas.

“Existe um nível forte de preparação nos Estados-membros, a maioria tem medidas que vão ser tomadas” para detetar e tratar a Covid-19, de acordo com o comissário europeu. Esta reunião aconteceu duas semanas antes do registo das primeiras vítimas mortais pela Covid-19 em Itália, país europeu que já leva 12 mil vítimas mortais, sendo o mais afetado na União Europeia.

Questionado sobre estes documentos, um porta-voz da União Europeia declarou que foi oferecida a possibilidade de apoio aos Estados-membros, mas que os mesmos só se aperceberam da gravidade da pandemia já em março e que decidiram tomar medidas protecionistas em vez de soluções conjuntas.

O otimismo das previsões da Comissão Europeia devia-se sobretudo às reuniões mantidas com especialistas na área da saúde dos Estados-membros. De acordo com a documentação a que Reuters teve acesso, numa reunião a 31 de janeiro, os ministros da saúde do estados-membros declararam não necessitar de ajuda para adquirir material médico.

Numa das minutas foi declarado que nenhum país havia pedido apoio financeiro para comprar material médico mas que existiam quatro Estados que poderiam ter a necessidade de ajuda caso a situação piorasse na Europa.

Um mês depois de oferecer pela primeira vez ajuda, a 28 de fevereiro, a Comissão Europeia lançou um programa público para a compra de máscaras e material de proteção. Nenhuma proposta foi feita.

De acordo com documentos vistos pela Reuters, os governos europeus garantiram a Bruxelas que a força médica dos países estava bem informada sobre os pacientes de Covid-19. Na altura, a Itália pediu apenas máscaras para os profissionais de saúde para tratar os doentes infetados.

Apesar de garantir que os diagnósticos estavam em ordem e que iriam ser realizados testes nos cidadãos, a União Europeia não tem material suficiente para lidar com a pandemia que tem colocado a Europa em estado de sítio.

São necessários ventiladores para pacientes com problemas respiratórios graves. Os riscos de saturação dos serviços de saúde foram considerados “baixos a moderados” a meio de fevereiro pela agência de Controlo de Doenças da União Europeia, algo que resultou da opinião dos vários estados-membros.

Um mês depois, o mesmo organismo atualizou o nível de risco e declarou que não existiriam camas nos cuidados intensivos em meados de abril.
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