Bibi Aisha, de 19 anos, sofria violências constantes às mãos do marido e da família deste. Fugiu de casa e foi apanhada. Cortaram-lhe o nariz e as orelhas. Voltou a fugir e contou a história. O trágico destino de Aisha é comum para as mulheres afegãs, mas, a milhares de quilómetros de distância, está a abalar os Estados Unidos.
Na sua segunda fuga, a jovem afegã foi ajudada por uma organização de apoio a mulheres vítimas de violências e irá ser enviada para os Estados Unidos, onde será operada. Bibi Aisha teve mais sorte do que a maioria das mulheres em situação semelhante e pode ainda alimentar esperanças: "Só quero recuperar o meu nariz", afirma.
Entre as menos felizes, contar-se-á a sua irmã mais nova, com dez anos de idade, que ficou nas mãos da família do marido e agora irá provavelmente ser castigada pela fuga ou usada como refém para exigir à família de Aisha uma outra jovem que substitua a fugitiva.
Seja como for, Aisha, com o seu belo rosto desfigurado, tornou-se uma celebridade nos Estados Unidos. Fez capa da revista Time e logo se tornou o centro de uma furibunda polémica.
A polémica, de qualquer modo, já existia e agora apenas se fixou num pretexto novo. Dividida ao meio, a sociedade norte-americana confronta-se em torno da guerra do Afeganistão, da saída das tropas norte-americanas, da data de saída, das consequências da saída - e daquilo que andam a fazer no Afeganistão enquanto lá permanecem.
A própria revista Time, ao publicar a chocante fotografia de capa e a história de Bibi Aisha, não escondia que partido tomava nessa polémica. E dava à história um título sem ambiguidade: "O que vai acontecer se sairmos do Afegnistão". E, segundo o site de Der Spiegel, a sua homóloga Time recebeu sobre este tema de capa o dobro da correspondência que habitualmente recebe por e-mail.
Na mesma linha da Time, a jornalista da CNN Christianne Amanpour interpelou a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, com a pergunta: "Iremos nós abandonar as mulheres no Afeganistão ao seu destino?". E também Manizha Naderi, da organização Women for Afghan Women (Mulheres pelas Mulheres Afegãs), afirma num artigo escrito para o New York Times: "As pessoas têm de ver e saber qual será o preço de este país [Afeganistão] ser abandonado". E sustenta que este tipo de violências é "precisamente o que vai acontecer".
A corrente anti-guerra, pelo contrário, considera que a Time, Naderi e Amanpour apenas instrumentalizam a questão dos direitos das mulheres para justificar o prolongamento da guerra e da ocupação.
A analista política Kirstin Powers, colaboradora da Fox News e do New York Post, afirma nomeadamente que os direitos das mulheres têm sido abusivamente invocados, "no melhor dos casos, como folha de parra". E explica que "não se tratava naquela altura [2001, invasão do Afeganistão] das mulheres. E hoje não se trata das mulheres. É tempo de sair".
E, com efeito, ao título da revista Time ("O que vai acontecer se sairmos do Afeganistão"), poder-se-ia certamente acrescentar que a história de Aisha, e milhares de histórias parecidas, continuam a acontecer sem as tropas ocupantes terem saído do Afeganistão e, por assim dizer, debaixo dos seus narizes.
Entre as menos felizes, contar-se-á a sua irmã mais nova, com dez anos de idade, que ficou nas mãos da família do marido e agora irá provavelmente ser castigada pela fuga ou usada como refém para exigir à família de Aisha uma outra jovem que substitua a fugitiva.
Seja como for, Aisha, com o seu belo rosto desfigurado, tornou-se uma celebridade nos Estados Unidos. Fez capa da revista Time e logo se tornou o centro de uma furibunda polémica.
A polémica, de qualquer modo, já existia e agora apenas se fixou num pretexto novo. Dividida ao meio, a sociedade norte-americana confronta-se em torno da guerra do Afeganistão, da saída das tropas norte-americanas, da data de saída, das consequências da saída - e daquilo que andam a fazer no Afeganistão enquanto lá permanecem.
A própria revista Time, ao publicar a chocante fotografia de capa e a história de Bibi Aisha, não escondia que partido tomava nessa polémica. E dava à história um título sem ambiguidade: "O que vai acontecer se sairmos do Afegnistão". E, segundo o site de Der Spiegel, a sua homóloga Time recebeu sobre este tema de capa o dobro da correspondência que habitualmente recebe por e-mail.
Na mesma linha da Time, a jornalista da CNN Christianne Amanpour interpelou a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, com a pergunta: "Iremos nós abandonar as mulheres no Afeganistão ao seu destino?". E também Manizha Naderi, da organização Women for Afghan Women (Mulheres pelas Mulheres Afegãs), afirma num artigo escrito para o New York Times: "As pessoas têm de ver e saber qual será o preço de este país [Afeganistão] ser abandonado". E sustenta que este tipo de violências é "precisamente o que vai acontecer".
A corrente anti-guerra, pelo contrário, considera que a Time, Naderi e Amanpour apenas instrumentalizam a questão dos direitos das mulheres para justificar o prolongamento da guerra e da ocupação.
A analista política Kirstin Powers, colaboradora da Fox News e do New York Post, afirma nomeadamente que os direitos das mulheres têm sido abusivamente invocados, "no melhor dos casos, como folha de parra". E explica que "não se tratava naquela altura [2001, invasão do Afeganistão] das mulheres. E hoje não se trata das mulheres. É tempo de sair".
E, com efeito, ao título da revista Time ("O que vai acontecer se sairmos do Afeganistão"), poder-se-ia certamente acrescentar que a história de Aisha, e milhares de histórias parecidas, continuam a acontecer sem as tropas ocupantes terem saído do Afeganistão e, por assim dizer, debaixo dos seus narizes.