O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, caracterizou uma redução da ajuda da Alemanha à Ucrânia como "muito preocupante" e "uma má notícia.
"Em termos absolutos, a Alemanha está a fazer um enorme esforço" para ajudar a Ucrânia a responder à invasão russa, que se iniciou em fevereiro de 2002, segundo Borrell, que hoje encerrou o curso, que dirigiu, "Quo Vadis Europa XII. A Europa entre guerras e eleições", Universidade Internacional Menéndez Pelayo (UIMP), na cidade espanhola de Santander.
Assim, uma redução da ajuda de Berlim será "muito preocupante" e "são más notícias", resumiu o alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.
Na segunda-feira, o chanceler alemão, Olaf Scholz, garantiu que a Alemanha "é e continuará a ser o principal apoiante da Ucrânia na Europa", apesar dos cortes orçamentais previstos para 2025.
Segundo maior contribuinte para o esforço de guerra ucraniano, a seguir aos Estados Unidos, o Governo alemão enfrenta cortes orçamentais num contexto de braço de ferro entre os três partidos da coligação e decidiu reduzir para metade, no próximo ano, o montante que disponibilizará para ajuda militar bilateral a Kiev.
No passado fim de semana, vários órgãos de comunicação social alemães noticiaram que o Governo, sob pressão do Ministério das Finanças, excluía qualquer apoio orçamental adicional a Kiev, além do já definido, o que suscitou ferozes críticas até do partido social-democrata do chanceler.
Assim, no início da semana, Scholz garantiu a continuidade do apoio.
"Com o crédito no valor de 50 mil milhões de euros que estamos a criar com o G7 [grupo das sete maiores economias do mundo] (...)tal permitirá à Ucrânia adquirir armas em grandes quantidades", escreveu na rede social X (antigo Twitter).
Para compensar os seus cortes orçamentais, Berlim conta conceder a Kiev um empréstimo de 50 mil milhões de euros, garantido pelos juros futuros dos bens russos congelados. Este novo instrumento financeiro foi acordado pelos países do G7 na sua cimeira de junho, em Itália.
Também hoje Borrell afirmou o receio sobre a possibilidade de a Ucrânia passar "muito mal" durante o próximo inverno devido ao frio e ao facto de a Rússia ter destruído "praticamente 70%" dos seus sistemas de produção de eletricidade, ao mesmo tempo que defende que não se deve falar de ameaças nucleares.
"Quanto menos falarmos delas, melhor", afirmou o responsável em resposta a questões sobre ataques a centrais nucleares no âmbito do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Para o chefe da diplomacia dos europeus, "este inverno, a Ucrânia pode passar um mau bocado, porque faz muito frio na Ucrânia e os russos destruíram praticamente 70% dos seus sistemas de produção de eletricidade".
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.
As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território.