Crónica de bastidores. Rochele, um abraço só nosso!
Pensei muito antes de escrever esta crónica. Não quero expor a dor da Rochele. Mas acho que ela merece que se fale do momento que partilhámos. Não da dor, mas sim da superação.
Assim que ela começou a falar, percebi que o lado humano se estava a sobrepor ao da judoca, sem saber, na verdade, se existe uma distinção clara entre os dois.
Um atleta (ou um jornalista) tem um lado profissional e um lado humano.
A Rochele estava a explicar como o lado humano dificultou a preparação do lado da judoca para uma das provas mais importantes da carreira, algo relevante do ponto de vista jornalístico.
A nossa missão é reportar e também contextualizar para que os espectadores tenham toda a informação e possam assim perceber toda a história. Perder um irmão é uma dor incalculável que afeta o lado pessoal e, por inerência, o profissional.
A Rochele acabou por desabar e terá sentido que o abraço que me estendeu lhe fazia falta. E eu, João, tentando balançar o lado profissional com o pessoal, abracei-a. A partir dali, já não existia qualquer relevância jornalística naquele momento. Eu comecei a tentar fechar o direto, mas nos meus auriculares já escutava o meu amigo e enorme jornalista, Carlos Manuel Albuquerque, a agarrar na emissão, com o apoio de toda a equipa que trabalha, desde Portugal, na cobertura dos Jogos.
O que importava reter, já tinha sido dito. A história de sofrimento, superação, coragem e resiliência, a judoca já tinha contado e prolongar aquele direto nada iria acrescentar.
O abraço já seria mais entre a Rochele e o João, não entre a judoca e o jornalista... mas nem sempre é fácil destrinçar esses dois lados e o balanço entre eles será sempre precário.
Rochele, o nosso abraço não ficou só nosso porque, por força do direto, foi partilhado na televisão.
Já sem o Filipe Valente a captar e sem microfone, demos outro. Mas esse já não tem relevância jornalística para esta crónica.