Cerca de três dezenas de organizações não-governamentais (ONG) acusaram hoje o exército israelita de incentivar a pilhagem de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, incluindo com ataques à polícia palestiniana que a tenta combater.
"A pilhagem é um problema recorrente, consequência do facto de Israel ter como alvo as forças policiais que restam em Gaza", afirmam 29 ONG num relatório conjunto citado pela agência francesa AFP.
A pilhagem deve-se também à escassez de bens essenciais, à falta de estradas e ao encerramento da maioria dos pontos de passagem, referem no relatório.
Deve-se ainda ao "consequente desespero da população nestas condições desastrosas", afirmam as ONG, entre as quais os Médicos do Mundo, a Oxfam e o Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC).
As ONG dizem que o exército israelita também "não está a conseguir" impedir que os camiões de ajuda humanitária sejam saqueados nem a extorsão de dinheiro de proteção às organizações humanitárias por bandos armados.
Para ilustrar a situação, as ONG citam um artigo do diário israelita de esquerda Haaretz, de segunda-feira, intitulado "Exército israelita permite que os bandos de Gaza saqueiem camiões de ajuda humanitária e exturcam dinheiro de proteção aos condutores".
No relatório, as ONG afirmam ainda que "em alguns casos", quando os agentes da polícia palestiniana "tentaram agir contra os saqueadores, foram atacados pelas tropas israelitas".
"Muitos incidentes ocorrem perto ou em frente das forças israelitas, sem que estas intervenham, mesmo quando os camionistas pedem ajuda", denunciam no documento.
No mesmo relatório, as 29 ONG denunciam o nível "historicamente baixo" da ajuda humanitária autorizada por Israel na Faixa de Gaza.
Segundo as ONG, entraram no território palestiniano uma média de 37 camiões humanitários por dia em outubro, e 69 na primeira semana de novembro.
Esse número médio diário era de 500 camiões antes de 07 de outubro de 2023, data em que começou a guerra desencadeada pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas contra Israel.
As 29 ONG registaram igualmente sete ataques contra trabalhadores humanitários, a maioria dos quais atribuídos ao exército israelita, entre 10 de outubro e 07 de novembro.
Os ataques resultaram na morte de 11 trabalhadores humanitários e de três crianças, segundo as organizações que assinam o relatório.
Recordam ainda que a 13 de outubro, os Estados Unidos apelaram mais uma vez às autoridades israelitas para que melhorassem a situação humanitária em Gaza, sob pena de restringirem a ajuda militar a Israel.
"Israel não só não cumpriu os critérios americanos", como o seu exército "tomou simultaneamente medidas que agravaram consideravelmente a situação no terreno", nomeadamente no norte de Gaza, afirmam.
A situação é "ainda mais desastrosa do que há um mês", salientaram recentemente oito ONG, entre as quais a Save the Children, a Care e a Mercy Corps, num comunicado.