Ucrânia mobiliza-se face a avanços russos e ameaça de reforços norte-coreanos
A Ucrânia anunciou uma nova mobilização de 160 mil soldados face à aceleração dos avanços russos, incluindo a tomada da cidade oriental de Selydové, e ao receio de que Moscovo envie tropas norte-coreanas.
Na terça-feira, Moscovo reivindicou a conquista da região de Selydové, que tinha uma população de cerca de 20 mil pessoas antes da guerra, um avanço importante perto de Pokrovsk, uma encruzilhada logística na região ucraniana de Donetsk, no leste do país.
A conquista das regiões orientais da Ucrânia foi definida como a “prioridade” por Vladimir Putin nesta invasão lançada em fevereiro de 2022 pelo exército russo, que depois não conseguiu tomar a capital Kiev e foi empurrado para leste.
O Ministério russo da Defesa anunciou também a tomada de três cidades da região: Guirnyk, Katerynivka e Bogoyavlenka.
Desde há cerca de um ano, a Rússia recuperou a iniciativa face às tropas ucranianas, prejudicadas pela falta de homens e de equipamento e pelo adiar constante do Ocidente quanto à dimensão da ajuda militar prestada.
Reforço do exército ucraniano em 85 por cento
Kiev vai mobilizar pelo menos 160 mil soldados suplementares, revelou aos deputados Oleksandre Lytvynenko, secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia.
De acordo com Lytvynenko, esta medida permitirá reforçar o exército em 85 por cento, uma vez que, desde o início da invasão, “foram alistados um total de 1,050 milhões de cidadãos”.Esta mobilização deverá ter lugar nos próximos três meses, disse à AFP uma fonte do sector da segurança.
O anúncio surge no momento em que a Ucrânia continua a recrutar pessoal para a sua incursão na região russa de Kursk, que teve início em agosto.
A mobilização surge depois de o Parlamento ucraniano ter aprovado, em abril, legislação que ajuda a mobilizar tropas para combater as forças invasoras russas.
A lei exige que todos os homens com idades compreendidas entre os 25 e os 60 anos registem os seus dados numa base de dados eletrónica para poderem ser chamados. Os oficiais de recrutamento estão à caça dos que fogem ao registo, obrigando mais homens que não se querem registar a esconderem-se.
A medida tem por objetivo aumentar o número de efetivos militares, que se encontra sob forte pressão, uma vez que a Rússia continua a ganhar terreno no Leste.
O exército russo avançou 478 quilómetros quadrados na Ucrânia desde o início de outubro, o maior ganho territorial num mês desde março de 2022 e as primeiras semanas do conflito, segundo uma análise feita pela AFP na segunda-feira, com base em dados do Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW).
Internacionalização da guerra
Na semana passada, o presidente Vladimir Putin recusou-se a negar que as tropas norte-coreanas tivessem chegado à Rússia, depois de ter sido noticiado que Pyongyang se preparava para enviar milhares de soldados para ajudar o seu aliado. No entanto, dias depois afirmou que era uma decisão russa.
Entretanto, chefe da diplomacia norte-coreana, Choe Son Hui, esteve na terça-feira em Vladivostok, no Extremo Oriente russo, e é esperado em Moscovo esta quarta-feira, segundo as agências noticiosas russas.
O Pentágono estima que cerca de dez mil soldados norte-coreanos tenham sido destacados para treinar no leste da Rússia.
Os Estados Unidos afirmaram na terça-feira que um “pequeno número” de tropas norte-coreanas foi enviado para Kursk. Outros milhares de soldados norte-coreanos estão a caminho do local.
A Coreia do Sul afirmou que as tropas de Pyongyang estão a ser treinadas em vários locais, tendo muitas delas utilizando uniformes russos para se disfarçarem.
Segundo a AFP, um funcionário do Governo de Seul disse que cerca de 11 mil soldados já foram enviados para a Rússia, com pelo menos três mil a serem enviados para o oeste do país. Há muito que a Coreia do Norte é acusada de fornecer grandes quantidades de armas à Rússia, mas o envolvimento das suas tropas nos combates seria mais uma escalada no pior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Este assunto esteve no centro da conversa telefónica de terça-feira entre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o seu homólogo sul-coreano Yoon Suk Yeol.
“Chegámos à mesma conclusão: esta guerra está a tornar-se global”, disse Zelensky, que se encontra na Islândia, através do Telegram.
A imprensa ucraniana que cita Zelensky revela que uma delegação da Coreia do Sul - um dos principais produtores de armas - deverá visitar a Ucrânia esta semana, com o objetivo de “intensificar as trocas” entre Kiev e Seul.
c/ agências