Símbolos palestinianos. O que significam a melancia, o ramo de oliveira e o keffiyeh preto e branco
Nas últimas semanas, por todo mundo, multiplicaram-se as manifestações em solidariedade com o povo palestiniano. Para além da bandeira verde, vermelha, preta e branca, as multidões inundam os protestos contra a guerra envergando o tradicional keffiyeh e a empunharem representações de fatias de melancia.
São os símbolos de identidade e resistência palestiniana à ocupação israelita.
À medida que o mundo testemunha o aumento das manifestações globais contra os ataques israelitas na Faixa de Gaza, o uso do keffiyeh palestiniano está a crescer, tornando-se um símbolo global que prevalece nas marchas solidárias.
Os manifestantes colocam o lenço preto e branco geralmente no pescoço ou na cabeça.
Xadrez do Keffiyeh
O icónico lenço de algodão preto e branco conhecido como keffiyeh é usado em muitas partes do mundo árabe por homens e mulheres palestinianas. Em formato quadrado com um padrão xadrez distinto, passou a simbolizar a luta palestiniana pela autodeterminação, justiça e liberdade.
Entre os motivos do lenço de fundo branco estão folhas de oliveira a preto, que representam a perseverança, força e resiliência. O padrão de rede remete para os pescadores palestinianos e a ligação do povo ao Mediterrâneo. As linhas a negrito, que correm entre os padrões correspondem às rotas comerciais com mercadores vizinhos da Palestina.
Manifestante com o keffiyeh a cobrir a cabeça numa marcha de solidaridade com o povo palestiniano, Belgrado, Sérvia | Marko Djurica- Reuters
Por todo o Médio Oriente, as vestes compridas e largas serviam para proteger as pessoas do calor e do Sol. Na década de 1930, essa roupagem ganhou uma dimensão simbólica durante a revolta árabe contra o domínio colonial britânico.
Na segunda metade do século XX, o então líder palestiniano Yasser Arafat popularizou o keffiyeh, que usava dobrado em forma de triângulo e pendurado sobre os ombros, cobrindo a cabeça.
Atualmente, o keffiyeh está presente nas manifestações que apoiam a causa palestiniana.
Oliveira: economia e paz
Há séculos que se conhece a importância da oliveira por terras da Palestina. As árvores são resistentes a períodos de secas e a temperaturas extremas e por isso passaram a representar a resiliência palestiniana contra a ocupação israelita.
Há séculos que se conhece a importância da oliveira por terras da Palestina. As árvores são resistentes a períodos de secas e a temperaturas extremas e por isso passaram a representar a resiliência palestiniana contra a ocupação israelita.
A ligação à terra do povo palestiniano também está vincada na perspetiva económica através do cultivo e apanha da azeitona. O fruto da oliveira garante sustento a perto de 100 mil famílias que se dedicam a colhê-la nos meses de outubro e novembro.
Em tempo de guerra, os palestinianos aproveitam estes dias de tréguas no conflito entre Israel e o Hamas para conseguirem obter algum rendimento com a colheita, vendendo-a para produção de azeite e sabão.
Apanha das azeitonas em Khan Younis, no sul de Gaza, durante os dias de tréguas | Saleh Salem - Reuters
Os ramos da oliveira têm ainda sido associados à paz e à prosperidade. Esse simbolismo ganhou grande visibilidade quando Yasser Arafat, então líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1974, dirigindo-se à Assembleia Geral das Nações Unidas exclamou: “Hoje venho com um ramo de oliveira numa mão e a arma do combatente da liberdade na outra. Não deixem o ramo de oliveira cair da minha mão. Repito, não deixem o ramo de oliveira cair da minha mão”.
Melancia:o símbolo de protesto
Desde Gaza a Jenin, a terceira maior cidade da Cisjordânia e um importante centro agrícola palestiniano, a melancia corresponde à fruta cultivada mais icónica da nação muçulmana.
Desde Gaza a Jenin, a terceira maior cidade da Cisjordânia e um importante centro agrícola palestiniano, a melancia corresponde à fruta cultivada mais icónica da nação muçulmana.
Quando Israel assumiu o controlo da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e anexou Jerusalém Oriental, após a guerra de 1967, o governo de Telavive proibiu exposição da bandeira palestiniana ao longo do território ocupado.
Como a melancia partilha as mesmas cores da bandeira palestiniana – vermelho, verde, branco e preto –a fruta, de casca verde e polpa vermelha, passou a ser usada para protestar contra a supressão das bandeiras por parte de Israel e a representar a identidade palestiniana.
A melancia ganhou o título de símbolo de resistência e passou a fazer parte de uma iconografia artística. Usada em camisolas, graffitis, cartazes e agora, mais recentemente nas redes sociais, o emoji de melancia aparece associado a mensagens de apoio à causa e protesto contra Israel.
Já em 2023, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, deu indicações à polícia para confiscar bandeiras palestinianas de locais públicos. Logo a seguir, em Junho, o parlamento israelita, o Knesset, começou a discutir-se um projeto de lei para proibir a bandeira palestiniana em instituições financiadas pelo Estado.
Em resposta, a Zazim, uma organização para a paz árabe-israelita, colocou a bandeira palestiniana – em forma de melancia – numa dúzia de táxis de Telavive.
Em resposta, a Zazim, uma organização para a paz árabe-israelita, colocou a bandeira palestiniana – em forma de melancia – numa dúzia de táxis de Telavive.
"É uma fatia de resistência", dizem os manifestantes | X/@zazim_org_il
“A nossa mensagem para o governo é clara. Se quiserem impedir-nos, encontraremos outra forma de nos expressarmos”, afirmou Amal Saad, uma palestiniana de Haifa que organizou a campanha da melancia, no verão passado.