Vários Estados-membros do Conselho de Segurança da ONU criticaram esta quinta-feira Israel pelas sucessivas ordens de evacuação em Gaza, que colocam em causa missões de ajuda humanitárias no enclave, e por novos ataques contra pessoal das Nações Unidas.
Numa reunião do Conselho de Segurança, convocada pela Suíça e pelo Reino Unido à luz da deterioração da situação humanitária em Gaza, a subsecretária-geral interina da ONU para Assuntos Humanitários, Joyce Msuya, confirmou que a resposta humanitária das Nações Unidas no enclave palestiniano enfrenta "dificuldades inigualáveis", denunciando o deslocamento forçado e ataques a tiro contra funcionários da ONU por parte das forças israelitas.
"As ordens de evacuação emitidas pelos militares israelitas aumentaram, com impactos devastadores sobre os civis. Até agora, neste mês, foram emitidas 16 dessas ordens. Somente entre 19 e 24 de agosto, cinco dessas ordens foram emitidas - o maior número numa única semana desde o início desta crise", disse Joyce Msuya.
"Essas ordens tiveram impacto num quarto de milhão de pessoas em 33 bairros em Deir al Balah, Khan Younis e norte de Gaza. O hospital Al Aqsa - um dos últimos grandes hospitais em funcionamento em Gaza -, assim como clínicas de saúde, poços de água, uma central de dessalinização e um reservatório de água, foram todos afetados por essas últimas ordens. A produção de água em Deir al Balah foi reduzida em cerca de 85%", relatou.
A ordem de evacuação subsequente, emitida por Israel em 25 de agosto, levou à maior recolocação de funcionários da ONU desde que foram forçados a deixar o norte de Gaza em outubro de 2023, acrescentou ainda a representante das Nações Unidas.
De acordo com as Nações Unidas, mais de 88% do território de Gaza recebeu uma ordem de evacuação em algum momento.
Nos últimos dias, cerca de 200 funcionários da ONU foram afetados por essas ordens, juntamente com nove abrigos e quatro armazéns da ONU, assim como seis abrigos de organizações não-governamentais.
"As ordens de evacuação parecem desafiar os requisitos do direito internacional humanitário", declarou Joyce Msuya.
"As comunidades vivem num [estado de] limbo, nunca sabendo quando a próxima ordem de fuga virá. E os civis estão a ser forçados a mover-se numa área cada vez menor, agora equivalente a apenas 11% do território de Gaza. É difícil colocar em palavras a imensa luta que as pessoas enfrentam para encontrar abrigo e outros itens essenciais", lamentou.
Joyce Msuya considerou "um alívio" ouvir na manhã de hoje que, após apelos da ONU e dos Estados-membros, o exército israelita emitiu uma reversão de ordens de evacuação para três quarteirões nos bairros ao sul de Deir al-Balah.
Esta é a primeira vez que ordens de evacuação foram revertidas desde o início do conflito, segundo a ONU, que explicou que as suas equipas tentam agora confirmar se podem regressar às instalações que se viram obrigadas a deixar em 25 de agosto.
Face ao cenário criado pelas ordens emitidas por Israel, vários Estados-membros, como Reino Unido, Suíça, Guiana, Eslovénia ou Coreia do Sul, criticaram Telavive pela sua gestão do conflito e por ataques como o registado esta semana contra um veículo do Programa Alimentar Mundial (PAM) que fazia parte de um comboio humanitário, exigindo responsabilização.
"O aumento das ordens de evacuação de última hora por parte de Israel, inclusive em áreas que deveriam fornecer refúgio seguro, está a causar mais caos, deixando novamente os palestinianos sem um lugar seguro para onde recorrer. (...) Israel deve minimizar as ordens de evacuação e fornecer aviso prévio de pelo menos 48 horas (...) e tomar medidas imediatas para proteger os trabalhadores humanitários.", instou o diplomata britânico James Kariuki
"A Suíça lembra que, como potência ocupante, Israel tem a obrigação de atender às necessidades humanitárias da população para atender a essas necessidades humanitárias", declarou, por sua vez, a embaixadora suíça, Pascale Baeriswyl.
Na reunião de hoje, a ONU frisou ainda que os civis palestinianos "estão com fome, com sede, estão doentes, desabrigados e foram empurrados além dos limites da resistência --- além do que qualquer ser humano deveria suportar".
Neste momento, a comunidade humanitária trabalha também para travar a propagação da poliomielite no enclave palestiniano, com a ONU a planear entregar vacinas já neste fim de semana.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 640.000 crianças menores de 10 anos deverão receber a vacina em Gaza, numa campanha que começará no domingo e que incluirá duas rondas de vacinação, com um intervalo de quatro semanas entre a primeira e segunda doses.
Os Estados-membros exigiram hoje o cumprimento de pausas humanitárias em prol da campanha de vacinação.
"Quando a campanha de vacinação começar e milhares de crianças vulneráveis e desacompanhadas se reunirem nos locais de vacinação, todas elas deverão ser protegidas", apelou James Kariuki.