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Donald Trump muda estratégia do Pentágono para o Médio Oriente

por Graça Andrade Ramos - RTP
Operações militares dos EUA contra os Houthi no Iémen em março de 2025 US CENTCOM via X - Reuters

A nova Administração norte-americana dá sinais de que está a rever a sua presença militar no Médio Oriente e os seus sistemas operacionais, implementando uma maior flexibilidade de reação e incrementando a sua presença.

"A orientação sob Trump indica uma vontade de expandir alvos e ação geográfica dos ataques militares" das forças norte-americanas na região, referiu à Al Arabiya uma das principais conselheiras de Biden para o Médio Oriente, Dana Stroul.

As alterações notam-se já na campanha lançada esta semana contra os Houthi, no Iémen.

Desde o fim de semana passado sucederam-se mais de 50 ataques num ritmo diário, atingindo bases militares chave, incluindo locais de lançamento de drones e arsenais. Mas igualmente as casas de líderes de topo do grupo apoiado pelo Irão e responsáveis do seu programa de drones, ao contrário do tempo de Biden. De acordo com responsáveis militares norte-americanos, estes bombardeamentos tiveram um impacto significativo nas capacidades militares do grupo islamita apoiado pelo Irão. E o Pentágono planeia alocar na região pessoal e capacidade de defesa aérea adicionais.

As operações deverão persistir até que as perdas operacionais levem os Houthi a desistir da sua agressão, especialmente contra cargueiros que usam as rotas comerciais do Mar Vermelho.
Delegar autoridade

As diretivas operacionais foram igualmente revistas, com os comandantes a serem crescentemente autorizados a tomar decisões que sob Biden tinham de ser autorizadas por escalões mais elevados.

O Pentágono de Trump está a dar maior autonomia aos comandos militares, para determinar alvos e executar ataques quando surge a oportunidade, incrementando os tempos de resposta.

"A delegação da autoridade, desde o presidente através do secretário da Defesa até ao comandante operacional, dá-nos um tempo de operações que nos permite reagir a oportunidades que surgem no campo de batalha, de forma a continuar a pressionar os Houthi", aplaudiu o tenente-general Alex Grynkewich, diretor de operações do Estado-Maior dos EUA.

Stroul reflete por seu lado que esta maior mobilidade operacional permite aos Estados Unidos passar da retaliação ocasional a uma campanha militar sustentada. Aponta contudo a necessidade de seleção cuidadosa de alvos, de forma a minimizar vítimas civis.
Estratégia com riscos

"A Administração Trump dá prioridade a liberdade de navegação e o livre fluxo comercial", sublinhou o general Joseph Votel, ex-comandante do Comando Central dos EUA.

Mas a nova estratégia pedida ao Pentágono tem os seus críticos. Alguns apontam por exemplo os perigos de tal tática para os arsenais norte-americanos.

"Certamente, aumentamos a nossa capacidade de fabrico, mas a procura por munições permanece muito elevada. O Departamento de Estado terá de estar atento a esta questão", notou Votel.

A vontade de Trump em resolver a guerra na Ucrânia, incluindo sob ameaça de cortar apoios militares a Kiev, e a pressão da nova Administração sobre os parceiros europeus da NATO para aumentar a sua participação na Aliança, sobretudo quanto a despesas com armamento, pode refletir uma adaptação estratégica que dá prioridade ao Médio Oriente.

Enquanto o tempo de duração da campanha contra os Houthi não está determinado e é difícil entender até onde vai a capacidade operacional do grupo iemenita, tanto Stroul como Vatel concordam que a campanha militar por si só não irá resolver a ameaça, sendo necessária uma estratégia mais abrangente para garantir uma estabilidade duradoura na área.
Pressão sobre o Irão
Apesar destes receios, o Pentágono tem insistido que o objetivo das recentes operações no Iémen é a proteção dos interesses norte-americanos.
"Há um objetivo último muito claro nesta operação, e isso começa no momento em que os Houthi se comprometam a parar de atacar os nossos navios e de colocar em risco vidas norte-americanas", afirmou segunda-feira passada em conferência de imprensa o porta-voz do Pentágono Sean Parnell.

A Administração Trump voltou entretanto a incluir os Houthi na lista de Organizações Terroristas, numa tentativa de isolar o Iémen do sistema financeiro mundial. Biden tinha retirado o grupo da lista ao chegar à Casa Branca, em 2021. 

A mudança marca um aumento da pressão sobre os grupos apoiados pelo Irão no Médio Oriente, como o Hamas ou o Hezbollah. Washington tem multiplicado avisos a Teerão para deixar de apoiar os Houthi com informação, armas e treino.

Está marcado para a próxima semana na capital norte-americana um encontro entre responsáveis israelitas e dos EUA sobre o programa nuclear iraniano e o seu apoio a grupos armados em todo o Médio Oriente.
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