Milhares de libaneses regressam a casa após início de cessar-fogo

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Adnan Abidi - Reuters

Entrou em vigor, na madrugada desta quarta-feira, o cessar-fogo no Líbano entre o grupo xiita Hezbollah e Israel. Na estrada de Beirute para o sul do Líbano, formaram-se filas de carros com pessoas que regressam a casa após meses deslocadas.

Assim que começou o cessar-fogo, às 4h00 locais (2h00 em Lisboa), milhares de libaneses que estavam deslocados há vários meses fizeram-se à estrada rumo ao sul do país para regressarem às suas casas.

Isto apesar do alerta das Forças de Defesa de Israel (IDF), que pediram aos moradores do sul do Líbano para não regressarem de imediato a casa, afirmando que avisariam “quando for seguro regressarem”.

“O Comando do Exército pede aos cidadãos que adiem o regresso às vilas e cidades da linha da frente onde as forças israelitas avançaram até que a sua retirada seja concluída de acordo com o cessar-fogo”, disse o exército israelita na rede social X.

Embora o cessar-fogo estipule que as IDF se devem retirar completamente do sul do Líbano dentro do prazo estipulado de 60 dias, o regresso das tropas a Israel não deve ocorrer de imediato.

“À medida que o cessar-fogo entra em vigor, o exército está a tomar as medidas necessárias para concluir sua retirada do sul, conforme determinado pelo governo libanês”, afirmaram as IDF.
No Líbano, a notícia do cessar-fogo foi recebida com alguma desconfiança por parte dos adultos. Já as crianças que vivem em centros de deslocados falam da alegria de voltar a casa.
O que diz o acordo?
O acordo de cessar-fogo foi mediado pelos Estados Unidos e pela França e implica a retirada, a partir desta quarta-feira, das forças israelitas do Líbano num prazo de 60 dias.

Por outro lado, o movimento xiita libanês Hezbollah compromete-se a ir para norte do Rio Litani, uma fronteira estabelecida no final da última guerra entre Israel e o Hezbollah, em 2006. Assim, os dois países libertam uma faixa que será patrulhada pelo exército libanês e pelos capacetes azuis da UNIFIL.

Segundo o acordo, o exército libanês deve também enviar 5.000 soldados para o sul do país.


"Este anúncio criará as condições para restaurar a calma duradoura e permitir que os moradores de ambos os países regressem em segurança para as suas casas", disse a presidência norte-americana e francesa numa declaração conjunta, emitida na terça-feira.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que este é o momento certo para o cessar-fogo com o Líbano, enfatizando que "a duração vai depender do que acontecer" no país dos cedros. “Mantemos total liberdade de ação militar”, disse Netanyahu, avisando que Israel não hesitará em voltar a atacar se o Hezbollah violar qualquer parte do acordo.

"Se o Hezbollah violar o acordo e tentar armar-se, nós atacaremos. Se ele tentar reconstruir a infraestrutura terrorista perto da fronteira, nós atacaremos", alertou Netanyahu.


Benjamin Netanyahu considera que a trégua permitirá a Israel “intensificar” a sua pressão sobre o Hamas, contra o qual lidera uma ofensiva na Faixa de Gaza.

"Quando o Hezbollah estiver fora do jogo, o Hamas será deixado sozinho [em Gaza]. A nossa pressão irá intensificar-se e isso contribuirá para a missão sagrada de libertar os nossos reféns", disse Netanyahu durante um discurso transmitido na televisão, na terça-feira.

O cessar-fogo permitirá também a Israel “concentrar-se na ameaça iraniana”, acrescentou Netanyahu.

O Hamas, por sua vez, saudou o cessar-fogo no Líbano e afirmou que o movimento islamita palestiniano também "está pronto" para uma trégua com o exército israelita na Faixa de Gaza.


"O anúncio do cessar-fogo no Líbano é uma vitória e um grande sucesso para a resistência", declarou um alto responsável do Hamas à agência de notícias France Presse. "O Hamas está pronto para um acordo de cessar-fogo e para um acordo sério de troca de prisioneiros", acrescentou.
"Uma nova página" na história do Líbano
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, também saudou o acordo de cessar-fogo, apelidando-o de "um passo fundamental para restaurar a calma e a estabilidade" no país e permitir que os cidadãos regressem a casa.

Mikati espera que esta trégua abra “uma nova página” na história do Líbano e apela a Israel para que “cumpra integralmente” o cessar-fogo acordado e "se retire de todas as regiões e posições que ocupou".


A proposta de cessar-fogo estipula também que apenas “as forças militares e de segurança oficiais” no Líbano estão autorizadas a transportar armas no país, de acordo com uma cópia do acordo datada de terça-feira à qual a Reuters teve acesso.O documento nomeia estas forças como Forças Armadas Libanesas, Forças de Segurança Interna, Segurança Geral, Segurança do Estado, alfândega libanesa e polícia municipal.


A proposta de tréguas refere-se ao compromisso de ambos os lados de implementar plenamente a Resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, incluindo cláusulas que se referem ao "desarmamento de todos os grupos armados no Líbano".

O Irão, um dos principais apoiantes do Hezbollah, também já reagiu, saudando o fim daquilo a que chama “a agressão por parte do Estado israelita”.

Esta quarta-feira, as forças israelitas dispararam tiros de aviso contra vários veículos para os impedir de chegar a uma zona proibida em território libanês. Segundo os militares israelitas, os suspeitos acabaram por se afastar do local.

Os combates entre Israel e o Líbano duravam já quase há um ano e intensificaram-se em setembro, quando Telavive intensificou os bombardeamentos e lançou uma invasão terrestre contra o Hezbollah.

O conflito foi o mais mortal no Líbano em décadas, matando mais de 3.823 pessoas, de acordo com autoridades locais. Para o presidente do Parlamento do Líbano, a guerra com Israel foi a “fase mais perigosa” da história do país.

c/ agências
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