Três anos de guerra. Morte é uma realidade na vida das crianças ucranianas
Uma em cada cinco crianças na Ucrânia indica ter perdido um familiar ou amigo próximos desde a escalada da guerra, a 24 de fevereiro de 2022. Para a UNICEF, "a morte e a destruição têm sido uma constante na vida" dos menores ucranianos.
No entanto, o Fundo das Nações Unidas para as Crianças estima que o número real seja mais elevado, “uma vez que estes dados contabilizam apenas as vítimas infantis confirmadas pela ONU”.
“Nos últimos três anos, verificou-se que mais de 1.600 estabelecimentos de ensino e quase 790 estabelecimentos de saúde foram danificados ou destruídos na totalidade”, acrescenta o documento.
A guerra na Ucrânia fez com que as crianças e os adolescentes enfrentassem perdas e privações profundas, que afetaram o seu desenvolvimento e bem-estar, durante fases críticas das suas vidas.
“As experiências vividas durante os primeiros três anos de vida impactam profundamente a saúde e a aprendizagem das crianças ao longo da vida. Na Ucrânia, as crianças de três anos só conhecem a guerra. Os pais dizem sentir-se física e emocionalmente exaustos, o que afeta a vida familiar”, alerta a UNICEF.
Além disso, os serviços essenciais para as crianças e para os seus pais também foram afetados pela guerra. A adolescência é também uma altura particularmente difícil para as crianças na Ucrânia.
Isolamento agrava saúde mental
O relatório revela ainda que “quase um terço dos adolescentes declarou sentir-se tão triste ou sem esperança que deixou de fazer as suas atividades habituais. Estes sentimentos revelaram-se mais comuns entre as raparigas”.
Os problemas de saúde mental das crianças e dos jovens na Ucrânia estão a agravar-se devido ao isolamento.
Muitas crianças passam constantemente horas abrigadas em caves, perdendo oportunidades de socializar e aprender. Cerca de 40 por cento das crianças estudam apenas remotamente online, ou têm aulas presenciais e à distância.
Segundo a UNICEF, “o impacto na aprendizagem tem sido profundo, com uma perda média de dois anos de escolaridade em termos de competências de leitura e um ano em competências de matemática”.
O Fundo das Nações Unidas para as Crianças está a trabalhar com parceiros ucranianos “para prestar apoio essencial destinado a salvar vidas, nomeadamente prestando acesso a cuidados de saúde, água potável, assistência monetária, educação e serviços de proteção infantil para as crianças nas zonas da linha da frente”.
Nesse sentido, “tem reparado e reabilitado redes de água e saneamento, e assegurado que as famílias com crianças têm acesso a combustível e vestuário para mantê-las quentes durante os invernos rigorosos”.
Ao mesmo tempo, a UNICEF em conjunto com o Governo de Volodymyr Zelensky para “apoiar a recuperação e o desenvolvimento do país a longo prazo, promovendo a coesão social, através do reforço dos sistemas que servem as crianças e as suas famílias, e garantindo sistemas de proteção social e infantil, de saúde e de educação, bem como cuidados e oportunidades às crianças em tempo útil e com qualidade”.
Mais de 6,8 milhões de refugiados
Atualmente, existem 6,86 milhões de refugiados ucranianos registados em todo o mundo, dos quais quase um milhão reside na Polónia.
Em Portugal, há 46.823 refugiados ucranianos, sendo 19 por cento crianças, o que corresponde a 10.393 menores.
Para as crianças refugiadas, o acesso à escola continua a ser um desafio, com metade das crianças em idade escolar nos países de acolhimento de refugiados a não estarem inscritas nos sistemas educativos nacionais, o que afeta a sua oportunidade de aprender e interagir com os seus pares, bem como de desenvolver competências essenciais que serão fundamentais para a recuperação da Ucrânia após a guerra.
Violência causa medo e sofrimento
“Durante demasiado tempo, a morte e a destruição têm sido uma realidade constante na vida das crianças na Ucrânia”, afirmou a Diretora Executiva da UNICEF, Catherine Russell.
“Este nível de violência causa imenso medo e sofrimento, e perturba todos os aspetos da vida de uma criança”, acrescentou.
Para Catherine Russell, “as crianças devem ser sempre protegidas dos impactos da guerra, de acordo com o direito internacional humanitário e a legislação internacional de direitos humanos”.
“Mais do que qualquer outra coisa, as crianças na Ucrânia precisam de paz sustentada e da oportunidade de concretizar todo o seu potencial”, concluiu.