Emirados reforçam laços com Angola para aprofundar influência no continente

por Lusa

Angola tem uma importância estratégica crescente para os Emirados Árabes Unidos (EAU), que aposta em investimentos significativos em fatores chave, o que comporta riscos e não tem retorno garantido, defende um especialista em assuntos militares e de defesa.

Albert Vidal Ribe sustenta, numa análise publicada pelo Instituo Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), que os EAU se têm aproximado de Angola através de investimentos significativos em setores chaves como a energia, tecnologia e logística marítima, encontrando em Angola um mercado em crescimento, acesso potencial a minerais críticos e "a oportunidade de aprofundar a sua influência no continente, num contexto de diminuição do investimento chinês". 

O investigador aponta o envolvimento de multinacionais como a Masdar, DP World, AD Ports Group, EDGE Group e G42 na economia angolana, numa altura em que os interesses dos Emirados -- que ambiciona tornar-se um centro de ligação entre África, o Médio Oriente e a Ásia -- crescem em África.

Os EAU, principal mercado dos diamantes angolanos, esperam também transformar Angola num fornecedor fiável de produtos alimentares nos próximos anos, escreve o investigador na análise divulgada no site deste `think tank` britânico.

Entre 2012 e 2022, o investimento direto estrangeiro dos Emirados em África totalizou 59,4 mil milhões de dólares, tornando-se no terceiro maior investidor do continente africano.

Entre EAU e Angola os laços têm vindo a aprofundar-se desde 2021, refletindo o significativo potencial de investimento deste país, com população em rápido crescimento e uma economia em recuperação depois de ter sofrido uma grave recessão no final da década de 2010.

Nos últimos anos, os laços bilaterais com Angola floresceram à medida que as empresas dos Emirados capitalizaram o seu poder financeiro e a experiência, assinando acordos e memorandos de entendimento (MoUs) que abrangem os setores das TI e telecomunicações, agricultura, infraestruturas públicas e energias renováveis, bem como um grande projeto de desenvolvimento de utilização mista.

Albert Vidal Ribe destaca também o potencial agrícola significativo, que poderá ajudar os EAU a diversificar as suas importações de alimentos, bem como os diamantes e o potencial mineral significativo de Angola, "com grandes áreas inexploradas que se acredita conterem reservas consideráveis de minerais críticos e de terras raras, como o cobre, o cobalto, o manganês e o lítio, todos eles essenciais para as ambições tecnológicas e de energias renováveis dos EAU".

Por outro lado, os projetos de infraestruturas regionais que transitam por Angola, como o Corredor ferroviário do Lobito, poderiam maximizar as oportunidades económicas dos EAU, que têm procurado adquirir participações em minas na Zâmbia e na República Democrática do Congo (RDCongo).

A ligação entre os três países, realça, poderia tornar-se uma rota de exportação primária para os minerais zambianos e congoleses.

Outro setor destacado é o envolvimento dos EAU com Angola no domínio marítimo, seja em termos de defesa ou nos investimentos portuários, com a DP World e a AD Ports, bem como possíveis desenvolvimentos conjuntos futuros que incluem uma academia marítima, plataformas logísticas, terminais de passageiros e ferries e o porto de cabotagem, bem como o desenvolvimento de um porto de águas profundas em Cabinda.

A complementaridade entre Angola - e outros países africanos - e os EAU indica que o envolvimento deverá continuar a aumentar, sublinha o académico, salientando, no entanto, que este maior envolvimento não está isento de desafios.

"Não é claro se todas as promessas de investimento acabarão por se concretizar", indica, acrescentando que a dependência excessiva dos EAU acarreta também os seus próprios riscos.

Além de uma possível desconfiança para a ligação de infraestruturas críticas a entidades dos Emirados, "Angola continua a ser um ambiente de negócios desafiante para os investidores dos Emirados, com uma elevada exposição aos choques globais do preço do petróleo e uma economia extremamente endividada com a China".

O que, "combinado com a pobreza generalizada e muitos outros desafios socioeconómicos em Angola, significa que o retorno do investimento não está garantido", conclui Vidal Ribe.


 

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