A justiça francesa pediu informações complementares antes de se pronunciar sobre uma queixa contra a TotalEnergies por homicídio involuntário e omissão de socorro durante um ataque extremista no norte de Moçambique, anunciou esta segunda-feira o Ministério Público de Nanterre.
Em causa está uma queixa apresentada por sobreviventes e familiares das vítimas de um ataque de fundamentalistas islâmicos em Palma, Moçambique, em março de 2021, detalhou o Ministério Público de Nanterre, perto de Paris.
Depois de ouvir os argumentos da TotalEnergies, que realizava um megaprojeto de exploração de gás na região e que é acusada de uma série de negligências, e os dos queixosos, o Ministério Público decidirá "se instaura um processo, se arquiva o caso ou se procede a novas investigações", acrescentou o Ministério Público de Nanterre, contactado pela AFP.
As vítimas, três sobreviventes e quatro familiares de nacionalidade sul-africana e britânica, acusam o grupo (ex-Total) de não garantir a segurança dos seus subcontratantes.
Contactada hoje pela AFP, a TotalEnergies remeteu para um comunicado de imprensa emitido em outubro de 2023, quando a queixa foi apresentada.
"A empresa (...) deseja, por um lado, rejeitar firmemente estas acusações e, por outro lado, recordar a assistência de emergência que as equipas da Mozambique LNG (a empresa do projeto) prestaram e os recursos que mobilizaram para permitir a retirada de mais de 2.500 pessoas (civis, funcionários, empreiteiros e subempreiteiros) do local de Afungi", onde se situa o projeto de gás liquefeito, escreveu o grupo na altura.
O ataque em Palma, reivindicado por um ramo africano do grupo extremista Estado Islâmico (EI), teve início em 24 de março de 2021, durou vários dias e, até à data, causou um número desconhecido de vítimas entre a população local e os subcontratantes da TotalEnergies.
Maputo apenas indicou um número de cerca de 30 mortos, mas, segundo um jornalista independente, Alexander Perry, o número de vítimas ascende a 1.402 civis mortos ou desaparecidos, incluindo 55 subcontratantes.
Muitos deles tinham-se refugiado num hotel nos arredores da cidade, que foi cercado pelos extremistas.
Na ocasião, a Total liderava o megaprojeto de exploração de um enorme depósito de gás natural na península de Afungi.
O ataque levou à suspensão do projeto, que representa um investimento total de 20 mil milhões de dólares (18 mil milhões de euros).
O presidente do grupo, Patrick Pouyanné, havia referido que esperava relançar o projeto antes do final de 2023, algo que não sucedeu.