Numa altura em que o risco de um conflito regional não pára de aumentar, a organização internacional médica-humanitária denuncia os efeitos nefastos do conflito entre Israel e o movimento palestiniano Hamas. Acusa também as forças de defesa israelita (IDF) de desmantelarem sistematicamente o sistema de saúde em Gaza.
"Os bombardeamentos israelitas em áreas densamente povoadas têm repetidamente causado ferimentos em grande escala", conta a Dr.ª Amber Alayyan, responsável do programa médico da MSF. "As nossas equipas têm sido obrigadas a realizar cirurgias sem anestesia, a ver crianças morrerem no chão dos hospitais por falta de recursos e até a tratar os seus próprios colegas e familiares", denuncia.
Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, que a Médico Sem Fronteiras tem tratado diariamente pacientes com ferimentos causados pelos bombardeamentos maciços de Israel. "As pessoas têm queimaduras extensas, ossos esmagados e foram desmembradas", revela o comunicado, que estima que as equipas da MSF já tenham tratado mais de 27 mil pascientes com ferimentos.
No entanto, desde essa data, que à medida que aumentam as necessidades do povo palestiniano - em consequência dos bombardeamentos de Israel na Faixa de Gaza – que
o acesso aos cuidados de saúde tem sido desmantelado, com vários
hospitais e imediações das instalações de saúde a serem visadas pelos
ataques e pondo em perigos doentes e profissionais de saúde. "As instalações médicas que permanecem operacionais não conseguem dar resposta às enormes necessidades”, alerta a Dr.ª Alayyan.
De acordo com a responsável da MSF, atualmente apenas 17 dos 36
hospitais na Faixa de Gaza estão parcialmente operacionais e não
conseguem dar resposta às necessidades crescentes da população.
“A
nossa capacidade de resposta continua a ser limitada, simplesmente não
conseguimos fazer chegar a Gaza material humanitário e médico
suficiente”, acrescenta.
Ajuda "desproporcional à gravidade da situação"
A presidente dos Médicos Sem Fronteiras França, Isabelle Defourny, defendeu esta sexta-feira ser "absolutamente essencial" que a ajuda humanitária chegue à Faixa de Gaza, em quantidades e a um ritmo "proporcional à urgência"."Tem-se dito repetidamente que a Faixa de Gaza se tornou inabitável, mas tornou-se inabitável", afirmou Isabelle Defourny.
Acabada de regressar de uma missão em Gaza, na zona humanitária de Al-Mawassi, Defourny relata uma situação de uma crise humanitária insustentável, onde a ajuda chega a um "ritmo realmente insuficiente" e as pessoas deslocadas vivem em "abrigos insalubres" e são "mais vulneráveis a várias patologias".
"Mais de dois milhões de pessoas estão praticamente ao relento, debaixo de pedaços de plástico, junto ao mar e, com a chegada do frio, as coisas vão ficar muito más", receia a médica, que considerou esta sexta-feira que a ajuda prestada em Gaza "não é de todo proporcional à gravidade da situação".
Face à situação experenciada no terreno, a Médico Sem Fronteiras insta Israel a facilitar urgentemente a entrega de ajuda para aliviar o sofrimentos de civis na Faixa de Gaza, nomeadamente através da reabertura de postos fronteiriços que considera serem "vitais", em conformidade com as medidas solicitadas pelo Tribunal Internacional de Justiça.
"Inação vergonhosa"
A organização acusa Israel, o Hamas e os seus aliados de "falharem catastroficamente" em "alcançar um acordo para um cessar-fogo duradouro em Gaza" e de alimentarem tensões regionais com consequências devastadoras para a população civil.
"Os aliados de Israel continuaram a fornecer seu apoio militar a Israel, enquanto crianças são mortas em massa, tanques atiram em abrigos sem conflito, caças bombardeiam as chamadas zonas humanitárias”, acusa Chris Lockyear, secretário-Geral de MSF.
Entre outros, a organização internacional apela a um cessar-fogo imediato, ao fim do bloqueio de Israel a Gaza, à abertura de fronteiras terrestres vitais, para garantir que a ajuda humanitária e médica possa chegar aos civis, e à evacuação médica das pessoas que necessitam de cuidados médicos especializados.