Intransigência de Israel e impunidade dificultam acordo de cessar-fogo em Gaza
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE) afirmou hoje que ainda não foi alcançado um cessar-fogo na Faixa de Gaza porque a "intransigência" de Israel "é acompanhada de uma impunidade total e as suas ações não têm consequências".
"Quase conseguimos, mas não conseguimos [o cessar-fogo]. Porquê? Muito simples, porque quem promove a guerra não tem interesse em acabar com esta. Estão a fingir, cada vez menos, porque a sua intransigência é acompanhada de impunidade e as suas ações não têm consequências", denunciou Josep Borrell numa conferência de imprensa no Cairo.
O diplomata espanhol alertou que "violações flagrantes do Direito internacional continuam a ser ignoradas" por Israel, recordando também que a UE apoiou "incondicionalmente" os esforços de mediação do Egito, do Qatar e dos Estados Unidos para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, algo que "tem sido anunciado tantas vezes" sem sucesso.
"Se instituições como o Tribunal Penal Internacional [TPI] são ameaçadas, se as decisões do Tribunal Internacional de Justiça [TIJ] são totalmente ignoradas, então qual é a solução e em quem podemos confiar?", questionou Borrell.
Da mesma forma, indicou que a UE não poupará esforços no apoio a um cessar-fogo, que deve ser acompanhado de uma "solução política" para o conflito histórico, da libertação dos reféns detidos pelo grupo islamita Hamas e da garantia do necessário apoio humanitário aos palestinianos.
Neste sentido, Borrell indicou que "deve ser lançado um processo" para implementar a solução de dois Estados -- que contempla a criação de um Estado Palestiniano independente --, além de "perceber que tipo de pressão deverá ser exercido sobre aqueles que não querem esta solução", disse, referindo-se ao Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Hoje, o diplomata espanhol também disse que "ninguém fez mais do que a União Europeia" para apoiar financeiramente a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) e a situação humanitária na Faixa de Gaza desde o início da guerra em 07 de outubro.
"Ninguém pode dizer que aquilo que fazemos na região são apenas boas intenções. Somos o maior doador da ANP. Não são intenções, são milhões de euros: temos sido o maior doador para apoiar a ajuda humanitária em Gaza. Não são apenas boas intenções. São mais de 300 milhões [de euros] desde o início da guerra", afirmou.
A imprensa árabe acusou o bloco europeu de "dois pesos e duas medidas" no conflito em Gaza, mas Borrell sublinhou hoje que "a UE está a apoiar a Palestina em todos os níveis para aliviar o sofrimento da população punida da Faixa de Gaza".
"Por favor, não digam que é apenas uma ilusão. Olhem para as contas, olhem para o fluxo de dinheiro, olhem para o número de voos que aterram no aeroporto a transportar ajuda humanitária para o povo de Gaza. Alguém está a fazer mais do que nós?", questionou o responsável da diplomacia da UE.
Borrell iniciou na segunda-feira uma viagem pelo Médio Oriente que o levou ao lado egípcio da passagem fronteiriça de Rafah, que liga Gaza ao Egito e permanece fechada desde maio passado, quando Israel invadiu a cidade palestiniana com o mesmo nome e assumiu o controlo da fronteira com a Península do Sinai.
Da mesma forma, reuniu-se também no Cairo com o Presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, que lhe sublinhou a responsabilidade que recai sobre a comunidade internacional e a UE de "exercer uma intensa pressão para chegar a um acordo que ponha fim à guerra em curso" em Gaza.
Nesta viagem participará ainda numa reunião da Liga Árabe na capital egípcia e, posteriormente, viajará para o Líbano, cenário de crescente tensão devido aos confrontos armados entre o grupo xiita libanês Hezbollah e Israel.