Guerra prossegue em Gaza apesar de apelo de cessar-fogo imediato da ONU
Os ataques aéreos de Israel e os confrontos com militantes do grupo islamita palestiniano Hamas continuaram esta terça-feira na Faixa de Gaza, apesar do Conselho de Segurança da ONU ter exigido um cessar-fogo imediato.
As Forças de Defesa de Israel disseram que vários alertas foram emitidos perto de Gaza devido ao lançamento de foguetes por parte de militantes palestinianos.
ONU vota cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza
O Conselho de Segurança da ONU votou a favor de um cessar-fogo imediato em Gaza pela primeira vez desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, depois de os EUA terem abandonado a ameaça de veto, colocando Israel num isolamento quase total na cena mundial. A resolução também sublinha "a necessidade urgente" de alargar o fluxo de assistência humanitária a Gaza e de proteger os civis, tendo em conta o elevado número de mortos civis e os avisos da ONU sobre a fome.
O resultado da votação marca o mais forte confronto público entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, desde o início da guerra.
Os Estados Unidos abstiveram-se e os outros 14 membros do Conselho votaram a favor da resolução de cessar-fogo do Conselho de Segurança, apresentada pelos 10 membros eleitos do Conselho que exprimiram a sua frustração com mais de cinco meses de impasse entre as grandes potências. Uma votação que aplaudida. O texto exige "um cessar-fogo imediato durante o mês do Ramadão, que conduza a um cessar-fogo duradouro e sustentável" e a libertação dos reféns, mas não fazia depender as tréguas da sua libertação, como Washington tinha exigido anteriormente.
O enviado palestiniano à ONU, Riyad Mansour, considerou a votação do Conselho de Segurança um "voto tardio para que a humanidade prevaleça".
"Este deve ser um ponto de viragem. Isto deve levar a salvar vidas no terreno", afirmou Mansour ao Conselho de Segurança. "Peço desculpa àqueles a quem o mundo falhou, àqueles que podiam ter sido salvos mas não o foram".
Já o Hamas saudou a resolução e disse estar pronto para uma troca imediata de prisioneiros com Israel, aumentando as esperanças de um avanço nas negociações em curso em Doha, onde os chefes dos serviços secretos e outros funcionários dos EUA, Egito e Catar estão a tentar mediar um acordo que envolveria a libertação de pelo menos 40 dos cerca de 130 reféns detidos pelo Hamas por várias centenas de detidos e prisioneiros palestinianos, e uma trégua que duraria um período inicial de seis semanas.
Depois de mais cinco meses de guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, esta foi a primeira vez que o Conselho de Segurança conseguiu aprovar uma resolução relativamente a um cessar-fogo no enclave, dado que vários projetos foram consecutivamente vetados. Esta terça-feira, uma perita em direitos humanos da ONU vai apresentar um relatório em que pede que Israel seja sujeito a um embargo de armas, com base no facto de ter levado a cabo atos de "genocídio" em Gaza.
A abstenção dos EUA seguiu-se a três vetos a resoluções de cessar-fogo anteriores, em outubro, dezembro e fevereiro, e marca o agravamento significativo de uma rutura com o governo de Netanyahu, refletindo a frustração crescente em Washington perante a insistência desafiadora do primeiro-ministro em que as forças israelitas vão avançar com o ataque a Rafah e perante os persistentes obstáculos israelitas à entrega de ajuda humanitária.
O Reino Unido que se absteve nas três resoluções anteriores sobre o cessar-fogo, votou a favor do texto de segunda-feira.
Benjamin Netanyahu cancela deslocação de ministros à Casa Branca
O primeiro-ministro israelita cancelou a visita de dois ministros à Casa Branca e diz que os EUA "abandonaram a sua política na ONU" depois de se terem abstido na votação de segunda-feira, dando esperança ao Hamas de uma trégua sem ceder os seus reféns e, por conseguinte, "prejudicando tanto o esforço de guerra como o esforço de libertação dos reféns".
O gabinete de Netanyahu cancelou uma visita a Washington de dois dos seus ministros, com o objetivo de discutir uma ofensiva israelita planeada para a cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, à qual os EUA se opõem. A Casa Branca declarou estar "muito desiludida" com a decisão. No entanto, a visita do ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, previamente agendada, prosseguiu.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, sublinhou na reunião com Gallant que existiam alternativas a uma invasão terrestre de Rafah que garantiriam melhor a segurança de Israel e protegeriam os civis palestinianos, segundo o departamento de Estado.
Em Washington, Gallant insistiu que Israel continuaria a lutar até que os reféns fossem libertados.
"Não temos o direito moral de parar a guerra enquanto houver reféns em Gaza", afirmou Gallant antes da sua primeira reunião com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan. "A falta de uma vitória decisiva em Gaza pode aproximar-nos de uma guerra no norte."
Para o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, a votação da ONU não representou uma mudança na política dos EUA, mas que a resolução assinalou uma rutura significativa entre a administração Biden e o governo israelita - e representou uma demonstração de unidade internacional há muito adiada em relação a Gaza, depois de terem sido dadas como mortas mais de 32 mil pessoas em Gaza estarem desaparecidas e de as agências da ONU estarem a alertar para a iminência de uma grande fome.
c/agências