O porta-voz da agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos no Médio Oriente (UNRWA), Jonathan Fowler, afirmou hoje que a organização é "insubstituível" pois está a ajudar a manter "viva" a população de Gaza, devastada pela guerra.
Jonathan Fowler, porta-voz da agência em Jerusalém, disse que a organização é a espinha dorsal do trabalho humanitário nos territórios palestinianos, especialmente em Gaza.
"A UNRWA é insubstituível, a UNRWA é essencial. Isso continua a ser um facto, independentemente da legislação aprovada ontem [segunda-feira]", disse Fowler, descrevendo o projeto de lei como "escandaloso", em entrevista à agência de notícias francesa AFP.
Apesar da oposição do seu aliado norte-americano e de uma advertência do Conselho de Segurança da ONU, o parlamento israelita aprovou na segunda-feira, por esmagadora maioria (por 92-10), um projeto de lei que proíbe "as atividades da UNRWA em território israelita", incluindo Jerusalém Oriental, uma área ocupada e anexada por Israel.
Israel, que desde há muito critica a agência, acusou vários funcionários da UNRWA de participarem no massacre perpetrado no país pelo grupo islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023, que desencadeou a retaliação israelita.
Nos últimos meses, o exército israelita atacou várias escolas da UNRWA em Gaza que haviam sido transformadas em refúgios, nas quais afirmou que operavam combatentes do movimento islamita palestiniano.
Segundo a agência, 230 dos seus funcionários foram mortos desde o início da guerra.
Jonathan Fowler disse ainda que a UNRWA espera que a decisão seja revertida e que não há "qualquer possibilidade de a substituir".
"Cabe à comunidade internacional e às autoridades israelitas, enquanto membros da comunidade internacional, dizer qual é o plano B", caso a decisão seja efetivamente implementada dentro de três meses, como anunciado pelo parlamento.
Com cerca de 18.000 funcionários entre a Cisjordânia ocupada e a Faixa de Gaza, incluindo 13.000 professores e 1.500 profissionais de saúde, a agência tem prestado ajuda aos refugiados palestinianos desde a sua criação em 1949.
"Todo o sistema das Nações Unidas e outros atores internacionais estão a contar com as redes logísticas e o pessoal da UNRWA para fazer o que é necessário para tentar manter viva a população de Gaza. Nós somos a espinha dorsal desta ação", sublinhou Fowler.
O porta-voz da UNICEF, Jens Elder, que está atualmente a participar numa campanha de vacinação em massa em Gaza com a UNRWA, levantou hoje a questão logística numa conferência de imprensa em Genebra.
"Se a UNRWA não conseguir funcionar, o sistema humanitário em Gaza provavelmente entrará em colapso. A UNICEF não conseguirá distribuir os fornecimentos vitais", afirmou.
Tarik Jasarevic, porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS), que também está a apoiar a campanha de vacinação contra a poliomielite em Gaza, disse que "3.000 dos funcionários da UNRWA são profissionais de saúde, é realmente única e nenhuma outra agência se pode comparar, incluindo a OMS".
Um segundo documento aprovado pelo parlamento na segunda-feira proíbe os funcionários israelitas de trabalharem com a UNRWA e os seus colaboradores, o que deverá perturbar consideravelmente as atividades da agência, ao mesmo tempo que Israel controla rigorosamente todas as entradas de carregamentos humanitários em Gaza.
Tal como outras agências da ONU e organizações não-governamentais internacionais, a UNRWA depende de contactos com o exército israelita ou com o organismo militar encarregado da gestão dos assuntos civis em Gaza, o COGAT, para coordenar a entrada de bens em Gaza e a circulação segura do seu pessoal.
"Numa situação de guerra, isto é ainda mais essencial, pois a capacidade de nos deslocarmos e de fazermos o nosso trabalho em relativa segurança pode ser gravemente prejudicada pela incapacidade de resolver o conflito", alertou Fowler.