S&P reduz rating da França para AA- mas governo argumenta com apoios no covid

por Lusa

A agência de notação financeira S&P Global Ratings baixou esta sexta-feira, pela primeira vez desde 2013, a nota da dívida soberana da França, de AA para AA-, sancionando a "deterioração da posição orçamental" do país.

"A degradação reflete a nossa projeção que, ao contrário das nossas expectativas anteriores, a dívida pública francesa, em proporção do produto interno bruto [PIB], vai aumentar devido aos défices superiores ao esperado em 2023-2027", justificou a empresa de ratings, no texto de análise que acompanhava a nota atribuída.

Aí, lembrou que o défice orçamental tinha sido em 2023 "nitidamente mais elevado" do que a agência tinha previsto".

A S&P não acredita que o défice seja reduzido para três por cento do PIB em 2027, como o governo prevê, contrapondo mesmo uma previsão de 3,5%.

"Sem medidas suplementares de redução do défice orçamental, pensamos que as reformas não vão ser suficientes para permitir ao país atingir os seus objetivos orçamentais", acrescentou-se no texto.

A S&P só tinha revisto em baixa a nota atribuída à França por duas vezes, em janeiro de 2012 e em novembro de 201.

A França sai assim do grupo que integra, entre outros, o Reino Unido e a Bélgica, mas tem uma nota melhor do que, por exemplo, Espanha ou Itália.

O risco inerente a uma revisão em baixa da notação financeira é o de um movimento de desconfiança e retração dos investidores e um agravamento do peso da dívida.

Contudo, apesar de um duplo AA qualificado por um sinal negativo, a capacidade de a França honrar os pagamentos do serviço da dívida permanece "muito forte", na opinião da empresa de rating.

Desde há vários trimestres que este risco de revisão em baixa do rating existia.

O anterior duplo AA estava acompanhado desde dezembro de 2022, de uma "perspetiva negativa".

Durante a sua análise anterior da economia francesa, a S&P, em dezembro, tinha avisado que a França arriscava a revisão em baixa do seu rating, se diminuísse muito lentamente os seus défices para conduzir a uma redução do défice, ou se os juros dos empréstimos subissem para mais de cinco por cento das receitas das administrações públicas.

A derrapagem surpresa do défice público relativo a 2023 anunciado pelo governo, para 5,5% do PIB, em vez dos 4,9% esperados, não jogou a seu favor, apesar de uma série de medidas que permitiriam, na opinião do Executivo, regressar ao terreno almejado.

A S&P dá notas à França desde 1975. Foi a primeira agência, em 2012, a retirar-lhe o simbólico estatuto de triplo A, que é a melhor nota possível e símbolo de uma excelente gestão, partilhada por um círculo restrito, que inclui, por exemplo, Alemanha e Austrália.

Em abril, as outras duas agências relevantes da notação financeira, a Moody`s e a Fitch, não reviram em baixa a sua notação da dívida francesa.

A primeira atribui a nota Aa2, que corresponde ao AA da S&P, e a segunda classifica a França com AA- desde abril de 2023.

O ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, em reação, reafirmou a vontade governamental de reduzir o défice orçamental para menos de três por cento do PIB em 2027.

O ministro acrescentou ainda que "a razão princip0al desta degradação foi o salvamento da economia francesa", evocando, em particular, a despesas de apoio à economia durante a pandemia do novo coronavirus.

 

 

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