Rússia volta a atacar Odessa e Mikolayiv e aponta mira a navios com cereais

por Carla Quirino - RTP
Odessa Reuters

A Rússia atacou durante a última noite Odessa e Mikolayiv, no sul da Ucrânia, com 19 mísseis de cruzeiro direcionados a "portos, docas, residências e empresas", adiantou esta quinta-feira a Força Aérea ucraniana. Moscovo veio também ameaçar navios com grãos ucranianos no Mar Negro: serão considerados alvos militares. A insegurança do abastecimento mundial já fez disparar o preço do trigo.

Pela terceira noite consecutiva, a Rússia atacou infraestruturas portuárias do sul da Ucrânia, depois de Moscovo ter anunciado, na segunda-feira, a suspensão do acordo de exportação de cereais. Ao abrigo deste entendimento, o Kremlin comprometia-se a permitir a saída de grãos ucranianos pelo Mar Negro e a não atacar infraestruturas relacionadas com a produção e exportação agrícolas.

"Os ocupantes voltaram a atacar a região sul da Ucrânia", lê-se no relatório da Força Aérea. "Desta vez Odessa e Mikolayiv foram os alvos dos mísseis", acrescentou este ramo militar.

Um dos ataques aéreos russos na cidade portuária ucraniana de Mykolaiv feriu 18 pessoas, de acordo as autoridades locais. O governador da região, Vitaliy Kim, confirmou que nove dos feridos, incluindo cinco crianças, foram levados para o hospital.

Foram relatados outros ataques aéreos no porto de Odessa. 

Também foi registado um ataque de drone na Crimeia anexada pela Rússia, que matou uma adolescente, segundo as autoridades russas.O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou Moscovo de visar deliberadamente a infraestrutura de exportação de cereais.

Além dos 19 mísseis, a Rússia lançou 19 drones kamikaze Shahed, de produção iraniana, contra território da Ucrânia. Segundo a Força Aérea do país, foram intercetados cinco mísseis e 13 drones.

No discurso da noite passada, Zelensky pediu aos aliados mais sistemas antiaéreos para proteger cidades e portos.

O ataque com mísseis na quarta-feira destruiu vários silos no porto de Chornomorsk, na região de Odessa, um dos três portos do Mar Negro através dos quais a Ucrânia exportava cereais.

A Ucrânia denunciou que os ataques russos a portos e a suspensão do acordo dos cereais são uma tentativa de provocar perturbações alimentares em África e na Ásia, continentes que dependem em grande medida dos cereais ucranianos, para provocar uma crise de refugiados que afete os aliados de Kiev na Europa ocidental.Escalada. Navios com cereais tornam-se alvos
A retirada de Moscovo do acordo sobre a exportação de cereais da Ucrânia e passagem segura pelo Mar Negro não só coloca a África em risco de aumento da insegurança alimentar, como os problemas de abastecimento mundiais já estão a desencadear aumentos de preços do trigo.

A Rússia avisa agora que quaisquer navios que transportem grãos serão vistos como alvos militares.

"A partir da meia-noite, horário de Moscovo, a 20 de julho, de 2023 [quarta-feira, 22h00 em Lisboa], todos os navios que navegam no Mar Negro para portos ucranianos serão considerados potenciais transportadores de carga militar", reiterou o Ministério russo da Defesa, citado pela BBC.

"Os Estados da bandeira de tais embarcações serão considerados envolvidos no conflito ucraniano ao lado do regime de Kiev", acrescentou.

Por sua vez, Kiev instou outros países da região do Mar Negro a intervirem para garantir a passagem segura de navios de carga.

A Rússia, ao enredar os países transportadores dos grãos ucranianos, terá intenção de torná-los potenciais fações beligerantes. Um porta-voz da Casa Branca já veio acusar Moscovo de planear culpar a Ucrânia, caso haja ataques a navios civis.

O analista da Marex Capital, Charlie Sernatinger, observou que este tipo de escalada poderá "cortar todos os embarques de grãos do Mar Negro, tanto russos quanto ucranianos", o que causará uma situação semelhante à do início da guerra.

Também na quarta-feira o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou o Ocidente de usar o acordo de grãos como "chantagem política". E acusou a Ucrânia de usar o corredor de cerais do Mar Negro para "fins de combate".

Porém, Putin relembrou que retomaria o acordo de cereais assim que as exigências de Moscovo fossem atendidas. Um dos pontos chave passa por ser restabelecida a ligação do banco agrícola da Rússia a um sistema de pagamento global.

A Rússia começou a atacar os portos da Ucrânia nas primeiras horas da terça-feira, logo a seguir à sua retirada do acordo.

O ministro ucraniano da Agricultura, Mykola Solskyi, afirmou que os ataques russos destruíram 60 mil toneladas de grãos e danificaram partes consideráveis da infraestrutura de exportação de cereais.

As cerca de 60 mil toneladas deveriam ser exportadas para a China.

Em comunicado, a Kernel, proprietária da infraestrutura danificada, afirma que se os ataques russos aos portos prosseguirem os preços dos cereais podem aumentar entre 30 a 40 por cento. 

Silos danificados em Odessa, após ataque russo | Ministério das Infraestruturas da Ucrânia via Reuters

Os preços do trigo nas bolsas europeias subiram 8,2 por cento na quarta-feira em relação ao dia anterior, atingindo 253,75 euros por tonelada, enquanto os preços do milho subiram 5,4 por cento.

Nos EUA, o trigo aumentou 8,5 por cento na quarta-feira, registando a maior subida diária desde o início do conflito, em fevereiro de 2022.

c/ agências

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