O Conselho de Segurança das Nações Unidas volta a reunir-se esta quinta-feira para confirmar a recomendação de António Guterres ao cargo de secretário-geral da organização. Para já e enquanto a Assembleia Geral das Nações Unidas não ratificar a escolha do Conselho de Segurança, é esperada uma declaração oficial de António Guterres já esta tarde, a partir do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa.
Aos 67 anos, o ex-primeiro-ministro deverá chegar ao mais alto cargo da diplomacia mundial, depois de ter ocupado o lugar de alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados durante dez anos. Guterres será o nono secretário-geral, sucedendo ao sul-coreano Ban-Ki moon a partir de 1 de janeiro de 2017.
Após a indicação pelo Conselho de Segurança, a Assembleia Geral das Nações Unidas deverá ratificar a escolha, numa votação a realizar até final de outubro. A decisão final cabe a este órgão da ONU, que na sua história de 71 anos nunca desaprovou um candidato sugerido pelo Conselho de Segurança. Na votação dos 193 Estados-membros é necessária uma aprovação por maioria simples para a derradeira formalização.
Em 2006, quando a escolha recaiu sobre o sul-coreano, também com o consenso do Conselho de Segurança, a 9 de outubro, a escolha foi formalizada pela Assembleia Geral quatro dias depois, a 13 de outubro.
Desde o início do processo e ao longo das várias votações secretas, Guterres foi o candidato a recolher maior consenso entre os países representados naquele que é o órgão máximo da ONU. Na sexta votação, que decorreu esta quarta-feira, o ex-primeiro-ministro português recolheu 13 votos a favor e duas abstenções. Dos 15 membros do Conselho de Segurança, não houve qualquer voto de desencorajamento, ao contrário do que aconteceu com os adversários.
“Hoje, após a nossa sexta votação, temos um claro favorito e o seu nome é António Guterres”, anunciava ontem Vitaly Churkin, embaixador da Rússia nas Nações Unidas, país que preside este mês ao Conselho de Segurança.
O representante russo confirmou ontem o favoritismo de António Guterres perante os restantes 12 candidatos e disse mesmo esperar uma indicação por “aclamação”, ou seja, reunindo consenso de todos os países no Conselho de Segurança, o que implica que os dois países que se abstiveram na votação de ontem alterem o seu voto.
Não se esperava uma decisão tão rápida e célere por parte do Conselho de Segurança, especialmente após a recente entrada da comissária europeia, a búlgara Kristalina Giorgieva, na corrida ao cargo.
Na terça-feira, em vésperas da votação decisiva, um embaixador russo revelava que Moscovo teria preferência por uma candidata mulher e oriunda do Leste, o que deixava antever um braço de ferro entre os países do Conselho de Segurança com poder de veto – Estados Unidos, Rússia, França, China e Reino Unido, em conjunto com os restantes países que ocupam a posição de membros não permanentes, atualmente ocupados por Angola, Egito, Espanha, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Senegal, Ucrânia, Uruguai e Venezuela.
No entanto, contra todas as expetativas e esforços diplomáticos que pediam uma mulher no cargo e a rotatividade regional do cargo, a decisão pelo português foi praticamente consensual. “Desejamos ao senhor Guterres que tudo corra bem no desempenho das funções como secretário-geral das Nações Unidas, nos próximos cinco anos”, completou Churkin.
No site oficial das Nações Unidas recorda-se o processo “histórico” que levou à escolha de Guterres e o esforço de transparência que moveu a presente eleição. A seleção de um novo secretário-geral acontecia tradicionalmente à porta fechada, num ambiente de grande secretismo. “Estou muito orgulhoso que tenhamos inovado com uma transparência única no processo de seleção”, revelou Mogens Lykketoft, presidente da Assembleia Geral da ONU.