1 de janeiro de 2025, o dia em que o gás russo deixou de chegar à Europa via Ucrânia

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Stefab Sauer - AFP

Chegou ao fim, no primeiro dia de 2025, um acordo de cinco anos que permitiu o fornecimento de gás russo à Europa através da Ucrânia. Volodymyr Zelensky veio afirmar que Kiev não permitirá que a Rússia continue a "ganhar mais milhares de milhões com o sangue" dos ucranianos e que a medida é "uma das maiores derrotas de Moscovo". A Comissão Europeia garante que os países da União estão preparados, mas o impacto da medida já se faz sentir em países do leste, nomeadamente na Moldova.

“Devido à recusa repetida e claramente expressa do lado ucraniano em renovar esses acordos, a Gazprom foi privada da capacidade técnica e legal de fornecer gás para trânsito pelo território da Ucrânia a partir de 1.º de janeiro de 2025", anunciou a empresa russa Gazprom, na quarta-feira, através de uma publicação no Telegram.

A partir das 8h00 de Moscovo, menos três horas em Lisboa, o fluxo de gás russo foi interrompido, segundo a empresa.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, assinalou a data através de uma publicação nas redes sociais em que considerou tratar-se de "uma das maiores derrotas" do presidente russo desde o início da guerra.

"Quando Putin assumiu o poder na Rússia, há mais de 25 anos, a transferência anual de gás através da Ucrânia para a Europa era de mais de 130 bilhões de metros cúbicos. Hoje, o trânsito de gás russo é zero. Essa é uma das maiores derrotas de Moscovo"
, declarou.

A Comissão Europeia afirmou que a UE estava preparada para lidar com a interrupção do fluxo de gás russo, minimizando o impacto da interrupção das exportações. "A infraestrutura europeia de gás é suficientemente flexível para fornecer gás de origem não russa à Europa Central e Oriental através de rotas alternativas", disse um porta-voz. "Foi reforçada com novas capacidades significativas de importação de gás natural liquefeito (GNL) desde 2022", acrescentou.
Desde o início da invasão da Ucrânia que a UE reduziu significativamente as importações de gás da Rússia e procurou fontes alternativas de gás natural no Catar e EUA e de gás canalizado proveniente da Noruega, Países Baixos e da Bélgica.
"Impacto drástico"

Apesar da preparação da maioria dos Estados-membros da UE para a mudança, países da Europa oriental, como a Eslováquia e a Áustria, continuaram a depender em grande escala dos fornecimentos de gás da Rússia e poderão vir a pagar um preço mais caro.

O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, disse na quarta-feira que a interrupção do fluxo de gás através da Ucrância terá um impacto "drástico" nos países da UE, mas não na Rússia, argumentando que levaria a um aumento dos preços do gás e da eletricidade na Europa, nomenadamente na Eslováquia. 

O líder eslovaco, pró-russo, alertou que o fim do acordo custaria ao seu país centenas de milhões de euros em rotas alternativas já que a Eslováquia é o principal ponto de entrada de gás russo na UE e que até então Bratislava lucrava com as taxas de trânsito por transportar o gás russo para a Áustria, Hungria e Itália.

Fora do bloco comunitário, a Moldova já está a sofrer os impactos do corte do fornecimento de gás russo, em pleno inverno gelado, de acordo com a BBC. Na região separatistada Transnístria, que é leal a Moscovo e economicamente dependente do gás russo, o "ano começou com apenas hospitais e infraestruturas críticas a serem aquecidas, não as casas", relata.

A empresa russa Gazprom anunciou em dezembro que iria interromper o fornecimento de gás para aquele país devido a uma disputa sobre uma alegada dívida de 709 milhões de dólares (cerca de 1,1 mil milhões de euros) relativa a fornecimentos anteriores. 

Uma reinvidicação rejeitada pelo Governo moldovo pró-ocidental de Maia Sandu, que acusou Moscovo de utilizar as suas exportações de energias como "táticas de opressão".

c/ agências




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