Israel volta a atacar sul do Líbano depois de instar à retirada da população
Novos ataques atingiram os subúrbios do sul da capital libanesa durante a manhã desta sexta-feira, provocando uma nuvem de fumo cinzento sobre Beirute, na sequência de um apelo para evacuação lançado pelo exército israelita.
Anteriormente, Avichay Adraee, porta-voz do exército israelita em língua árabe, tinha apelado aos residentes de Ghobeiry para abandonarem a zona, afirmando que estavam “perto de instalações e interesses afiliados ao Hezbollah”.Os subúrbios do sul, um dos bastiões do movimento pró-iraniano Hezbollah que tem sido alvo do exército israelita há várias semanas, foram em grande parte desocupados de habitantes, embora algumas pessoas regressem ocasionalmente durante o dia para inspecionar as suas casas ou empresas.
"A todos os residentes dos subúrbios do sul, especificamente (...) na zona de Ghobeiry (...), estais localizados perto de instalações e interesses afiliados ao Hezbollah, contra os quais as forças de defesa israelitas trabalharão com força num futuro próximo", avisou Avichay Adraee pedindo aos residentes para abandonarem o local.
A agência libanesa Ani noticiou igualmente os ataques aéreos israelitas efetuados durante a noite na cidade de Nabatiye (sul).
Por seu lado, o exército israelita declarou esta sexta-feira que tinha visado “centros de comando” da unidade de elite Al-Radwan do Hezbollah na zona de Nabatiye no dia anterior, bem como lançadores de foguetes que tinham disparado contra o norte de Israel na quinta-feira.A agência noticiosa informou igualmente que soaram sirenes no norte de Israel, nomeadamente na baía de Haifa, e que tinha intercetado “dois projéteis” provenientes do Líbano esta sexta-feira.
A 23 de setembro, o exército israelita lançou uma intensa campanha de bombardeamentos no Líbano, visando em especial os bastiões do Hezbollah, e em 30 de setembro lançou uma ofensiva terrestre no sul do país.
Telavive quer neutralizar o Hezbollah para permitir o regresso dos habitantes do norte de Israel, deslocados por mais de um ano de fogo do movimento libanês, que lançou uma “frente de apoio” contra o Hamas em outubro de 2023, no dia seguinte ao início da guerra em Gaza.
Segundo um relatório do Banco Mundial publicado na quinta-feira, o Líbano, que já sofre de uma crise económica sem precedentes, sofreu “perdas económicas” de mais de cinco mil milhões de dólares em pouco mais de um ano de violência entre o Hezbollah e Israel.
Em mais de um ano de conflito, pelo menos 3.386 pessoas morreram no Líbano e 14.417 ficaram feridas, de acordo com o mais recente balanço do Governo libanês.
A guerra conduzida por Israel na Faixa de Gaza teve início a 7 de outubro de 2023, dia do ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas ao território israelita.
EUA apresentam proposta de cessar-fogo no Líbano
O embaixador dos EUA no Líbano apresentou na quinta-feira um projeto de proposta de trégua ao presidente do parlamento libanês, Nabih Berri, avançaram duas fontes políticas libanesas à Reuters, sem fornecer detalhes.
O projeto foi a primeira proposta escrita de Washington para travar os combates entre Israel e o Hezbollah em pelo menos várias semanas, acrescentaram as fontes.
“É um projeto para obter observações do lado libanês”, avançou uma das fontes à Reuters. Quando questionado sobre a proposta, um porta-voz da embaixada dos EUA em Beirute disse: “Os esforços para chegar a um acordo diplomático estão em andamento”.
As esperanças já tinham sido alimentadas anteriormente, nomeadamente no final do mês passado, quando o primeiro-ministro do Líbano expressou otimismo quanto à possibilidade de se chegar a um cessar-fogo antes do final de outubro.
Nessa altura, fontes afirmaram que o cessar-fogo implicaria uma trégua inicial de 60 dias, com Israel a retirar as forças do Líbano na primeira semana. Seguir-se-ia um cessar-fogo permanente com base na aplicação das resoluções das Nações Unidas.
Em Israel, Eli Cohen, ministro da Energia e membro do gabinete de segurança, afirmou na quinta-feira que as perspetivas de um cessar-fogo são as mais promissoras desde o início do conflito.
“Acho que estamos num ponto em que estamos mais perto de um acordo do que estivemos desde o início da guerra”, afirmou Eli Cohen à agência noticiosa.
A administração Biden está a fazer um esforço para a paz no período que antecede a tomada de posse do presidente eleito Donald Trump em janeiro.Um relatório do Banco Mundial estimou em 8,5 mil milhões de dólares o custo dos danos físicos e das perdas económicas devidos ao conflito no Líbano - um preço enorme para um país que ainda sofre os efeitos de um colapso financeiro há cinco anos.
Entretanto, o Washington Post noticiou que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, estava a apressar-se a avançar com um cessar-fogo no Líbano com o objetivo de dar uma vitória antecipada em termos de política externa a Trump, que se espera que seja fortemente pró-Israel.
Os meses de esforços dos EUA para mediar um acordo entre Israel e o Hezbollah, aliados de Washington, falharam até agora. Israel lançou uma campanha aérea e terrestre acelerada no Líbano no final de setembro, após quase um ano de confrontos transfronteiriços em paralelo com a guerra de Gaza.
Noutro sinal potencialmente promissor, um alto funcionário libanês indicou que o Hezbollah afastaria as suas forças da fronteira israelo-libanesa no âmbito de um cessar-fogo.
O responsável, Ali Hassan Khalil, revelou à Al Jazeera na quarta-feira que os negociadores libaneses tinham chegado a acordo sobre “um determinado texto” com o enviado da Casa Branca, Amos Hochstein, durante a sua última visita a Beirute, no final de outubro.
Hochstein deveria ter comunicado o acordo ao lado israelita e depois enviar qualquer comentário a Beirute, acrescentou Khalil. “Estamos à espera e, se Deus quiser, em breve teremos o projeto a que ele chegou”, realçou.
Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU
Para o ministro israelita Eli Cohen um dos principais pontos de atrito para Israel é garantir a sua liberdade de ação caso o Hezbollah regresse às zonas fronteiriças.
Segundo o governante, o Líbano estava pronto para implementar “precisamente” a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que encerrou uma guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah.
Os termos israelitas exigem que o Hezbollah retire combatentes e armas das áreas entre a fronteira e o rio Litani, que corre a cerca de 30 quilómetros da fronteira sul do Líbano.Dezenas de milhares de israelitas com casas ao longo da fronteira continuam a ser deslocados pela ameaça de ataques do Hezbollah, e os custos da guerra no Líbano para Israel estão a aumentar. Seis soldados israelitas foram mortos em combate com o Hezbollah na quarta-feira.
Os EUA e outras potências afirmam que um cessar-fogo deve basear-se na Resolução 1701.
Depois de 2006, Israel queixou-se de que os combatentes e as armas do Hezbollah permaneceram na zona fronteiriça, enquanto o Líbano acusou Israel de violar a resolução ao enviar aviões de guerra para o seu espaço aéreo.
O chefe da manutenção da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, anunciou na quinta-feira, que “as Nações Unidas reforçariam a sua missão de manutenção da paz no Líbano para apoiar o exército libanês durante uma trégua, mas não aplicariam diretamente um cessar-fogo”.
Ali Hassan Khalil acrescentou que o Líbano não tem objeções à participação dos EUA ou da França na supervisão do cumprimento do cessar-fogo.
c/ agências