Netanyahu não exclui discussões sobre Líbano nem manda calar as armas

por Cristina Sambado - RTP
Abir Sultan - Reuters

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou esta sexta-feira que as negociações para um cessar-fogo no sul do Líbano vão continuar, apesar da sua insistência em que as Forças de Defesa de Israel mantenham a ofensiva contra o Hezbollah.

O gabinete do primeiro-ministro israelita divulgou esta sexta-feira um comunicado em que procura “clarificar alguns pontos” em torno daquilo a que chamou “uma série de informações erradas sobre a iniciativa de cessar-fogo liderada pelos EUA”.

A declaração sublinha que Israel “partilha os objetivos da iniciativa liderada pelos EUA de permitir que as pessoas ao longo da nossa fronteira norte regressem em segurança às suas casas”.

O comunicado acrescenta que as equipas se reuniram na quinta-feira e afirma que as discussões continuarão nos próximos dias.


A declaração vem na sequência de um apelo dos aliados, incluindo os EUA, o Reino Unido e a União Europeia, a um cessar-fogo temporário no Líbano - propondo uma pausa imediata de 21 dias nos combates “para dar espaço à diplomacia com vista à conclusão de um acordo diplomático” - e a um cessar-fogo em Gaza.
Declarações contraditórias
Os comentários do gabinete do primeiro-ministro israelita foram feitos depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, ter afirmado na quinta-feira que não haveria cessar-fogo no norte, onde os jatos israelitas têm levado a cabo o mais pesado bombardeamento contra o movimento Hezbollah, apoiado pelo Irão, em décadas.

Na quinta-feira, depois de Netanyahu ter partido para Nova Iorque, onde está a participar na Assembleia-Geral das Nações Unidas, o seu gabinete emitiu uma declaração dizendo que o primeiro-ministro tinha ordenado às tropas israelitas que continuassem a lutar com toda a força no Líbano.

A declaração de Netanyahu não fez referência aos comentários de Katz e de outros políticos israelitas, que também rejeitaram um cessar-fogo, dizendo apenas que tinha havido “muitas informações erradas sobre a iniciativa de cessar-fogo liderada pelos EUA”.

Os responsáveis norte-americanos esperam persuadir Netanyahu a aceitar a proposta de cessar-fogo quando este se dirigir à Assembleia-Geral da ONU, esta sexta-feira.
Argumentam que uma pausa nos combates entre Israel e o Hezbollah poderia também proporcionar um espaço de manobra para reavivar as negociações, há muito paralisadas, entre Israel e o Hamas sobre a libertação de reféns israelitas em troca de uma trégua em Gaza.
Combates prosseguem
Os ataques aéreos israelitas continuaram no Líbano na quinta-feira, matando várias pessoas, incluindo o chefe da força de drones do Hezbollah, Mohammad Surur. Pelo menos 150 rockets foram disparados de território libanês para o norte de Israel, de acordo com o exército israelita.

Segundo fonte próxima do movimento xiita libanês, Mohammed Srour era um dos principais comandantes do movimento enviado ao Iémen para treinar os rebeldes Houthi, que, tal como o Hezbollah, são apoiados pelo Irão.

O Ministério da Saúde do Líbano disse que pelo menos 92 pessoas foram mortas e 135 ficaram feridas em ataques aéreos israelitas quinta-feira - para além das centenas que dizem ter sido mortas desde que os ataques aumentaram na segunda-feira.

As forças israelitas têm vindo a realizar trocas de tiros diárias com as forças do Hezbollah no sul do Líbano há quase um ano, desde que o grupo apoiado pelo Irão lançou uma barragem de mísseis contra Israel imediatamente após o ataque liderado pelo Hamas a Israel em 7 de outubro.

Dezenas de milhares de pessoas de ambos os lados da fronteira fugiram das suas casas, deixando grandes áreas desertas, e Israel declarou como um dos seus objetivos de guerra o regresso dos evacuados às suas casas.

Na última semana, os ataques israelitas atingiram centenas de alvos no sul do Líbano e em zonas muito mais profundas do país, matando mais de 600 pessoas.


Simultaneamente, o Hezbollah disparou centenas de rockets e mísseis contra alvos em Israel, incluindo um disparado contra Telavive. Os sistemas de defesa aérea de Israel intercetaram muitos desses mísseis, garantindo que os danos fossem relativamente limitados.O exército israelita também anunciou ter intercetado um míssil disparado na noite de quinta-feira a partir do Iémen, acrescentando que “foram ouvidas sirenes e explosões após a interceção e a queda de estilhaços”.

Entretanto, Israel prossegue a sua ofensiva na Faixa de Gaza, onde a Defesa Civil anunciou na quinta-feira que 15 pessoas tinham morrido num ataque israelita a uma escola para pessoas deslocadas no campo de Jabaliya (norte).


A guerra foi desencadeada pelo ataque do Hamas contra Israel, a 7 de outubro de 2023, que causou a morte de 1.205 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada nos números oficiais israelitas, incluindo os reféns mortos em Gaza.

Das 251 pessoas raptadas, 97 continuam detidas em Gaza, 33 das quais foram declaradas mortas pelo exército.

Em represália, Israel prometeu destruir o Hamas, no poder em Gaza desde 2007 e que considera uma organização terrorista, tal como os Estados Unidos e a União Europeia.

A ofensiva israelita em Gaza causou até agora 41 534 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados fiáveis pela ONU, e provocou uma catástrofe humanitária na Faixa de Gaza.

c/ agências
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