As eleições gerais de quarta-feira na África do Sul foram pacíficas e credíveis, apesar do "ambiente político tenso" marcado pela proibição da candidatura do antigo Presidente Jacob Zuma, anunciaram hoje os observadores eleitorais da União Africana (UA).
"Apesar da natureza pacífica das eleições anteriores, as eleições de 2024 foram marcadas por um ambiente político tenso, intensificado por várias disputas", afirmou o chefe da missão de observação eleitoral, o antigo Presidente queniano Uhuru Kenyatta, em comunicado.
Kenyatta referia-se a uma decisão do Tribunal Constitucional que impediu o antigo Presidente Zuma (2009-2018), condenado a 15 meses de prisão por desacato ao tribunal em 2021, de concorrer às eleições em plena campanha eleitoral.
Apesar disso, o partido de Zuma, uMkhonto weSizwe (Partido MK), criado em setembro, está, neste momento, com 13,29% dos votos, sendo a terceira força política mais votada, numa altura em que já foram contabilizados 84,57% dos votos.
No entanto, "apesar dos desafios e das tensões, as eleições decorreram de forma pacífica, demonstrando a resiliência dos processos democráticos da África do Sul", segundo a UA.
A UA enviou 65 observadores para o dia das eleições, que monitorizaram cerca de 300 assembleias de voto em todas as províncias da África do Sul.
No dia das eleições, registaram-se longas filas de eleitores e "alguns incidentes isolados" devido à lentidão do processo, mas "o dia foi geralmente calmo e pacífico", declarou.
Os observadores elogiaram igualmente o profissionalismo dos trabalhadores da Comissão Eleitoral Independente (IEC, na sigla em inglês).
Com 19.698 dos 23.293 dos círculos eleitorais escrutinados, correspondentes a 84,57% dos votos expressos, o partido no poder há 30 anos, o Congresso Nacional Africano (ANC) tem 41,16% dos votos, segundo os resultados até às 21:00 de hoje em Joanesburgo (20:00 em Lisboa), divulgados pela IEC.
Em segundo lugar na contagem está o Aliança Democrática (DA, na sigla em inglês, centro-direita liberal), de John Steenhuisen, com 22,15% dos votos, acima do resultado de 2019, em que obteve 20,77%.
O DA é o principal partido da oposição, tradicionalmente associado ao voto da minoria branca, que representa menos de 8% da população sul-africana.
O partido de extrema-esquerda Combatentes da Liberdade Económica (EFF), de Julius Malema, está com 9,39%.
Segundo os dados da IEC, a afluência às urnas foi de 58,43%, um valor inferior aos 66% registados nas últimas eleições legislativas, em 2019.
Com 27,6 milhões de eleitores registados, um total de 52 partidos concorreram às eleições nacionais de um novo parlamento de duas câmaras - a Assembleia Nacional (400 lugares) e o Conselho Nacional de Províncias (90 lugares) -, assim como às assembleias provinciais e regionais das nove províncias do país, em três boletins de voto.
A África do Sul, que faz fronteira com Moçambique, enfrenta problemas graves, nomeadamente o desemprego endémico, de 33%, as desigualdades sociais e a escassez de água e eletricidade.
Os resultados finais das eleições realizadas na quarta-feira podem demorar dias, com a comissão eleitoral a admitir só ter a contagem completa no domingo, embora fonte da comissão eleitoral tenha dito à Lusa que conta poder anunciar os resultados oficiais na tarde de sábado, incluindo os votos do estrangeiro.
Se se confirmarem estes resultados, sem uma maioria absoluta, apesar de continuar a ser o partido mais votado, o ANC terá de se coligar com outro partido para formar um Governo, ou governará com maioria relativa - algo que nunca tinha acontecido na África do Sul pós-`apartheid`.