Ex-administrador julgava haver almofada para perdas ao iniciar funções

por Lusa
Mafalda Leitão - Lusa

O último administrador financeiro do Banco Espírito Santo (BES) garantiu esta segunda-feira que quando iniciou funções, em julho de 2014, o objetivo não era a recapitalização da instituição, uma vez que existiria "uma almofada de capital" para colmatar eventuais perdas.

"Quando fomos para o banco, foi-nos dito que haveria uma almofada de capital para fazer face às perdas que adviessem", recordou João Moreira Rato no julgamento do processo principal do colapso do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), a decorrer desde 15 de outubro de 2024 no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

João Moreira Rato, que foi ouvido na condição de testemunha, entrou na administração do banco menos de um mês antes da resolução do BES, acompanhado de Vítor Bento e José Honório. Sucederam os três, respetivamente, a Amílcar Morais Pires, Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo e transitaram depois para o Novo Banco.

A situação de liquidez do BES era então "muito mais complexa" do que a equipa tinha antecipado e, por isso, o objetivo "passou a ser encontrar investidores privados".

O economista acrescentou que, a 01 de agosto de 2014, os administradores reuniram-se com o Banco de Portugal "com a ideia de falar da possibilidade de uma recapitalização privada", tendo sido nesse encontro informados de que a resolução do BES iria avançar dias depois.

O processo principal da queda do BES/GES conta atualmente com 18 arguidos, incluindo Ricardo Salgado, de 80 anos e diagnosticado com a doença de Alzheimer, e Amílcar Morais Pires, de 63. José Manuel Espírito Santo chegou a ser igualmente acusado pelo Ministério Público, mas morreu antes de o julgamento começar.

O Ministério Público estima que os atos alegadamente praticados entre 2009 e 2014 pelos 18 arguidos, ex-quadros do BES e de outras entidades da esfera do GES, tenham causado prejuízos de 11,8 mil milhões de euros ao banco e ao grupo.

Estão acusados de centenas de crimes económico-financeiros, incluindo vários de corrupção ativa e passiva no setor privado e burla qualificada.

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