"Massacre". Comunidade internacional condena ataque israelita contra escola em Gaza

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Mahmoud Zaki - EPA

Um ataque israelita contra uma escola e mesquita que se transformou num abrigo para palestinianos deslocados na Faixa de Gaza matou este sábado mais de 100 pessoas, incluindo mulheres e crianças, de acordo com as autoridades palestinianas. Telavive garante que o exército visou um "centro de comando e refúgio" para membros do Hamas e rejeita o número de vítimas mortais, mas as reações internacionais de condenação a um dos ataques mais mortíferos desde o início do conflito em Gaza vão-se acumulando.

Este sábado de manhã a Defesa Civil da Faixa de Gaza, controlada pelo movimento palestiniano Hamas, declarou que pelo dezenas de pessoas tinham morrido num ataque israelita a uma escola no centro da cidade de Gaza durante a madrugada.

Uma versão rejeitada pelo exército israelita que afirmou que "segundo os serviços secretos israelitas, cerca de vinte militantes do Hamas e da Jihad Islâmica, incluindo comandantes de alto nível, operavam a partir do complexo atingido na escola Al-Tabi'een", de acordo com um comunicado publicado na rede social X.


A mesma fonte afirmou que os números avançados pelo Hamas "não correspondem às informações detidas" pelas forças israelitas (IDF) que alegam ter tomado medidas para reduzir o risco de atingir civis no enclave através da utilização de "munições de precisão, vigilância aérea e informações dos serviços secretos".

"Pelo menos 19 terroristas foram eliminados"
O exército israelita afirmou este sábado à tarde ter eliminado "pelo menos 19 terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica" que "operavam com o objetivo de realizar ataques contra soldados israelitas a partir do interior do recinto escolar".


"Na sequência de uma investigação dos serviços secretos, pode confirmar-se que pelo menos 19 terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica foram eliminados", declarou o exército israelita num comunicado, divulgado na rede social X, em que publicou os nomes e as fotografias de alegados membros que foram mortos.

Hamas denuncia "perigosa escalada" e apela à condenação

Na sequência do ataque, o Hamas denunciou "um crime horrível que constitui uma perigosa escalada" na guerra na Faixa de Gaza e apelou aos "nossos países árabes e islâmicos e à comunidade internacional para que cumpram as suas responsabilidades e tomem medidas urgentes" para cessar os massacres e travar a escada da "agressão sionista contra o nosso povo", em comunicado.

De acordo com as agências de notícias internacionais, vários países árabes como o Egito, Irão, Turquia, Líbano, Catar, Jordânia, Arábia Saudita condenaram nas últimas horas o ataque israelita e denunciaram a falta de vontade de Telavive em pôr termo à guerra em Gaza.

O Egito denunciou a "morte deliberada" de civis palestinianos "desarmados" que "mostra que Israel não tem intenção de acabar com a guerra", uma vez que comete repetidamente "crimes em grande escala" sempre que há um impulso internacional para um cessar-fogo, revelando um "desrespeito sem precedentes" pelo direito internacional". 

Por sua vez, o Irão condenou o ataque como genocídio e crime de guerra e acusou o governo de Benjamin Netanyahu de querer impedir as negociações de cessar-fogo e de querer continuar a guerra. À semelhança do Catar, pediu uma ação internacional urgente e disse que as ações de Israel em Gaza são uma ameaça à paz e segurança internacionais.
Borrel "horrorizado"

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrel, afirmou este sábado que estava "horrorizado" com o ataque mortal israelita a uma escola em Gaza.

"Horrorizado com as imagens de uma escola em Gaza a ser utilizada como abrigo, atingida por um ataque israelita, que terá matado dezenas de palestinianos. Pelo menos 10 escolas foram alvo de ataques nas últimas semanas. Não há justificação para estes massacres"
, na sua conta da rede social X.

"Mais um dia de horror"

O diretor da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) denunciou "mais um dia de horror em Gaza" e apelou ao fim dos "horrores que se desenrolam sob o nosso olhar". Numa publicação na rede social X, Philippe Lazzarini escreveu que "não podemos deixar que o insuportável se torne uma nova norma", que "quanto mais recorrente, mais perdemos a nossa humanidade coletiva", reiterando o apelo para um "cessar-fogo" imediato.


"Trágica perda de vidas"

A relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados, Francesca Albanese, também reagiu ao ataque condenando a "indiferença" do mundo perante o derramamento de sangue em massa no enclave palestiniano. 

"No maior e mais vergonhoso campo de concentração do século XXI, Israel está a genocidar os palestinianos, um bairro de cada vez, um hospital de cada vez, uma escola de cada vez, um campo de refugiados de cada vez, uma "zona segura" de cada vez. Com armas americanas e europeias."
, denunciou Albanese no X. 

No Ocidente, Paris condenou "com a maior firmeza possível" o ataque de Israel a escola na cidade de Gaza. "Há várias semanas que os edifícios escolares são alvo de ataques repetidos, com um número intolerável de vítimas civis", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês em comunicado, sublinhando que "Israel deve respeitar o direito humanitário internacional"

Também o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, David Lammy,  disse estar "chocado" com o ataque militar israelita e com a "trágica perda de vidas". "O Hamas tem de deixar de pôr em perigo os civis. Israel tem de cumprir o Direito Internacional Humanitário", escreveu na rede social X, apelando a um cessar-fogo para "proteger civis, libertar todos os reféns e acabar com as restrições à ajuda (humanitária)".

O Governo de Espanha também condenou o ataque israelita contra a escola em Gaza e reiterou a importância de um "acordo de cessar-fogo imediato" para pôr fim "a esta catástrofe humanitária e obter a libertação dos reféns". Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Espanha, exigiu mais uma vez "o pleno cumprimento das medidas provisórias impostas pelo Tribunal Internacional de Justiça e a proteção da população civil".

O Governo português também já reagiu considerando "intolerável o bombardeamento de escolas em Gaza pelas forças armadas de Israel" e apelando a Telavive para que "respeite o direito humanitário", numa mensagem publicada na página do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
"Profundamente preocupados"
Já os Estados Unidos afirmaram esta tarde estar "profundamente preocupados" com o último ataque israelita que tem despoletado a condenação internacional e garantiram que Washington estava a tentar obter "mais pormenores" sobre o ataque junto dos responsáveis israelitas.

"Isto mostra a urgência de um cessar-fogo e de um acordo sobre os reféns, pelos quais continuamos a trabalhar incansavelmente", declarou o porta-voz da Casa Branca, Sean Savett, em comunicado.

c/agências
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