Os Houthis estão a desempenhar um papel significativo no Oriente Médio, acrescentando riscos regionais ao conflito.
Há mais de um mês que um grupo rebelde do Iémen ataca navios mercantes no Mar Vermelho, colocando em causa 12 por cento do comércio mundial, que representa 1,2 mil milhões de dólares por ano.
Também conhecidos como
Partidários de Deus, os Houthis anunciaram que entravam na guerra entre Israel e o Hamas ao lado do povo palestiniano. Entre as manobras prometidas estão os
ataques a todos os navios com destino a Israel que cruzem o mar Vermelho.
O que se passa no Mar Vermelho
Os Houthis, para além de lançarem mísseis e drones em direção a Israel a partir de territórios controlados no Iémen, incluindo o porto de Hudaydah, ameaçam também as rotas marítimas.
"Mais de duzentos navios comunicaram incidentes e cerca de 180 navios foram obrigados a mudar de rota", afirma Gokcay Balci, especialista em logística da universidade britânica de Bradford, citado na Euronews. No entanto, nenhum navio foi afundado ou sofreu baixas na tripulação.
Desde que começou a ofensiva, pelo menos dois navios israelitas, o Unity Explorer e o Number 9, foram atacados com um drone armado e um míssil naval. Um porta-voz dos militares do grupo disse que os dois navios foram alvejados depois de rejeitarem os avisos, sem dar mais detalhes, de acordo com a Reuters.
Num comunicado transmitido pelo movimento Houthi, para além de renvidicar os ataques, afirma que estas ações são a resposta às exigências do povo iemenita e aos apelos das nações islâmicas para apoiarem o povo palestiniano.
A concentração de ataques numa faixa marítima com apenas 32 quilómetros de largura, entre o Iémen e o Djibuti, passou assim a complicar a circulação do comércio.
Dos dez maiores armadores do mundo, oito, incluindo a MSC e a Maersk, suspenderam temporariamente todas as rotas no Mar Vermelho. Decidiram assim navegar por uma rota mais longa e contornar o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, para chegar à Europa.
Um desvio de nove mil quilómetros que resulta "entre seis e 14 dias extra de viagem", de acordo com Guy Platten, secretário-geral da Câmara Internacional da Marinha Mercante. Estes desvios não tiveram, para já, impacto no preço das mercadorias, assegura Platten.
Ocidente responde com "Prosperity Guardian"
Foi anunciado a 19 de dezembro pelos Estados Unidos o início de uma operação denominada "Prosperity Guardian", na tentativa de restabelecer a ordem no Mar Vermelho.
Trata-se de uma coligação internacional que inclui Reino Unido, França, Itália, Espanha, Países Baixos, Noruega, Austrália e Seychelles.
De acordo com uma análise de Chris Doyle, diretor do Council for British-Arab Understanding, “se os rebeldes não puserem termo a estes ataques, a coligação militar pode tornar-se mais agressiva e decidir neutralizar algumas das posições rebeldes", apesar de "não ser uma tarefa fácil atingi-las nas colinas do Iémen".
"Os Houthis têm sido capazes de lançar mísseis contra a Arábia Saudita, atingindo alvos vitais como infraestruturas petrolíferas, e os Emirados Árabes Unidos. Têm mísseis que podem viajar mais de 1.600 quilómetros" observa Doyle, sublinhando que "é perigoso, mas não fazer nada pode ser igualmente problemático, além de colocar em risco uma rota importante como a do Mar Vermelho".
Os Houthis, por seu lado, prometem continuar a organizar ataques "até que a agressão israelita termine".