Os dois ex-governantes detidos na Guiné-Bissau por alegada corrupção vão ser ouvidos sexta-feira, no âmbito de inquéritos da Justiça Militar à alegada tentativa de golpe de Estado (30 de novembro e 01 de dezembro de 2023).
A informação foi hoje avançada à Lusa por fonte judicial com a indicação que a audição do ex-ministro da Economia e Finanças, Suleimane Seidi, e do ex-secretário de Estado do Tesouro, António Monteiro, está marcada para as 09:00 (10:00 em Lisboa) de sexta-feira.
A fonte judicial explicou que os dois ex-governantes serão ouvidos na Promotoria da Justiça Militar, junto ao Tribunal Militar Regional de Bissau, no bairro da Santa Luzia.
A audição, disse, deverá ocorrer no âmbito de inquéritos que a justiça militar está a conduzir junto de elementos da Guarda Nacional acusados de tentativa de golpe de Estado.
Elementos daquela corporação retiraram das celas da Polícia Judiciária, Suleimane Seidi e António Monteiro, na noite de 30 de novembro de 2023, tendo-os levado para o seu aquartelamento, de onde seriam resgatados, no dia 01 de dezembro, e reconduzidos às celas da PJ.
A ação resultou em trocas de tiros entre a Guarda Nacional e as Forças Armadas guineenses.
O Presidente, Umaro Sissoco Embaló, considerou os acontecimentos uma tentativa de golpe de Estado e dissolveu a Assembleia Nacional Popular e substituiu o Governo da maioria PAI-Terra Ranka por outro de iniciativa presidencial.
Os dois ex-governantes estão acusados de terem pagado indevidamente uma dívida de seis biliões de francos cfa (cerca nove milhões de euros) a um grupo de 11 empresários.
O julgamento do ex-ministro e do ex-secretário de Estado esteve marcado para 11 de março, mas foi adiada, sem nova data, devido a um incidente de inconstitucionalidade levantado pelos advogados de defesa.
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, considera que os seis biliões de francos foram retirados dos cofres do Estado para financiar o golpe e acusou o parlamento de ter "protegido" a ação dos dois ex-governantes "ao invés de os denunciar".
Sissoco Embaló demitiu o então Governo e dissolveu o parlamento, que acusa de ser foco de instabilidade no país.
A Plataforma Aliança Inclusiva (PAI)- Terra Ranka, liderada pelo PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) acusou o Presidente de ter tomado uma medida ilegal, uma vez que, à luz da Constituição, o hemiciclo não pode ser destituído antes de completar 12 meses.
A decisão do Presidente aconteceu cinco meses após a entrada em funções do parlamento saído das eleições legislativas de junho de 2023.