A mensagem de Zelensky em Washington. Apoio é "investimento na liberdade"

por Cristina Sambado - RTP
Michael Reynolds - EPA

O presidente ucraniano discursou na noite de terça-feira perante o Congresso dos Estados Unidos, em Washington, onde garantiu que o dinheiro entregue a Kiev "não é caridade", mas "um investimento na liberdade" e na "segurança global".

A primeira deslocação de Volodymyr Zelensky ao estrangeiro desde a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro, foi feita com a preocupação de que os republicanos se oponham a um financiamento no futuro.

Sobre a ajuda financeira, o presidente ucraniano desatacou: “O vosso dinheiro não é caridade, é um investimento na liberdade, numa segurança global que gerimos da forma mais responsável possível”.

No seu discurso, o presidente ucraniano prometeu que o seu país nunca vai abandonar a sua resistência à agressão russa – mas frisou que o apoio norte-americano é a chave para a vitória final.

Zelensky, que chegou vestido com calças e camisola verdes, ao estilo militar, foi recebido com uma ovação de pé e longos aplausos.

O líder ucraniano recordou as batalhas dos EUA contra a Alemanha nazi e os compromissos do presidente Franklin Roosevelt em tempo de guerra, numa tentativa de manter o fornecimento norte-americano de armas na guerra com a Rússia.

As nossas nações são aliadas nesta batalha e o próximo ano será um ponto de viragem. Eu sei-o. O ponto em que a coragem ucraniana e a determinação norte-americana devem garantir o futuro da nossa liberdade comum. A liberdade das pessoas que defendem os seus valores”, afirmou.

Perante os congressistas presentes no Capitólio, Zelensky realçou que, “contra todas as probabilidades, a Ucrânia ainda está de pé”.

Segundo o presidente ucraniano, “contra todas as probabilidades e desgraça, a Ucrânia não caiu. A Ucrânia está viva e a dar pontapés”.
“A Ucrânia está viva e luta. A tirania russa não tem qualquer controlo sobre nós”, acrescentou o líder ucraniano num discurso em inglês de 20 minutos, que fechou a primeira viagem de Zelensky aos EUA.
“Não temos medo. Nem ninguém no mundo o deveria ter. A Ucrânia obteve esta vitória e dá-nos coragem, o que inspira o mundo inteiro”.

“Tudo depende de nós, das Forças Armadas ucranianas. No entanto, muito depende do mundo. Tanto do mundo depende de vós. A Rússia poderia parar a sua agressão, se realmente o quisesse”, recordou Zelensky.

O chefe de Estado ucraniano realçou que o que está em jogo no conflito é maior do que apenas o destino do seu país, salientado que a democracia em todo o mundo está a ser testada.


“Esta batalha não pode ser congelada ou adiada, não pode ser ignorada”. O presidente ucraniano, que deixou o seu país pela primeira vez em 300 dias, atravessou a Polónia, voando até Washington para fazer um apelo direto ao Congresso para que mantenha a ajuda militar. A deslocação surge numa altura em que a próxima liderança republicana da Câmara dos Representantes possa opor-se às propostas de mais de 45 mil milhões de dólares em armas e outra assistência em 2023.

Zelensky tentou conquistar os céticos com um discurso que ligava o futuro da guerra e a liberdade, ao compromisso da América com a Ucrânia.

O chefe de Estado ucraniano relacionou ainda a luta contra a Rússia à ameaça colocada pelo Irão, um tema caro ao campo republicano que critica o Presidente democrata, Joe Biden, por ser demasiado complacente com Teerão.

"Os drones [aparelhos aéreos não tripulados] mortais enviados pelo Irão para a Rússia às centenas tornaram-se uma ameaça para as nossas infraestruturas estratégicas. Dois (estados) terroristas encontraram-se. E é apenas uma questão de tempo até que ataquem os seus outros aliados", advertiu.

Na véspera da sua deslocação aos Estados Unidos, Zelensky esteve na linha da frente em Bakhmut, no Donbass, que descreve como uma região “encharcada em sangue”.

Perante os congressistas, desfraldou uma bandeira com o padrão ucraniano azul e amarelo que tinha vindo da linha da frente e que entregou à speaker da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e à vice-presidente, Kamala Harris.

Em troca recebeu uma bandeira norte-americana que tinha sido hasteada no topo do Capitólio nesse mesmo dia, para assinalar a visita.

“Esta bandeira é o símbolo da nossa vitória nesta guerra. Estamos de pé, lutamos e venceremos porque estamos unidos. Ucrânia, América e todo o mundo livre”, enalteceu.

O líder ucraniano comparou ainda os soldados ucranianos às tropas ucranianas que resistiram aos alemães na Batalha de Bulge, no Natal de 1944.

“Os ucranianos estão a lutar e a morrer. O mínimo que a América pode fazer é fornecer-lhes armas necessárias para resistir. Temos artilharia. Sim. Será suficiente? Sinceramente, nem por isso”.

Zelensky frisou ainda que “os soldados ucranianos podem perfeitamente operar tanques e aviões americanos”, numa referência ao equipamento que Washington se recusou a fornecer até agora.

Zelensky terminou o discurso no Congresso com um agradecimento às famílias norte-americanas. “Agora, nesta época especial de Natal, quero agradecer-vos. Agradeço a todas as famílias americanas que apreciam o calor da sua casa e desejam o mesmo calor ao nosso povo”.Povos unidos
Antes de se deslocar ao Capitólio, Zelesnsky foi recebido por Joe Biden na Casa Branca. No final do encontro, o presidente norte-americano recordou que a Ucrânia está a lutar contra um dos exércitos mais poderosos do mundo e lembrou que os Estados Unidos sempre ajudaram os povos que necessitaram.

"O povo norte-americano está unido ao povo ucraniano", afirmou Biden.
O presidente dos EUA frisou que "Putin continua a invadir a Ucrânia, a matar pessoas, a matar crianças".

"Trezentos dias passaram e o povo ucraniano está a sofrer e a tentar combater os soldados russos, está a combater pelas suas vidas, a lutar pela sua nação. Vocês demonstraram toda a vossa força e certeza de defender o país".
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