Jovens em África só deixam de ser entrave ao crescimento em 2050
O fundador do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) defende que a grande quantidade de jovens em África só será uma vantagem por volta de 2050, sendo um entrave ao crescimento económico até lá.
"A grande população jovem de África é muitas vezes encarada como um ativo, mas, até os rácios de dependência mudarem, continuará a ser a maior barreira ao crescimento do continente", escreveu Jakkie Cilliers numa investigação publicada pelo IES, um instituto de pesquisa da África do Sul.
Na base da argumentação deste investigador com vários livros publicados sobre o crescimento económico no continente está a assunção de que o elevado rácio de dependentes, sejam jovens até aos 15 anos, ou pessoas com mais de 64, é um peso que limita a produtividade laboral da população em idade ativa.
"Em 2025, o rácio de 1,3 pessoas dependentes na África subsaariana para cada pessoa em idade laboral ativa significa que o crescimento lento no tamanho da população laboral em relação aos dependentes (a fonte primária de crescimento económico na África subsaariana) traduz-se em taxas de crescimento económico constantes, mas não espetaculares", aponta Jakkie Cilliers.
Assim, com o crescimento da população jovem e a entrada no mercado de trabalho, só em 2050 é que a África subsaariana, onde está a maioria dos países lusófonos, vai entrar numa potencial janela de oportunidade demográfica, quando o rácio de pessoas em idade ativa face a dependentes chegar a 1,7 para 1, "o número mágico em que a contribuição da força de trabalho é tal que começa a proporcionar taxas de crescimento económico mais rápidas".
Para além da demografia, outra das razões que explica as taxas de crescimento económico relativamente baixas em comparação com outras regiões do mundo, como a Ásia, durante os últimos 50 anos, é a falta de aposta na agricultura para lá da agricultura de subsistência.
"Os africanos adoram lembrar o grande potencial agrícola do continente, mas a realidade é que África ainda não teve a sua revolução agrícola; pelo contrário, está a tornar-se cada vez mais insegura do ponto de vista alimentar a cada ano que passa, por causa do subinvestimento na agricultura e pela profundamente enraizada associação entre agricultura, pobreza e sofrimento, que faz com que seja o setor menos atraente entre os jovens africanos", escreve Jakkie Cilliers.
Ao contrário do norte de África, que já está no ponto da transição demográfica, a África subsaariana ainda está numa fase embrionária, nomeadamente na região do Sahel e da África Central, pelo que a aceleração para este ponto a partir do qual a juventude do continente é um motor e não um entrave ao crescimento vai implicar escolhas políticas muito concretas.
"Investir na educação das raparigas, expandir o acesso à saúde reprodutiva, transformar as economias rurais e potenciar setores de força de trabalho intensiva que possam absorver a força laboral dos jovens" será fundamental, aponta o autor, concluindo que, mais cedo ou mais tarde, a direção do "inevitável movimento da força de trabalho" vai contrariar a história, movendo-se de África para o mundo, e não do resto do mundo para África.
A expressão `dividendo demográfico` é geralmente usada para referenciar o potencial de crescimento económico que surge quando uma população tem uma elevada proporção de jovens em idade ativa, ou seja, entre os 15 e os 60 anos, e uma baixa taxa de dependência, isto é, um baixo número de pessoas dependentes em relação aos trabalhadores.
De acordo com os números da União Africana (UA), África tem a população mais jovem do mundo, com mais de 400 milhões de pessoas com idade entre 15 e 35 anos, e espera-se que a sua população jovem ultrapasse os 830 milhões até 2050, o que compara com cerca de 1,3 mil milhões de pessoas que habitam atualmente no continente.