Um Real Madrid que está em crise e já não consegue disfarçar

por Inês Geraldo - RTP
Real Madrid não tem razões para festejar esta época Reuters

Se a época não estava a correr bem, a eliminação precoce do Real Madrid na Taça do Rei em nada ajuda Zidane e companhia. Com uma campanha desastrosa na Liga Espanhola, a equipa de Madrid vê o Barcelona a tornar-se cada vez mais campeão com uma vantagem de 19 pontos e depois de um começo auspicioso com a conquista de duas Supertaças, para o que resta da época, o Real Madrid só tem a Liga dos Campeões como grande objetivo. O que levou o campeão espanhol e europeu a tão más exibições depois de uma temporada em que dominou o futebol mundial?

Com um início de época que prometia um Real Madrid forte e preparado para dominar o futebol em Espanha, em janeiro a equipa de Zinedine Zidane parece estar reduzida a apenas um título. A Liga Espanhola não corre de feição.

O Barcelona está a 19 pontos, com Ernesto Valverde a treinar os catalães que parecem fazer uma gestão cuidadosa mas também pouco sobressaltada da equipa. O talento puro e inato de jogadores como Messi e Luis Suárez parecem ser suficientes para o trajeto imaculado dos Blaugrana.

Na Taça do Rei, o descalabro. Na última noite esperava-se que o Real Madrid desse um passo para alcançar as meias-finais da prova mas nem o Santiago Bernabéu deu alento para conseguir levar de vencida o Leganés, que venceu os Merengues por 2-1.

Com as competições domésticas hipotecadas, pouco resta ao Real Madrid a não ser a Liga dos Campeões, prova em que os espanhóis vão defrontar o campeão francês, o PSG. Duas partidas que podem marcar definitivamente o balneário Blanco assim como a continuidade de Zinedine Zidane no comando técnico dos Merengues.

Para explicar o insucesso da equipa de Zidane há um grupo de razões.
Falta de golos da linha avançada
Quando Ronaldo não se encontra na melhor forma é fácil perceber a má forma do Real Madrid à frente das balizas. No entanto, a seca de golos de CR7 não pode ser o único motivo que explica o mau momento pelo qual passa a equipa de Zidane.

É verdade que Ronaldo não está a marcar tanto, o que configura um dos piores começos de época para o capitão português, que só tem paralelo quando Cristiano estava no Manchester United, a jogar a extremo e a providenciar assistências na equipa de Alex Ferguson.


Foto: Reuters

Mais que Ronaldo, Benzema está a ser obliterado pelas críticas à maneira como pouco tem contribuido com golos para a equipa. O francês não está a acertar com a baliza e quando o faz, não consegue dar seguimento com boas exibições.

Sendo um dos principais elementos da badalada BBC, Benzema tem apenas seis golos marcados esta temporada, o que para um avançado do Real Madrid é um número fraco. O avançado já leva 22 partidas disputadas e conta com apenas três assistências.

Ronaldo, por sua vez, não tem números tão baixos como o colega e a cifra total de remates do jogador português nas partidas para a Liga Espanhola provam que CR7 continua a ter a avidez para procurar o golo que tinha em temporadas passadas.

No entanto, a bola não quer entrar. Ou por manifesta falta de sorte ou falta de pontaria de CR7. Por esta altura, Cristiano Ronaldo tem 78 remates na Liga Espanhola. Mais que o português só Lionel Messi, com 94. No entanto, a diferença entre os dois astros está na eficácia.


Foto: Reuters

Com 19 golos marcados em 94 remates, La Pulga tem uma eficácia que ronda os 20 por cento. Ronaldo leva apenas seis golos marcados em 78 remates, o que dá uma percentagem de eficácia à frente da baliza de 7,7 por cento, o que para um goleador nato como o capitão português é baixo.

Melhor que Messi e Ronaldo está Luís Suárez, que fecha o pódio no que a remates diz respeito. Com apenas 53 remates, menos 25 tentativas que Cristiano Ronaldo, o uruguaio tem 15 golos, o que perfaz uma percentagem de eficácia nos 28,3 por cento.

A juntar a estes números ainda há as inúmeras lesões de Gareth Bale. O jogador galês providencia velocidade e virtuosidade no último terço do campo e a sua ausência causa algumas querelas à frente de ataque madridista.

No entanto, Bale tem jogado as últimas partidas e até tem sido um dos melhores pela equipa de Zidane. O extremo leva menos oito jogos que Cristiano Ronaldo e cinco que Benzema e consegue ter mais golos que Benzema e assistências que CR7. Aos nove tentos conseguidos esta época, juntam-se-lhe cinco assistências.
Derrota na Taça do Rei incompreensível
Numa altura em que a conquista da Liga Espanhola é dada como praticamente impossível, seria de esperar que Zinedine Zidane apostasse na Taça do Rei para tentar alcançar um título doméstico.

No entanto, as poupanças no onze inicial do técnico francês acabaram por dar mau resultado. Algoque foi notório frente ao Leganés. Contra uma equipa que luta para não descer de divisão em Espanha, é incompreensível a razão pelo qual Zidane deixou tantos titulares fora da convocatória, numa altura em que era importante alcançar as meias-finais.

Ronaldo, Marcelo e Toni Kroos nunca foram utilizados na prova, enquanto jogadores como Luka Modric e Isco jogaram de forma intermitente. Depois de vencer a primeira mão, fora de casa, um Real Madrid capitaneado por Sergio Ramos não foi capaz de segurar a vantagem que trazia do primeiro jogo e foi surpreendido em pleno Santiago Bernabéu.
Muitas derrotas caseiras
Num estádio que se tornou numa fortaleza desde a chegada de Zidane, o Santiago Bernabéu já assistiu a várias deceções esta época. Para além de perder com o Leganés para a Taça do Rei, os jogos da Liga Espanhola também não têm corrido da melhor maneira para o Real Madrid.

No início do campeonato, o Bétis de Sevilha foi a primeira besta negra. Remates atrás de remates sem que houvesse festejos, e no fim do jogo, o golpe de teatro. Contra-ataque dos sevilhanos e golo de cabeça de Sanabria, aos 90+4 minutos.


Foto: Reuters

Dois meses volvidos, o Real Madrid juntou uma má exibição a uma goleada em casa, contra o líder Barcelona. Luís Suárez, Leo Messi e Aleix Vidal afundaram ainda mais os merengues, ficando 13 pontos à frente do grande rival de Madrid.

No início de janeiro, nova hecatombe aconteceu com o Villarreal, numa repetição fiel ao que aconteceu com o Bétis. Sem conseguir marcar a um Sergio Asenjo inspirado, um contra-ataque rápido terminou com uma chapelada de Fornals a Keylor Navas, com a defesa do Real Madrid completamente desorientada e fora da jogada.

Nova perda de pontos, o Barcelona cada vez mais líder e o Valencia e o Atlético de Madrid a fugirem na classificação.
Meio-campo pouco produtivo
Tida com uma linha de referência do Real Madrid nos últimos anos, o meio-campo madrileno não tem sido tão produtivo como costumava ser. Luka Modric e Toni Kroos bem tentam remar contra a maré mas os passes bem-sucedidos, pontapés de canto e livres diretos não têm levado a melhor direção ou não têm o seguimento esperado.


Foto: Reuters

A isso junta-se a época menos conseguida de Casemiro que não está a conseguir ser tão efetivo na ligação entre a defesa e o ataque e tem vacilado na questão disciplinar.

Isco Alarcón e Asensio foram dois dos grandes destaques na equipa de Zidane no início da temporada, com assistências de luxo e golos espetaculares. No entanto, com o avançar do tempo e a deterioração das exibições do Real Madrid, os dois jogadores ressentiram-se e não estão a conseguir ter tanta influência dentro das quatro linhas.
Laterais não estão a dar profundidade
Um dos grandes trunfos de Zidane na época passada estava nos corredores do Real Madrid. Em grande forma, Marcelo e Carvajal assumiram-se como dois dos melhores defesas laterais do mundo.

O brasileiro e o espanhol davam apoio crucial ao ataque, com arrancadas e posse de bola até à área contrária, conseguindo também entrar na lista de marcadores.


Carvajal no jogo frente ao Barcelona - Reuters

No entanto, a história para Marcelo e Carvajal tem sido pretensamente diferente este ano. Os dois jogadores não estão a conseguir dar a propulsão atacante que o Real Madrid precisa e somam erros na defesa que dão golos inesperados ao adversário.

O internacional brasileiro está em baixo de forma e Carvajal mostra não estar melhor que o companheiro. Destaque para a exibição do internacional espanhol frente ao Barcelona, num jogo em que foi expulso e deixou o Real Madrid a jogar com menos um durante uma parte inteira.

Esta pode ser uma das razões para Ronaldo não estar a marcar tantos golos. Marcelo é um dos jogadores que mais assiste o português em campo, e esta temporada, o brasileiro só conseguiu fazer cinco passes para golo.

Carvajal tem números mais baixos. Sem nenhum golo marcado, o espanhol tem três assistências para golo.
Reforços que não estão à altura
Uma das grandes expetativas dos adeptos do Real Madrid no início de cada época é a contratação de grandes nomes. Este ano, Florentino Pérez não abriu os cordões à bolsa e deu aval à contratação de dois jogadores que se encontram na equipa principal.

Foram eles Theo Hernández, que saiu do rival Atlético de Madrid, e Dani Ceballos, que terminou contrato com o Bétis de Sevilha e foi cogitado para reforçar o Barcelona.


Foto: Reuters

Nenhum dos dois é titular indiscutível na equipa de Zidane e quando saem do banco não têm o impacto que era esperado. Mas não é só. Jogadores como Jesus Vallejo, Marcos Llorente, Borja Mayoral e Lucas Vázquez não têm conseguido impressionar quando são chamados às quatro linhas.

E é aí que pode ter estado um dos grandes erros do Real Madrid em vender Álvaro Morata e emprestar James Rodríguez.

Apesar de nenhum dos dois jogadores se sentir confortável com a suplência, a verdade é que os dois tinham grande impacto quando entravam em campo e deram muitos pontos ao Real Madrid.


Foto: Reuters

Morata foi muitas vezes o salvador Merengue ao sair do banco para marcar golos importantes, que Benzema não conseguia marcar. James Rodríguez é um caso paradigmático, já que era um dos principais assistentes da equipa.

Sem estes dois jogadores, que agora estão no Chelsea e Bayern de Munique, o Real Madrid perdeu o poder de surpreender através dos seus suplentes.
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