35 casos por 100 mil habitantes: na Alemanha patamar de emergência, em Portugal já largamente superado
A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou esta sexta-feira estar disposta a adotar medidas mais restritivas se o país exceder os 35 casos por 100 mil habitantes em uma semana. Em Portugal, este limite foi já largamente ultrapassado, com a taxa de incidência nos últimos sete dias situada nos 64,6 casos por 100 mil habitantes. O Governo português já anunciou que irá reapreciar as medidas a adotar após 15 de outubro.
Atingido esse limite, está previsto, a pedido das cidades, o envio de peritos do Robert-Koch-Institut (RKI) para os grupos de emergência locais, bem como a intervenção do exército federal para apoio às medidas que forem implementadas.
De acordo com a revista alemã Der Spiegel, se os números não estabilizarem e a taxa de incidência aumentar para 50 novas infeções por 100 mil habitantes a chanceler alemã promete a implementação de medidas mais rigorosas, nomeadamente o uso obrigatório de máscara em todos os espaços públicos, sempre que o distanciamento social não possa ser garantido. Haverá também horários de fecho mais estritos para a restauração e limitações à venda álcool, bem como limites ao número de participantes em festas e reuniões privadas. As escolas devem permanecer abertas na medida do possível, acrescentou a chanceler.
"O nosso objetivo deve ser manter as infeções numa única zona, onde cada infeção pode ser seguida, onde as pessoas podem ser avisadas e onde é possível voltar a quebrar as cadeias de contágio", explicou Merkel.
Até ao momento, a Alemanha tem conseguido manter o número de casos e de mortes abaixo dos países vizinhos, mas o número de contágios disparou nos últimos dias. Esta sexta-feira, o país registou 4.500 novas infeções, o número mais elevado desde meados de abril. O número total de infeções no país subiu, assim, para 314.660, com 9.589 óbitos, onze dos quais nas últimas 24 horas.
O rápido avanço da Covid-19 nas últimas semanas faz temer que se chegue a um pico no que diz respeito aos contágios, em valores semelhantes aos da "primeira onda", na Alemanha, entre finais de março e princípios de abril, em que se registaram cerca de seis mil infeções diárias.
Na quinta-feira, o RKI alertou que podem verificar-se dez mil novos casos diários se não forem aplicadas medidas que venham a conter a propagação do novo coronavírus. O ministro alemão da Saúde afirmou na quinta-feira que quer evitar um aumento exponencial e “chegar a um ponto nesta pandemia em que perdemos o controlo”.
Merkel afirmou que “ainda é possível controlar a pandemia na Alemanha”, reconhecendo que as medidas agora decididas "doem", mas que são a única forma de combater o alastramento da pandemia, num momento que pode ser decisivo. A chanceler alemã sublinha que a prioridade é evitar paralisar a economia e confinar a sociedade novamente.
"Agora decide-se como é que a Alemanha atravessa o inverno com a pandemia [e se] nós, na Alemanha, conseguimos manter a pandemia debaixo de controlo ou se o controlo nos escapa", disse Angela Merkel, acrescentando que, “no geral, o verão correu muito bem, mas agora vemos um quadro que é motivo de preocupação”.
Na quarta-feira, os líderes dos Estados federais tinham estado já reunidos para discutir as restrições impostas aos viajantes nas denominadas “zonas vermelhas” alemãs. A maioria dos Estados proibiu as deslocações aos residentes provenientes das zonas de grande incidência a não ser que apresentem um teste negativo realizado nas 48 horas anteriores à viagem.
Merkel e os presidentes das principais cidades alemãs irão reunir-se novamente dentro de duas semanas para avaliar a eficácia das medidas implementadas, disse Merkel, acrescentando: “Provamos que podemos lutar juntos contra o vírus e devemos fazer isso novamente”.
Portugal com quase o dobro do patamar de emergência alemão
Em Portugal, a taxa de incidência nos últimos sete dias disparou para 64,6 novos casos por 100 mil habitantes, cerca do dobro do patamar mínimo de emergência imposto pelo governo alemão. Se olharmos para a taxa acumulada dos últimos 14 dias em Portugal, esta traduz-se em 115,4 casos de Covid-19 por 100 mil habitantes.
Os números foram avançados esta sexta-feira pela ministra da Saúde, num dia em que o país registou 1394 novos casos e 12 vítimas mortais, os segundos piores números relativamente às infeções diárias desde o início da pandemia. É preciso recuar a 10 de abril para se observar um valor de novas infeções mais elevado: 1516, sendo que esse foi um dia excecional dado que incluiu atualizações de dias anteriores.
O número de internamentos continua também a aumentar. Nas últimas 24 horas, mais dez pessoas foram internadas, elevando o total para 811. Nos cuidados intensivos, foram igualmente internados mais dez doentes, para um total de 125.
Em estado de contingência desde 15 de setembro, Portugal encontra-se sob um conjunto de medidas que foram definidas pelo Conselho de Ministros quatro dias antes da entrada em vigor desta nova fase de controlo da pandemia. As medidas incluem o limite de ajuntamentos a dez pessoas, a criação de brigadas distritais de intervenção rápida nos lares e horários de trabalho desfasados de forma a evitar a concentração de pessoas na hora de ponta.
Até ao momento, não foram impostas novas restrições, mas a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, adiantou na quinta-feira que o Governo vai avaliar na próxima semana, altura em que termina o período de situação de contingência, eventuais medidas que possam vir a ser necessárias, perante o número crescente de infetados por Covid-19. No entanto, o Governo tem reiterado a ideia de que o país dificilmente voltará a uma situação de confinamento generalizado.
“Tomaremos sempre as medidas necessárias para cada momento de evolução da pandemia, nunca tomaremos medidas que não consideremos necessárias e teremos sempre a capacidade de recuar”, sublinhou a ministra da Presidência.
Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que o país está a atravessar “tempos muito difíceis” e advertiu mesmo para “período muito grave” da pandemia em Portugal. “Basta olhar para os exemplos lá de fora para perceber o que vamos viver durante semanas ou, porventura, durante uns meses”, disse o presidente da República esta sexta-feira. “Teremos de viver com isso”, disse Marcelo, acrescentando que isso implica a tomada de medidas e que o Governo vai “reapreciar a situação e as medidas a adotar para depois de 15 de outubro, em função da dos números dos próximos dias”.
Marcelo apelou ainda para que “as medidas que venham a ser adotadas, sejam verdadeiramente cumpridas pelas pessoas e que assumam que é fundamental para não parar a sociedade e a economia e aumentar o desemprego”.
c/agências