Estela Osório mudou, no espaço de 15 dias, toda a vida para Cabo Verde. Dois anos depois, acaba de abrir o "Petit Café", que era para ser especializado em bacalhau, mas que está a atrair sobretudo pelas francesinhas.
Gestora imobiliária, 42 anos, Estela Osório, açoriana do Pico, nunca viveu no Porto, não tinha qualquer experiência na área da restauração e, segundo disse à Lusa, "nem em casa gosta de cozinhar".
Há cerca de dois anos, decidiu acompanhar o marido, advogado, para Cabo Verde, onde tem parte da família.
Depois de vários anos a seguir para onde o trabalho os levava, o casal, que viveu no Canadá, Madeira, Açores e em vários sítios do continente português, veio para a cidade da Praia à procura das raízes e de estabilidade para a filha Matilde, de 11 anos.
"Decidimos que estava na altura de ela ter estabilidade para criar amigos", contou Estela Osório à Lusa, sentada no sofá verde do seu "Petit Café", situado na principal rua da zona histórica da cidade da Praia (Plateau).
São poucos metros quadrados de espaço, incluindo uma pequena esplanada, mas cheios de sabores portugueses, onde não falta o bacalhau, mas onde este parece já não ser rei.
"O meu marido estudou no Porto e adora francesinha. A ideia do restaurante era sermos mais especialistas em bacalhau, porque muita gente gosta de bacalhau. O bacalhau em Cabo Verde é extremamente caro e a ideia era fazer pratos de bacalhau mais económicos", disse.
Mas, acrescentou, um dia surgiu a ideia de promover a sexta-feira da francesinha. A ideia pegou e o prato típico do Porto tornou-se na estrela da casa.
Filho de um português e de uma cabo-verdiana, o marido de Estela nasceu em Angola, viveu no antigo Zaire, em Trás-os-Montes e no Porto, onde se "apaixonou" pela francesinha.
"Não sabia fazer a francesinha, mas o meu marido ensinou-me. Experimentei com a cozinheira, começamos a fazer e as pessoas começaram a gostar" acrescentou.
Dois meses depois da abertura, são cada vez mais os que vêm de propósito para provar o prato tradicional da zona do Porto.
"Já se criou aquele hábito de as pessoas virem pela francesinha. Há até quem já me telefone a encomendar", sobretudo portugueses, adiantou.
"Os cabo-verdianos vêm ainda desconfiados. Muita gente nem sabe o que é a francesinha, outros confundem e dizem a portuguesinha e muita gente vem com a ideia de que é um parto açoriano", conta.
Por isso, Estela Osório viu-se "obrigada" a pesquisar a história do prato, que é, na prática, uma sanduíche, adaptada do tradicional "croque monsieur" francês cruzado com o lanche inglês Welsh Rarebit, "inventada" por um emigrante português em França e popularizada quando este regressou ao Porto para gerir um restaurante.
Agora, além de cozinhar, esta açoriana promove também a história do prato junto dos clientes, acabando por ser uma espécie de "embaixadora da francesinha".
Comida tradicional açoriana é que não há, porque, segundo Estela Osório, é um tipo de cozinha que requer utensílios difíceis de encontrar em Cabo Verde.
Paralelamente, continua a gerir as propriedades de 70 clientes estrangeiros em Portugal, e prepara-se para, em breve, abrir uma padaria na Achada de Santo António, o bairro mais populoso da cidade da Praia.