Rússia insta ONU e Estados-membros a recusarem participar na Conferência para a Paz

por Lusa

A Rússia instou esta sexta-feira o Secretariado das Nações Unidas (ONU), assim os Estados-membros da organização, a rejeitarem participar na Conferência para a Paz na Ucrânia, a qual considerou "provocativa e absolutamente inútil".

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU convocada por Moscovo para discutir a autorização dada à Ucrânia para utilizar armas ocidentais contra alvos dentro da Rússia, o embaixador russo, Vasily Nebenzya, pediu aos Estados-membros da ONU para que "não se deixem usar como figurantes nas intrigas antirrussas do Ocidente".

Acusando os líderes ocidentais de "empurrarem a Europa para a beira de uma nova grande guerra", Nebenzya dirigiu-se especialmente aos "países do Sul Global" e a todos os países "cujas lideranças estão a seguir um caminho sensato", instando-os a não acreditarem nos objetivos da Conferência para a Paz, uma vez que não passa de "uma tentativa primitiva de apresentar um ultimato à Rússia".

A Suíça acolhe entre sábado e domingo a Conferência para a Paz na Ucrânia, que juntará representantes de mais de 90 países e organizações, incluindo Portugal, mas não da Rússia nem da China, entre outros ausentes de peso.

O objetivo da conferência, organizada pela Suíça na sequência de um pedido nesse sentido formulado pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é "inspirar um futuro processo de paz", tendo por base "os debates que tiveram lugar nos últimos meses, nomeadamente o plano de paz ucraniano e outras propostas de paz baseadas na Carta das Nações Unidas e nos princípios fundamentais do direito internacional".

"A flagrante hipocrisia de todo este empreendimento é óbvia. De que tipo de paz podemos falar se os seus organizadores realizam pseudo-conferências de paz com uma mão e com a outra aumentam o fornecimento de armas ao regime de Kiev, e até dão abertamente `luz verde` para a sua utilização em território russo?", questionou o representante permanente da Rússia junto da ONU.

Nebenzya aproveitou ainda para elogiar a China, por demonstrar "consistentemente uma compreensão profunda das causas profundas da crise" na Ucrânia. 

Na reunião de hoje do Conselho de Segurança, países ocidentais como o Reino Unidos advogaram que o facto de a Ucrânia estar a atacar alvos militares que ameaçam ativamente o seu território, infraestruturas e população civil não é uma "escalada", como a Rússia afirmou, "mas um passo razoável para se proteger". 

"Todos os países numa situação semelhante fariam o mesmo", observou o diplomata britânico James Kariuki.

Já o embaixador norte-americano Robert Wood avaliou que a reunião convocada pela Rússia na véspera da Conferência para a Paz "é uma tentativa transparente de distrair o mundo e culpar todos, menos a si próprio, pelo que está a acontecer na Ucrânia" e apelou à comunidade internacional para que participe na cimeira.

Nesta cimeira, que começa no sábado à tarde na luxuosa estância suíça de Burgenstock, nos arredores de Lucerna, centro da Suíça, para a qual foram destacados 4 mil militares para garantir a segurança do evento, a Ucrânia espera obter um largo apoio internacional a um plano conjunto de paz, já na perspetiva de uma segunda cimeira, para a qual seria convidada a Rússia, que atualmente ocupa cerca de 20% do seu território, na sequência da ofensiva militar lançada em fevereiro de 2022.

Entre os participantes -- cerca de metade dos quais da Europa - contam-se, além de Zelensky, a vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o Presidente francês, Emmanuel Macron.

Além da Rússia, um outro grande ausente de peso é a China, um dos grandes aliados de Moscovo e visto como intermediário fundamental para futuras conversações de paz, que rejeitou participar dada a ausência de Moscovo, tendo Zelensky acusado Pequim de trabalhar em conjunto com o Kremlin (presidência russa) para sabotar a conferência, ao pressionar países para não participarem.

Portugal estará representado na conferência pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.

 

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