Como o Haiti chegou à beira da guerra civil e desastre social

por Lusa

O Haiti, cujo governo prolongou esta quinta-feira por um mês o estado de emergência na zona da capital, está a beira de uma guerra civil envolvendo gangues armados, que ameaça causar um desastre humanitário.

A extensão do estado de emergência na zona onde se situa a capital -- Porto Príncipe -- ocorre depois de a violência ter provocado 15 mil deslocados nos últimos dias, num dos países mais pobres do mundo, e com o primeiro-ministro Ariel Henry ausente.

Eis alguns pontos essenciais sobre a crise de segurança e humanitária neste país caribenho:

+++ Quais as origens da crise? +++

Desde o assassinato do Presidente Jovenel Moïse em 2021, o Haiti mergulhou numa crise profunda.

Bandos armados assumiram o controlo de vastas áreas do país de 11,6 milhões de habitantes, incluindo Porto Príncipe.

Segundo a ONU, mais de 8.400 pessoas foram mortas, feridas ou raptadas por estes grupos criminosos no ano passado, "um aumento de 122% em relação a 2022".

A situação agravou-se na semana passada quando bandos armados atacaram as duas maiores prisões do Haiti, de onde terão fugido cerca de 3.600 reclusos, muitos deles líderes de bandos, segundo a agência de notícias AFP.

A fuga levou a uma nova escalada de violência que já provocou 15 mil deslocados nos últimos dias, disse na terça-feira o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.

"Vemos cadáveres nas ruas, ouvimos relatos das atrocidades a que mulheres e muitas crianças foram expostas", disse à BBC a coordenadora-chefe humanitária da ONU no Haiti Ulrika Richardson.

A violência alastrou a zonas rurais isoladas, à medida que a presença do Estado foi sendo corroída, sublinharam as Nações Unidas.

+++ Qual a dimensão da crise humanitária? +++

Na terça-feira, a ONU lançou um apelo a donativos de 674 milhões de dólares (615 milhões de euros) para ajudar 3,6 milhões de pessoas neste país, que enfrenta uma das mais graves crises alimentares do mundo.

"A população haitiana foi apanhada no meio do fogo cruzado", disse a chefe da UNICEF Catherine Russel, advertindo que "os espaços para as crianças foram transformados em campos de batalha".

+++ Qual a reação da comunidade internacional? +++

Em outubro, o Conselho de Segurança da ONU aceitou finalmente enviar uma missão multinacional para o país, liderada pelo Quénia, mas o seu envio continua pendente.

No final de fevereiro, cinco outros países, incluindo o Benim, tinham notificado a sua intenção de participar.

+++ Qual a dimensão da pobreza no país? +++

A pobreza é outro problema que afeta o Haiti, que continua a ser o país mais pobre das Américas.

De acordo com as estimativas do Banco Mundial, mais de 60% da população vivia com menos de 3,65 dólares por dia em 2023.

O Haiti ficou em 163º lugar entre 191 países em 2022, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU.

Com os problemas atuais, a economia do país tende a piorar.

"A economia está asfixiada, porque os gangues impõem restrições aos movimentos da população; o principal fornecedor de água potável no Haiti suspendeu as entregas; e pelo menos 313.000 pessoas estão atualmente deslocadas dentro do país", relatou O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Volker Türk.

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