À beira do colapso. Parlamento francês vota moções de censura contra Governo de Barnier

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Stephanie Lecocq - Reuters

A Assembleia Nacional francesa prepara-se para censurar, esta quarta-feira, o Governo de Michel Barnier, com a votação de duas moções prevista para a tarde. A queda do Governo é quase certa, uma vez que a esquerda e a extrema-direita uniram forças e já anunciaram o voto a favor. Ainda assim, tanto o primeiro-ministro como o presidente francês mantêm-se confiantes.

Há apenas três meses no Governo, o primeiro-ministro francês, Michel Barnier, enfrenta esta tarde um teste à sua sobrevivência e arrisca ser o primeiro a ser forçado a sair por um voto de desconfiança em mais de 60 anos.

Quando forem 17h00 em Lisboa, o Parlamento francês vai votar duas moções apresentadas pela esquerda e pela extrema-direita na segunda-feira, depois de Barnier ter acionado o artigo 49.3 da Constituição para aprovar o orçamento da Segurança Social sem votação. A aprovação destas duas moções de censura é quase certa, uma vez que os partidos de esquerda e a extrema-direita já anunciaram que se vão unir e votar a favor em cada uma das moções.

As duas moções de censura apresentadas pela oposição de esquerda (Nova Frente Popular) e pela extrema-direita (União Nacional e seus aliados) são apoiadas por 325 deputados, muito mais do que os 288 necessários para derrubar o Governo.

O Rassemblement National (RN), de extrema-direita, deixou claro na manhã desta quarta-feira que votaria para derrubar Barnier ao lado dos partidos de esquerda.

“A moção de censura é uma moção para rejeitar o Governo”, declarou Jordan Bardella, presidente do RN, garantindo que o partido votará a favor da censura, “independentemente do partido político que esteja na origem”.

Boris Vallaud, presidente do grupo socialista na Assembleia francesa, também já grantiu que votará a favor da moção de censura. “Fizemos propostas muito concretas, mas ele [o primeiro-ministro] admitiu-nos que não poderia fraturar a sua base comum. A sua censura é da sua responsabilidade e sim, votarei a favor ”, afirmou o presidente do grupo socialista na Assembleia Nacional.
Barnier e Macron otimistas
Apesar deste cenário nada favorável para o Governo, Michel Barnier e Emmanuel Macron mantêm-se confiantes na continuidade do Governo.

Em entrevista televisiva na noite de terça-feira, o primeiro-ministro francês disse acreditar num “reflexo de responsabilidade" dos deputados para evitar a censura do executivo, a pensar no "melhor interesse do país".

“O momento é sério. É difícil, mas as apostas não são impossíveis”, disse Barnier.

Em declarações à margem da visita que está a fazer à Arábia Saudita, Emmanuel Macron disse aos jornalistas que não acredita que o Parlamento aprove as moções de censura ao Governo e criticou a extrema-direita e o Partido Socialista por se unirem à extrema-esquerda.

O chefe de Estado procurou minimizar a situação ao mesmo tempo que garantiu ter “confiança na coerência das pessoas”.

Macron deverá chegar a Paris já depois do voto das moções de censura. Se as ameaças políticas se concretizarem, o presidente francês terá de nomear um novo primeiro-ministro. O processo poderá levar semanas, tal como aconteceu no verão.

Macron poderia pedir aos partidos que procurassem uma nova maioria de coligação ou nomeassem um governo estritamente tecnocrático até que novas eleições legislativas pudessem ser realizadas, no próximo verão.

Com uma crise do défice galopante e uma proposta de orçamento muito restritiva para o próximo ano, mais a subida de impostos e cortes nas despesas, França enfrenta assim uma nova crise política, que se arrasta desde que Macron convocou eleições antecipadas em junho, que deixaram o Parlamento dividido em três fações políticas, nenhuma com maioria absoluta.

O colapso iminente do Governo francês deixará a Europa ainda mais frágil, numa altura em que a Alemanha também está enfraquecida e em período pré-eleitoral e a poucas semanas da tomada de posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump.
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