Emmanuel Macron assiste a jogo França-Israel de alto risco

por Graça Andrade Ramos - RTP
Emmanuel Macron nas comemorações do 106º Armistício da I Grande Guerra a 11 de novembro de 2024 Ludovic Marin - Reuters

O Eliseu justificou a presença de Emmanuel Macron, no jogo da Liga das Nações marcado para a próxima quinta-feira no Estádio de França, explicando que o presidente francês pretende "mostrar o seu apoio total e pleno à equipa francesa, como o faz em cada jogo".

Emmanuel Macron quer, sobretudo, "enviar uma mensagem de fraternidade e de solidariedade após os atos antissemitas intoleráveis que se seguiram ao jogo em Amesterdão", sublinhou o comunicado da presidência francesa.

A decisão de Macron poderá igualmente por um ponto final no agravar das tensões entre França e Israel, após incidentes ocorridos no passado dia 7 de novembro, durante a visita a Jerusalém do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noël Barrot. Soldados israelitas destacados para a segurança de Barrot entraram "armados" e "sem autorização" no local santo de Eleona administrado pela França há 150 anos. Em protesto, o ministro desistiu da visita e prometeu chamar o embaixador de Israel em Paris. À saída, soldados israelitas envolveram-se com polícias franceses à paisana, que tentaram impedir a entrada dos militares no recinto.

Em Paris, os protestos pró-palestinianos têm juntado milhares de pessoas devido ao conflito em Gaza, com acusações de genocídio provocado por ações militares contra o grupo islamita Hamas.

Depois do ocorrido em Amesterdão, foram convocados milhares de polícias, para controlar eventuais distúrbios na capital francesa. A cidade está em alerta.

Israel apelou às comunidades judaicas europeias para usarem prudência evitando o uso de "símbolos judaicos" na rua, e aconselhou os apoiantes israelitas a não assistirem ao jogo. Mas há judeus que se mantêm desafiadores.
Jogo de "alto-risco"

A Federação Francesa de Futebol afirmou que foram vendidos apenas cerca de 20.000 bilhetes, um quarto da capacidade do estádio, mesmo sem a polícia ter colocado limites ao número de fãs presentes.

O prefeito da polícia de Paris, Laurent Nuñez, classificou o jogo como de "alto-risco" e anunciou que a segurança será "extremamente reforçada", à semelhança de um dispositivo antiterrorista.

"O ministro do Interior providenciou-me com os recursos da força interna de segurança, o que nos vai possibilitar ser extremamente reativos e evitar quaisquer excessos, quaisquer perturbações da ordem pública, tanto durante o jogo ou na proximidade imediata do jogo, ou no caminho dos espetadores que irão assistir ao jogo", referiu Nuñez.

Foram mobilizados entre 4.000 e 5.000 agentes, o triplo dos habituais 1.300 para um estádio pleno. Mil e 500 irão patrulhar os transportes públicos e a cidade, e 2.500 o interior e o exterior do Estádio de França.

O chefe da polícia de Paris referiu que os organizadores franceses têm estado em contacto com as autoridades e as forças de segurança israelitas para preparar o jogo. Uma unidade policial foi destacada para a segurança e proteção da equipa israelita.

As autoridades francesas declinaram contudo um pedido do deputado da extrema esquerda França Insubmissa, Thomas Portes, para proibir eventos contra o antissemistismo marcados para quarta-feira.

A iniciativa Israel é para Sempre inclui uma gala pró-israelita e uma manifestação em Paris, descritas por um dos organizadores, a associação internacional Betar, considerada de extrema-direita, como "mobilização das forças zionistas francófonas". 

"Estamos escandalizados com o que se passou em Amesterdão e pela reação dos governos", disse Yigal Brand, presidente do Betar global, em comunicado. "Somos sionistas com muito orgulho e não vamos pedir desculpa", acrescentou. 

"Vamos manifestar-nos em Paris na quarta-feira e na quinta-feira no jogo de futebol que está igualmente ameaçado por jihadistas", concluiu.
Dúvidas israelitas
Telavive criticou a resposta das autoridades holandesas aos distúrbios de Amesterdão, que provocaram três dezenas de feridos entre os apoiantes da equipa Maccabi Telavive.

Antes do jogo, as autoridades holandesas detiveram quatro suspeitos, que serão presentes a juíz esta semana. Depois dos distúrbios foram interpeladas cerca de 60 pessoas. Números que o governo israelita parece considerar insuficientes. "O edil de Amesterdão informou-me que foi formada uma equipa especial de investigação, mas eu posso dizer que até agora o número de detenções é muito baixo", criticou esta segunda-feira o novo ministro dos Negócios de Estrangeiros de Israel, Gideon Sa'ar.

Para Israel, as autoridades holandesas nada fizeram para prevenir a violência, apesar de avisos prévios.

O Conselho de Segurança Nacional de Israel disse domingo que "foram identificados grupos que querem atacar israelitas em diversas cidades europeias" durante jogos com a equipa nacional de Israel. Foram identificadas as cidades de Bruxelas, Amesterdão e a capital francesa, assim como várias cidades britânicas.

O primeiro-ministro dos Países-Baixos, Fick Schoof, condenou a "violência antissemita contra os israelitas" e vai reunir-se com grupos judaicos do país esta terça-feira. No mesmo dia, o parlamento da autarquia irá reunir-se para um debate urgente sobre a situação.

Foi declarado o estado de emergência em Amesterdão e no subúrbio vizinho de Amstelveen depois dos distúrbios de quinta-feira para sexta-feira.
Uma noite de pesadelo
Após o jogo com o Ajax para a Liga Europa, os apoiantes da equipa israelita Maccabi Telavive foram perseguidos de forma violenta pelas ruas de Amesterdão, por grupos de indivíduos, alegadamente pró-palestinianos. Foram pontapeados, maltratados, alvo do arremesso de objetos e seguidos mesmo dentro de hotéis e de residências.

Cinco apoiantes do Maccabi tiveram de ser hospitalizados.

A polícia holandesa afirmou que os atacantes se organizaram em resposta a um apelo lançado nas redes sociais contra os judeus. Outras fontes apontam o dedo a hooligans israelitas, que se terão apoderado e queimado de uma bandeira palestiniana e entoado cânticos antipalestinianos.

A aparente incapacidade de reação da polícia perante os distúrbios foi uma das principais críticas ao sucedido. Uma família israelita, incluindo um rapaz de 14 anos, afirmou nas redes sociais ter sido espancada e presa por polícias, que os levaram para a esquadra num carro com autocolantes pró-palestinianos. Não apresentou provas da acusação.

Israel fretou dois aviões de emergência para retirar os seus cidadãos dos Países Baixos e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ligou a ocorrência às queixas apresentadas no Tribunal Penal Internacional contra Israel, devido às suas operações militares em Gaza.

Num vídeo publicado na rede X, Netanyahu disse que "uma linha clara liga os ataques antissemitas contra Israel ocorridos recentemente em solo holandês: o ataque legal criminal contra Israel no tribunal internacional de Haia e o violento ataque criminoso contra cidadãos israelitas nas ruas de Amesterdão".

O primeiro-ministro de Israel comparou também a noite de quinta para sexta-feira, à Noite de Cristal ocorrida na Alemanha entre 10 e 11 de novembro de 1938. 

O chamado progrom, autorizado pelo estado nazi, destruiu lojas e comércio de judeus e levou ao assassinato de 91 judeus.
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