Mortos, feridos ou ameaçados. Jornalistas em Gaza visados pelo exército israelita

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Mohammed Salem - Reuters (arquivo)

A investigação "Projeto Gaza", do consórcio de jornalistas Forbidden Stories de que fazem parte o The Guardian, Radio France, Le Monde e Der Spiegel, documentou a forma como os jornalistas foram mortos, feridos ou ameaçados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) na cobertura do conflito na Faixa de Gaza. Telavive recusa estar a visar deliberadamente os meios de comunicação social, mas a investigação mostra o impacto mortal da ofensiva israelita em Gaza nos jornalistas.

Cinquenta jornalistas de 13 organizações noticiosas diferentes investigaram em conjunto, durante quatro meses, o destino dos jornalistas em Gaza e as alegadas ameaças de que estes foram alvo, com recurso a fotografias e vídeos, análises de som e imagens de satélite do enclave palestiniano. 



Segundo dados do Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede nos EUA, mais de 100 jornalistas e profissionais da comunicação social morreram na guerra em Gaza desde que Israel iniciou a sua ofensiva no enclave palestiniano, após os ataques mortíferos liderados pelo Hamas a 7 de outubro de 2023. Gaza regista o número mais elevado de jornalistas mortos num conflito nas últimas décadas. "É a nossa forma de dar nova vida a histórias que lhes custaram a vida e a liberdade. Matar o jornalista não mata a história", declara o consórcio de jornalistas Forbidden Stories.


A investigação visa dar continuidade ao trabalho dos profissionais mortos, feridos ou detidos pelo exército israelita em Gaza, em nome do interesse público, "como um ato de solidariedade para com jornalistas que pagaram com as suas vidas para mostrar ao mundo o que se passa em Gaza", disse o jornalista israelita Yuval Abraham, que colabora com a revista +972 e a Local Call.

Apesar de Israel recusar visar deliberadamente meios de comunicação social e os seus profissionais, a investigação "Projeto Gaza" revela um "conjunto de provas contundentes contra o Governo israelita" e põe em causa "os desmentidos do exército israelita relativamente aos ataques à imprensa desde o início da guerra". 

Confrontado com o número elevado de jornalistas palestinianos mortos desde o início do conflito, o exército israelita considera que são vítimas colaterais das operações militares intensas devida à sua exposição a riscos no terreno, mas também devido à alegada utilização da imprensa pelo Hamas. 

"Os jornalistas parecem ter sido visados, no sentido em que não houve proteção suficiente para eles. E, por vezes, foram visados porque eram suspeitos de pertencer ao Hamas", explica Irene Khan, relatora especial da ONU para a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e de expressão, citada pelo canal francês FranceInfo. 

A relatora da ONU, Irene Khan, considera que o exército israelita é, no mínimo, pouco transparente em relação às provas fornecidas: "Atualmente, os israelitas não só divulgaram informações falsas sobre jornalistas alegadamente ligados a militantes, como também não apresentaram provas suficientes. Há, portanto, um duplo fracasso da sua parte".
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