Sistema de esgotos em Gaza destruídos. Água contaminada espalha doenças em todo o território
A cor da água em algumas zonas da costa de Gaza começou a ficar castanha, nomeadamente na costa de Deir al-Balah. As autoridades sanitárias explicam que os milhares de deslocados, na ausência de esgoto, passaram a deitar tudo ao mar.
Wim Zwijnenburg, especialista ambiental da organização Pax for Peace, confirmou que "as águas residuais, na costa de Deir al-Balah, estão a ser lançadas para o mar".
Esses esgotos, muitos a céu aberto, "partem dos campos onde se instalou a população deslocada".
As imagens de satélite da Planet labs PBC, registadas a 2 de agosto, cobriram uma área de mais de dois quilómetros quadrados. E a olho nu, vê-se a cor castanha da água. Começou a aparecer em junho e cresceu de forma constante nos dois meses seguintes, correspondendo às descargas da população dos campos de refugiados.
Corroborando estes dados, uma autoridade local, citada na BBC, descreveu que o esgoto dos acampamentos vai direto para o mar.
Esgoto a céu aberto. Campo de refugiados na costa de Deir al-Balah | Majdi Fathi - NurPhoto via AFP
“É por causa do aumento do número de pessoas deslocadas e muitos estão a ligar os seus próprios canos ao sistema de drenagem de água da chuva” que corre para o mar, disse Abu Yazan Ismael Sarsour, chefe do comité de emergência Deir al-Balah.
No relatório ambiental da ONU de junho passado, foi confiemado que os bombardeamentos israelitas levaram ao colapso da infraestrutura de gestão de águas residuais de Gaza.
Entretanto, o Ministério da Defesa de Israel, através do departamento que supervisiona a política para os territórios palestinianos, o Cogat, afirmou que existe uma operação humanitária em curso com uma tarefa dedicada para tomar medidas que visam melhorar o sistema de esgoto em Gaza.
Nos últimos meses, a Cogat coordenou a recuperação de poços de água e instalações de dessalinização, bem como a extensão dos canos de água em Gaza, de acordo o comunicado, citado pela operadora de comunicação britânica.
Caso de poliomielite: sem água potável, não há saúde
Os alarmes soam em todo o território devido à disseminação de doenças transmitidas pela água contaminada.
Há relatos de um bebé de 10 meses ter ficado parcialmente paralisado depois de contrair poliomielite - o primeiro caso registrado em Gaza em 25 anos.
A poliomielite é uma infeção muito contagiosa causada pela ingestão de substâncias contaminadas e afeta principalmente crianças menores de cinco anos de idade.
A instituição humanitária Oxfam denuncia que um quarto da população de Gaza já ficou doente por causa de doenças transmitidas pela água.
"Estamos a ver uma crise de saúde catastrófica se desenrolar-se diante dos nossos olhos", alerta Lama Abdul Samad, especialista em água e saneamento da Oxfam.
“A pólio é uma doença transmitida pela água e está diretamente ligada à situação de saneamento”, explica.
“A infraestrutura de saneamento foi severamente danificada a ponto de estar inundando as ruas e os bairros, e as pessoas estão basicamente vivendo ao lado de poças de esgoto”, acrescenta Samad.
Um dos exemplos é a Lagoa Sheikh Radwan, no norte de Gaza, já foi uma fonte de água limpa da chuva, revela-se atualmente suja.
Abdul Samad depois de avaliar as mais recentes imagens, conclui que a lagoa está “claramente contaminada”.
Tem surgido relatos, através do serviço de rádio de emergência Gaza Lifeline da BBC Arabic, que as águas estagnadas da Lagoa Sheikh Radwan, para além de estarem cheias de ratos, eram nauseabundas .
“O esgoto com fezes humanas está a ser espalhado por todo lado com a Lagoa Sheikh Radwan a transbordar”, reporta Ibrahim Ramzi.
Lagoa Sheikh Radwan | Mahmoud Issa - Anadolu via AFP
Para além da poliomielite, desde o início do mês de agosto mês, a agência da ONU para refugiados palestinianos, Unrwa, identificou 40 mil casos de hepatite A – que também pode ser transmitido através da ingestão de água contaminada.
A epidemia de cólera surge também na lista dos alertas dos especialistas em saúde pública.
A epidemia de cólera surge também na lista dos alertas dos especialistas em saúde pública.
A ONU estima que a grande maioria dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados internamente desde 7 de outono passado.