Sindicato dos Jornalistas da Ucrânia pede entrega urgente de equipamentos de proteção

por Lusa
Marko Djurica - Reuters

  O presidente do Sindicato dos Jornalistas da Ucrânia, Sergyi Tomilenko, pediu hoje às organizações do setor de todo o mundo que ajudem na entrega de coletes antibala e capacetes aos profissionais ucranianos, "os primeiros da linha da frente da guerra".

Em entrevista à agência Lusa, Sergyi Tomilenko disse que o sindicato já teve promessas de apoio das federações internacional e europeia de jornalistas, bem como da UNESCO, mas só recebeu cinco coletes, quando existem pelo menos dois mil jornalistas ucranianos a trabalhar em zonas de conflito.

"Qualquer jornalista na Ucrânia é um jornalista da linha de combate e um dos maiores problemas é a falta de equipamentos de segurança", afirmou Sergyi Tomilenko.

"Recebemos um grande suporte das federações internacional e europeia de jornalismo e da UNESCO", com a "promessa de "100 coletes de segurança e capacetes", mas esses equipamentos estão ainda a ser feitos e "só devem chegar para a semana".

Até ao momento, "só recebemos cinco coletes de segurança, dos nossos parceiros polacos e suecos", mas a "situação é muito perigosa" para os jornalistas no terreno.

O sindicato tem mais de 18 mil membros e estima de dez mil estejam no ativo, com, pelo menos, dois mil a trabalhar diretamente em zonas de conflito.

Segundo Sergyi Tomilenko, as tropas russas "visam os jornalistas, especialmente os jornalistas ucranianos" que funcionam como apoio de `media` estrangeiros ou trabalham para meios nacionais, porque querem "parar a cobertura jornalística" da guerra.

"A Rússia tenta matar os jornalistas numa campanha de intimidação" para "pressionar o jornalismo independente", explicou, em declarações à Lusa.

E deu vários exemplos, como o de um editor, de 75 anos, de um jornal local de Melitopol (conquistada pelos russos), pressionado a publicar notícias favoráveis a Moscovo ou as ordens para que os jornalistas de uma rádio e televisão em Berdyansk "emitissem propaganda".

Perante a recusa dos trabalhadores da televisão, a rádio passou a ser emitida a partir de Donbass (território ucraniano que passou para as mãos de independentistas locais com o apoio militar russo em 2014).

"Na Ucrânia, o jornalismo hoje é muito perigoso", disse, salientando que, em Mariupol (cidade do sul quase totalmente conquista por Moscovo), os serviços humanitários ajudaram "30 profissionais dos media a escapar", tendo morrido pelo menos um operador de câmara, o que elevou para quase uma dezena o número de jornalistas mortos na guerra.

No seu entender, a "propaganda russa é responsável por esta guerra, porque suportaram e veicularam um discurso de ódio contra a Ucrânia" ao longo dos anos. "A maior parte dos russos apoiam [o Presidente russo] Putin e os jornalistas russos são culpados disso".

"Os ucranianos não confiam e não querem ver esta propaganda russa", mas a narrativa de Moscovo, segundo o dirigente sindical, está a colocar pressão em muitos órgãos internacionais.

"Alguns media ocidentais tentam ser objetivos, mas estão a criar histórias que suportam a propaganda de guerra", disse, dando exemplos de entrevistas com civis ou soldados russos a incentivar a morte de civis "sem qualquer enquadramento editorial".

Quanto às autoridades ucranianas, Sergyi Tomilenko admitiu que existe "alguma propaganda", mas o grande objetivo é "lutar contra os ocupantes" e não ganhar "espaço mediático".

"Vemos que há respeito dos jornalistas, independentemente da nacionalidade, tentam realizar viagens de imprensa. Talvez no futuro tenhamos alguns problemas, mas agora não", explicou.

Os "jornalistas na Ucrânia têm alguma liberdade de movimentos e a propaganda ucraniana é muito menor que a propaganda russa. Não há comparação possível", resumiu Sergyi Tomilenko.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, pelo menos 1.081 mortos, incluindo 93 crianças, e 1.707 feridos, entre os quais 120 são menores, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, das quais 3,7 milhões foram para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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