As doenças dermatológicas estão a espalhar-se nos campos de refugiados, em Gaza, e as crianças são as mais afetadas. As tendas sobrelotadas, a falta de recolha de lixo e a insuficiência de água potável tornam deploráveis as condições de vida dos deslocados de guerra, alertam as autoridades de saúde.
O consultório de dermatologia do Hospital Nasser, ainda a funcionar, no centro de Gaza tem registado um fluxo crescente de crianças que apresentam manchas vermelhas e brancas a cobrir grande parte do corpo.
Piolhos, sarna e erupções cutâneas são algumas das doenças de pele em clara propagação na Faixa de Gaza que os médicos relatam.
As erupções na pele provocadas por estas doenças tornam-se rapidamente feridas abertas por causa da comichão.
Os dez meses de bombardeamentos israelitas fizeram colapsar o saneamento, que está agora a céu aberto, e a rede de água potável praticamente desapareceu.
“O sistema de gestão de resíduos sólidos entrou em colapso”, disse Chitose Noguchi, representante especial adjunta do Programa de Assistência ao Povo Palestiniano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Num relatório divulgado esta terça-feira, o PNUD sublinha que dois dos grandes aterros sanitários existentes em Gaza estão agora inacessíveis devido aos combates e por isso criaram-se outros dez locais temporários. Porém, Noguchi afirma que há mais de 140 novos locais de despejo informais. “Alguns deles são piscinas gigantes de dejetos humanos e lixo”, acentua.
Sem água, sem limpeza
Os médicos identificaram mais de 103 mil casos de piolhos e sarna e 65 mil casos de erupções cutâneas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Dizem ser “impossível” proceder à limpeza das tendas precárias e superlotadas dos campos de refugiados onde se concentram milhares de palestinianos deslocados.
“Não há champô, nem sabão”, relata Munira al-Nahhal, que vive numa tenda nas dunas fora da cidade de Khan Younis, no sul. “A água é suja. Tudo é areia, insetos e lixo”, descreve.
Recolha de alguma água, entre escombros da cidade Khan Younis | Hatem Khaled - Reuters
A tenda onde vive com a família está a “abarrotar”. Conta que os netos estão cheios de erupções cutâneas. “Um dos meninos coça as manchas vermelhas da barriga. Uma criança apanhou isto e agora está a espalhar-se por todos ”, explicou al-Nahhal.
As famílias palestinianas, citadas na ABCNews, explicam que “é quase impossível obter água limpa”. As moscas estão por toda parte e as crianças brincam na areia coberta de lixo, acrescentam.
Shaima Marshoud, sentada ao lado da filha pequena, explica: “Primeiro foram manchas no rosto dela. Depois se espalharam para o estômago e braços, por toda a testa. E dói. Coça. E não há tratamento. Ou se há, não podemos pagar”.
Proporções epidémicas
Nassim Basala, dermatologista do Hospital Nasser, afirma que recebem entre 300 a 500 pessoas com doenças de pele, por dia. Depois das últimas ordens israelitas para a população sair da cidade de Khan Younis, as pessoas fugiram para áreas de campos agrícolas, “onde os insetos são abundantes no verão”, argumenta o médico.
“Sarna e piolhos estão em proporções epidémicas”, alerta Basala, mas “outras infeções fúngicas, bacterianas e virais, além de parasitas, também estão a propagar-se”.
"As crianças são as mais afetadas. Mas os adultos também sofrem", insiste.
No consultório, o médico descreve que entre tantos casos, uma mulher tinha as mãos em carne viva devido às feridas causadas pelas erupções na pele. No hospital, “cremes e pomadas”, tudo falta, remata o médico.
Mais de 1,8 milhões dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão deslocados e fogem dos ataques terrestres ou bombardeamentos de Telavive. A grande maioria está agora aglomerada numa área de 50 quilómetros quadrados de dunas e campos junto à costa, com quase nenhum sistema de esgoto e pouca água.