Rússia deixa aviso. Adesão da Ucrânia à NATO constituiria ameaça "inaceitável"
O Kremlin avisou esta terça-feira que a eventual adesão da Ucrânia à NATO constituiria uma ameaça "inaceitável" para a Rússia. Moscovo reagiu desta maneira a declarações de Volodymyr Zelensky, que na semana passada sugeriu ceder territórios ucranianos capturados em troca de uma adesão à Aliança Atlântica.
O porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, afirmou que "uma decisão deste tipo é inaceitável para a Rússia, porque seria um acontecimento ameaçador".
À entrada de uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, em Bruxelas, o líder da Aliança, Mark Rutte, afirmou que os aliados devem aumentar a ajuda militar à Ucrânia de modo a fortalecer a posição de Kiev, caso esse país inicie negociações com Moscovo para pôr fim à guerra.
"Todos precisamos de fazer mais. Quanto mais forte for o nosso apoio à Ucrânia agora, mais forte ela será na mesa de negociações", explicou.
"Putin não está interessado na paz. Ele está a pressionar, a tentar ganhar mais território. Porque ele acredita que consegue quebrar a determinação da Ucrânia e a nossa também, mas está enganado", acrescentou Rutte.
Zelensky sugeriu ceder territórios em troca de adesão
As declarações chegam depois de, na sexta-feira passada, o presidente ucraniano ter sugerido que seria possível chegar a um acordo de cessar-fogo se o território ucraniano que controla fosse colocado "sob a alçada da NATO", mesmo que a Rússia não devolva imediatamente os territórios apreendidos.
Em entrevista à estação britânica Sky News, Volodymyr Zelensky explicou que a adesão à Aliança Atlântica teria de ser oferecida às partes não ocupadas do país para pôr fim à "fase quente da guerra", desde que o próprio convite da NATO legitimasse as fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia.
No domingo, porém, o presidente da Ucrânia alterou a sua posição, explicando que o convite para a entrada na NATO deverá estender-se a todo o território ucraniano, incluindo as regiões ocupadas pela Rússia.
Numa entrevista ao Observador, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, considerou que o mundo cairia no caos se um país como a Rússia conseguisse impor a alteração das fronteiras da Ucrânia pela força.
EUA querem "deitar gasolina ao fogo"
Nas declarações desta terça-feira, o porta-voz do Kremlin vincou que a decisão dos Estados Unidos de enviar mais armas para a Ucrânia, no valor de 725 milhões de dólares, revela que a Administração de Joe Biden está determinada a "deitar gasolina ao fogo".
"A atual Administração está a seguir os seus objetivos. A sua posição consistente é impedir que esta guerra acalme", declarou Dmitry Peskov.
"Estão a fazer tudo o que podem para deitar mais gasolina ao fogo. No entanto, este e outros pacotes de ajuda não conseguem mudar o rumo dos acontecimentos nem a dinâmica na linha da frente".
Ataques russos cortam energia
Entretanto, as autoridades ucranianas avançaram esta terça-feira que novos ataques russos a infraestruturas no país causaram cortes generalizados de energia no oeste, a centenas de quilómetros da linha da frente do conflito.
Durante a última noite, um drone russo atingiu uma infraestrutura elétrica em Ternopil, cidade com mais de 220 mil habitantes, informou o responsável da região, Serguiï Nadal, na rede social Telegram.
"Parte da cidade está sem eletricidade", acrescentou, apelando aos residentes para que se abasteçam de água e carreguem os telefones.Segundo os especialistas, a Rússia está a tentar destruir as linhas de transmissão de energia das fábricas localizadas no oeste e leste da Ucrânia.
Esta cidade foi atingida na segunda-feira por outro ataque com um drone, que matou um civil e feriu pelo menos três pessoas, depois de ter sofrido cortes de energia em novembro que deixaram milhares de pessoas sem eletricidade.
Outro ataque noturno de Moscovo teve como alvo a região vizinha de Rivne, segundo revelou a administração regional. "A infraestrutura energética foi o alvo", disse o governador Oleksandr Koval.
Também esta terça-feira, o exército russo reivindicou a conquista de duas aldeias no leste e no sul da Ucrânia, onde as suas tropas, mais numerosas do que as de Kiev, estão a atacar e a ganhar terreno.
Em comunicado, o Ministério da Defesa russo avançou que as suas forças tomaram as aldeias de Romanivka, na região de Donetsk (leste), a cerca de nove quilómetros da importante cidade de Kurakhove, e Novodarivka, na região de Zaporizhia (sul).
c/ agências