Os últimos anos viram a censura anti-burka atravessar fronteiras em vários países ocidentais com a invocação da segurança, dos direitos das mulheres ou da defesa da laicidade dos Estados. Em Israel a história é diferente: os centímetros a menos são a medida da senha de entrada. À falta de centímetros nas saias, são impedidas de entrar e convidadas a mudar de roupa.
Perante a recusa de passagem, a situação de Shaked Hasson apenas se resolveu com a intervenção de Merav Michaeli, a deputada da União Sionista com quem Shaked trabalha e, ironicamente ou não, uma defensora dos direitos das minorias e das mulheres.
Michaeli, antes da política, era uma reputada jornalista, tendo trabalhado também para o Haaretz. Foi precisamente este o jornal que divulgou o caso e desde então choveram informações de que não se tratou de um episódio isolado às portas do Knesset.
Na última quarta-feira terá sido Moria Silfen, assessora e porta-voz da deputada Eli Alalouf, do partido Kulanu, a ser barrada pela polícia de costumes do Knesset. Razão: a mesma - o vestido era demasiado curto. Após 40 minutos de inspecção e aconselhada a vestir calças, foi obrigada a regressar a casa para mudar de roupa.
A recomendação deixada a Silfen é também em si absolutamente críptica: “[Não volte a fazer isso] para não nos causar este sofrimento de novo”. A observação é críptica ou não. Nos países árabes, o argumento é bastas vezes usado para obrigar as mulheres a esconderem as suas características femininas que, muitas vezes, os livros sagrados dizem estar reservadas apenas à contemplação dos maridos.
De acordo com o Haaretz, o código de vestuário em causa entrou em vigor há um mês, estipulando que não é permitido entrar no parlamento com roupa inapropriada, como “saias e vestidos curtos ou sandálias”. Esta regulamentação está a ser vista como uma deriva religiosa no dia-a-dia das israelitas que pode levar, no extremo, ao desaparecimento das mulheres da vida pública.